"O RIO DE JANEIRO CONTINUA
LINDO..."
Vocês, meus leitores e leitoras, que
me acompanham nestes meus PENSAMENTOS semanais, sabem que eu sou um critico
ferrenho da administração que tomou conta de Brasília desde 2002. Faço o que
todo Brasileiro que se preza deveria fazer: exigir competência e lisura de um
govêrno fundamentalmente incompetente e corrupto. Faço isso também por ter sido
acostumado também à competitividade de um pujante São Paulo como Paulista e
Paulistano que sou, enfatizada pela competitividade extrema de um líder Estados
Unidos como Americano que também sou, tudo isso polido pela política de um
sábio Minas Gerais, que me adotou nos últimos dez anos.
Nas últimas tres
semanas comentei sobre as recentes manifestações populares iniciadas na séria e
competitiva São Paulo, deixando transparecer um pouco do desdém bem carioca dos
manifestantes da cidade maravilhosa. Por tudo descrito, não é fácil ao Paulista
(principalmente ao Paulista Americano Mineiro…) entender o Carioca, mas é
preciso fazê-lo se se quer entender como os Brasileiros como um todo reagem às
mazelas que afligem o seu país. Aí uma amiga Carioca fanática que mora em BH me enviou
um texto escrito por um Paulista que, acho, nos ajuda bastante na tarefa. Aí
vai:
"E
então eu parei o carro, puxei o freio de mão e pensei: “Cheguei em casa”. Faz 1
ano. Desembarquei com esposa, cachorro e umas malas. A mudança veio no dia
seguinte. Levei 33 anos imaginando “como seria”, e agora tenho 1 pra contar
“como foi”. O Rio de Janeiro é a minha Paris. Eu não sonho com a tal de torre,
nem me importo com o Louvre e nem acho do cacete tomar café naquela tal de
Champs-Élysées. Eu acho charmoso ir a praia de Copacabana, tomar cerveja de
chinelo no leblon e ir a um samba numa grande escola.
Sou paulista, nunca tive
rivalidade bairrista em casa. Nunca me ensinaram a odiar o estado vizinho, ao
contrário, sempre me foi dada a idéia de que estando no Brasil, estou em casa. Ouvi
mil mentiras e outras mil verdades sobre o Rio enquanto morei em São Paulo.
Todas justas no final das contas. Carioca exagera tudo, pra baixo e pra cima.
Se elogiar a praia, ele exalta dizendo que é “a melhor praia do mundo”. Se
falar que é perigoso, ele não nega. Diz que é “perigoso pra dedéu”. Trata sua
cidade como filho. Só ele pode falar mal. Cariocas não marcam encontro.
Simplesmente se encontram. A confirmação de um convite aqui não quer dizer
nada. Você sugere “Vamos?”, eles dizem “Vamo!”. O que não implica em ter
aceitado a sugestão.
Hora marcada no Rio é “por volta de”. Domingo é domingo. E
relaxa, irmão. Pra que a pressa? Em 5 minutos são amigos de infância, no
segundo encontro te abraçam e já te colocam apelidos. Não te levam pra casa. Te
convidam pra rua. É curioso. Mas é que a “rua” aqui é tão linda que se trancar
em casa é desperdício. Cariocas andam de chinelo e não se julgam por isso. São
livres, desprovidos de qualquer senso de sofisticação. Ao contrário, parecem se
sentir mal num ambiente formal e de algum requinte.
“Porra” é um termo que abre
toda e qualquer frase na cidade. Ainda vou a uma Igreja conferir, mas desconfio
que até missa comece com “Porra, Pai nosso que estais…”. Cariocas são pouco
competitivos. Eu acho isso maravilhoso, afinal, venho da terra mais competitiva
do país. E confesso: competir o tempo todo cansa. Acho graça quando eles
defendem o clube rival pelo mero orgulho de dizer que “o futebol do Rio” vai
bem. Eles nem notam, mas as vezes se protegem. Eles amam essa porra. É
impressionante.
Carioca é o povo mais brasileiro que há, mas que é tão
orgulhoso do que é que nem parece brasileiro. Tem um sorriso gostoso, um ar
arrogante de quem “se garante”. Papudos, malandros, invocados. Faaaaalam pra
cacete. E sabem que estão exagerando. Eles acham que sabem o que é frio.
Imagine, fazem fondue com 20 graus! A Barra é longe. Buzios, logo ali! Niterói
é um pedaço do Rio que eles não contam pra turista. Só eles aproveitam. Nilópolis
é longe. Bangu também. Madureira é um bairro gostoso. O Leblon, vale os 22 mil
por metro quadrado sugeridos pelos corretores. Aliás, corretores no Rio são bem
irritantes.
Carioca, num geral, acha que está te fazendo um favor mesmo se
estiver trabalhando. É tudo absolutamente pessoal, informal. Se ele gostar de
você, te atende bem. Se não, não. Tá com pressa? Vai se irritar. Eles não tem
pressa pra nada. Sabe aquela garota gostosa que sabe que é gostosa? Cariocas
sabem onde moram. O bairrismo deles é único. Nem separatista, nem coitadinho.
Apenas orgulhoso. Ao invés de odiar um estado vizinho, o sacaneiam e se matam
de rir de quem se ofende.
Cariocas tem vocação pra ser feliz. São tradicionais,
não gostam que o mundo evolua. Um novo prédio no lugar daquele casarão antigo
não é visto como progresso, mas sim com saudades. São folgados. Juram ser o
povo mais sortudo do mundo. E quem vai dizer que não? No Rio você vira até mais
religioso. Aquele Cristo te olha todo santo dia, de braços abertos. Não dá!
Você começa a gostar do cara… E aí vem a sexta-feira e o dom de mudar o
ambiente sem mexer em nada. O Rio que trabalha vira uma cidade de férias. As
roupas somem, aparecem os sorrisos a toa, o sol, o futebol, o samba, o Rio.
Já
ouvi um cara me dizer um dia que o “Rio é uma mentira bem contada pela mídia”.
Ele era paulista, odiava o Rio, jamais tinha vindo até aqui. E é um cara
esperto. Se você não gosta do Rio de Janeiro, fique longe dele. É a única
maneira de manter sua opinião. Em quase toda grande cidade que vou noto uma
força extrema para fazer o turista se sentir em casa. Um italiano em São Paulo
está na Itália dependendo de onde for. Um japones, idem. Um argentino vai a
restaurantes e ambientes argentinos em qualquer grande cidade. No Rio de
Janeiro ninguém te dá o que você já tem. Aqui, ou você vira “carioca”, ou vai
perder muito tempo procurando um pedaço da sua terra por aqui.
Não é verdade
que são preconceituosos. É preciso entender que o carioca não se diz carioca
por nascer aqui. Carioca é um perfil. Renato, o gaúcho, é um dos caras mais
cariocas do mundo. Tem todo um ritual, um jeitinho de se aproximar. Chame o
garçom pelo nome, os colegas de “irmão”. Sorria, abrace quando encontrar.
Aceite o convite, mesmo que você não vá. Faça planos para amanhã, esqueça-os 10
minutos depois.
Faça amigos, o máximo de amigos que conseguir. Quanto mais
amigos, mais cerveja, mais risadas, mais churrascos, mais carioca você fica. E
quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio. Como eles. Gosto deles. Gosto
de olhar pra frente e não ver onde acaba. Gosto de sol, de abraço, de rir muito
alto e de não me achar um merda por estar sem grana. Gosto de como eles se
viram. Gosto da simplicidade e da informalidade que os aproxima do amadorismo. A
vida não tem que ser profissional. Tem que ser gostosa. E de gostosa,
convenhamos, o Rio tá cheio. Ops! Desculpa, amor! Escapou.”
Pois é… o Rio
de Janeiro continua lindo… Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao,
professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 25/2013 – Jornal da Região – ANO XX, No 1037 – 09/08/2013).
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