"Imortal" Rachel de Queiroz |
“NESTA ELEIÇÃO VAMOS VOTAR DIREITO, DNA.
RACHEL...”
A grande e inesquecível escritora RACHEL DE
QUEIROZ, “imortal” ocupante da Cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras
desde sua eleição em 1977 até sua morte em 2003, escreveu um texto sob o título
VOTAR, o qual eu
transcrevo para vocês, leitores e leitoras, no contexto da eleição que se
aproxima daqui há uma semana, no dia 7 de Outubro de 2012. Espero que o texto
lhes seja útil, leitores e leitoras, para exercer o ato mais importante de um(a)
cidadão(ã) em uma Democracia: a escolha de seus representantes no poder
público. A autora e o conteúdo dispensam mais comentários, portanto vamos ao
texto... Leiam com cuidado, e releiam com ainda mais cuidado... Aprendam, e Aproveitem!: VOTAR - Não sei se vocês têm meditado
como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama
govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de
tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais
do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu
sentido mais literal: govêrno do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar
representa o ato de FAZER O GOVÊRNO. Pelo voto não se serve a um amigo, não se
combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz
uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível,
o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo
de tempo. Escolhem-se pelo voto
aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão
profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos
pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete
palmos de terra da derradeira moradia. Escolhemos igualmente pelo voto aquêles
que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a
quantidade dêsses impostos. Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”.
Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de
sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso. E, por falar em
dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aquêles que vão receber, guardar e gerir
a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o
dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos
seus escolhidos. Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo
que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Êles desandam a emitir
sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o
que ontem valia mil, hoje não vale mais zero. Não preciso explicar muito êste
capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa
fome o que é ter moedeiros falsos no poder. Escolhem-se nas eleições
aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a
existência de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna
de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder
executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a
aviação, as polícias. E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um
voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem
tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável,
parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio -
lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem
remunerado. Vão lhes entregar um poder
enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles
comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência
às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos
representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar,
como se nós próprios fôssem. Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras,
canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa
mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se
virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o
seu amo e criador. Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é
assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e
meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se
estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim,
briga-se com ela, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é
ruim, êle é quem briga conosco, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço
de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a
gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e
fogo. E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo
é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com
alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle
candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa
arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o
voto é secreto. Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não,
diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se,
do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de
que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra
dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a
consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”. Esse texto foi publicado por
Rachel de Queiroz na revista “O Cruzeiro” de 11 de Janeiro de 1947... são
portanto 65 anos desde sua publicação! Vocês acham, leitores e leitoras, que o
conteúdo ainda se aplica nos dias de hoje, principalmente levando em conta os
descalabros dos últimos 10 anos neste nosso ETERNO país do futuro...? Vocês
pensem bem e com carinho no que irão fazer em 7 de Outubro próximo... afinal, o
país é de todos nós, e um Brasil melhor só advirá quando seus cidadãos, bem
informados, souberem eleger representantes DIGNOS, SÉRIOS, HONESTOS, ÉTICOS, e COMPETENTES.
Para começar, falando em informação, vai aqui uma fonte que poderá ajudá-los: www.politicos.org.br . Boa semana de
preparação para exercer o direito mais importante de um(a) cidadão(ã) a todos
vocês, leitores e leitoras!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor
universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 37/2012 – Jornal da Região
– ANO XIX, No 993 - 28/09/2012).
O texto da Dna. Rachel e FANTASTICO, sem tirar nem por... Meus agradecimentos a todos que postarem comentarios aqui no blog.
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