Nas últimas semanas o noticiário internacional tem se ocupado com a inquietação civil no Norte da África e a perspectiva de uma onda de reverberação pelos regimes autoritários do Oriente Médio. A região lá há muitos anos é um conhecido “estopim” de conflitos inquietantes, e para aqueles chegados em uma teoriazinha de conspirações, e crédulos o suficiente em predições esotéricas, é naquela região que se dará o gatilho do próximo conflito mundial, o tal de “Armaggedon”, aquele do qual ninguém sairá vivo, o fim da raça humana como hoje a conhecemos. Bem... devagar com o andor que o santo é de barro! Aterrisando da nuvem 13, e colocando os pés firmemente no chão, deixando para lá as teorias de conspirações e as predições esotéricas, uma análise fria das situações do Egito e da Líbia mostram o que acontece desde que o mundo é mundo, quando povos cujos níveis altos de ignorância os colocam à mercê de fundamentalismos religiosos e de ditadores déspotas que os mantém “na linha” com u´a mão de ferro. Esta última afirmação deve levantar algumas sobrancelhas: os Líbios a gente não conhece muito bem, mas os Egípcios... OS EGÍPCIOS... berço de uma cultura milenar tida como fonte do conhecimento humano! “Chama-los de ignorantes só pode ser ignorância do autor”. Talvez, mas eu sou mesmo espartano sobre níveis de ignorância: Para mim, culturas que aceitam que seus jovens (as famílias os VENDEM para esse fim!) sofram uma lavagem cerebral nas mãos dos tais fundamentalistas religiosos a ponto de se imolarem como bombas humanas em nome de uma tal guerra santa, que inclui como recompensa 72 virgens na próxima vida só pode ter alguns parafusos a menos. São, sim, ignorantes! Quem faz esse tipo de coisa, só pode ser ignorante, pois nega o objetivo principal da nossa participação na evolução da raça, ou seja, manter a nossa marca indelével na sopa genética da espécie. Os “malandros” lá obliteram sua marca por conta de uma guerra santa... santa ignorância, isso sim. E aí por cima disso tudo vem um velado anti-americanismo bem brasileiro – justiça seja feita, não somente brasileiro, mas muito comum nestas paragens tropicais – que reza que tudo de ruim que acontece no mundo é culpa dos Estados Unidos. Eu comparo isso à síndrome do primeiro lugar, ou seja, ao que vai pela cabeça dos torcedores de todos os times de um campeonato de futebol, com exceção do que está em primeiro lugar na tabela: tudo que se pensa tem o contexto de derrubar o time que está em primeiro lugar. O fato das intervenções no Afeganistão, no Iraque, o apoio irredutível, inclusive militar, a Israel, tudo isso figura na mente de muitos como causa! Causa?! Ou conseqüência? São santos os americanos? É claro que não. Será que há um certo interesse dos americanos nos BILHÕES de barris de petróleo sobre os quais estão “sentados” os povos lá do Oriente Médio? Será...? Mas é claro! O petróleo é a mola mestra da indústria de qualquer país, que dirá daquele cujo nível de industrialização supera a de qualquer outro (síndrome do primeiro lugar em ação). Incidentalmente, se você, leitor, pensava que o grosso da dependência do petróleo era representado pelos combustíveis de veículos, ledo engano; isso é café pequeno comparado com os combustíveis que tocam as máquinas industriais. Falta ainda mais uma perninha para que esse banquinho da conspiração fique em pé: os saudosistas anti-tecnológicos. Aqueles que acham que essas mazelas sociais líbias, egípcias, e outras que tais, são todas culpa das tecnologias de computação e comunicações. Esses computadores, Iphones, Ipads, a Internet, e outros I´s... todos “ferramentas do demônio”, o mal embutido, e disfarçado de modernismo. Não esqueçamos de que, como eu comentei em um dos meus artigos recentes da série “OS ÚLTIMOS 60 ANOS...” (vejam no meu blog www.pensamentoscs.blogspot.com ) , graças a essas tecnologias, a raça humana progrediu em termos de distribuição e acesso à informação mais nesses 60 anos do que EM TODA SUA HISTÓRIA ANTERIOR!! Mas não, os saudosistas anti-tecnológicos, aqueles que pensam que bom mesmo era quando brincávamos com brinquedinhos de madeira, só vêm nessas tecnologias ferramentas de opressão e controle nas mãos dos ditadores déspotas, só vêm o buraco do queijo. O queijo tem buracos? É claro, e os regimes opressores fazem uso deles, mas há muito mais queijo que buracos, e essas tecnologias representam infinitamente mais abertura e acesso aos povos oprimidos, do que controle aos governos opressores. Esquece-se que desde os primórdios, em todos os ramos de atividade humana, o controle da informação e de sua divulgação significa PODER. Isso não mudou até os dias de hoje. 60 anos são um milionésimo de segundo na escala evolutiva, e um pulo imenso na escala tecnológica (“A Singularidade está Próxima” – Ray Kurzweil). O uso da Internet nas rebeliões atuais no Norte da África e as tentativas fracassadas de impedir repressivamente esse uso são prova viva do que eu estou falando. E a direção inexorável e inquestionável dessa transição se dá no sentido da democracia, a tecnologia causa abertura, e não fechamento. Transições são árduas, têm custo, mas o crescimento se dá organicamente, vem de dentro e não de fora, pela informação e conseqüente diminuição do nível de ignorância da população. Nós, brasileiros, faríamos melhor se, antes de criticarmos outras culturas, olhássemos um pouco para o nosso próprio rabo, pois estamos navegando perigosamente nessas águas turbulentas. O fundamentalismo religioso está crescendo assustadoramente no Brasil. Não acreditam em mim? Olhem em sua volta. E o nível de ignorância da nossa população está pela hora da morte. Um colega engenheiro me confidenciou no último fim-de-semana que candidatos diplomados engenheiros competindo para uma posição em sua firma mostraram dificuldade em calcular a área de um quadrado. A porcentagem de aprovação de advogados diplomados nos exames da OAB fala por si só. Há uma quantidade crescente de médicos diplomados que não conseguem nem admissão para uma residência séria. Líderes de comércio e indústria em reunião recente de uma associação de classe comentavam que a barreira maior para formação de um time de marketing e vendas era achar candidatos que soubessem FALAR e ESCREVER. A massificação do nosso ensino se preocupa com as quantidades, e não qualidades, de formandos. Isso é mortal para o nível de educação da população, pré-requisito necessário para o sucesso de governos opressores. Nunca se esqueçam da máxima: “Só é montado quem se deixa montar!”
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 09/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 913 – 04/03/2011). www.pensamentoscs.blogspot.com
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