Na semana passada conclui esta coluna afirmando que “um país nada mais é do que o trabalho integrado e competente de seus cidadãos”. Nesse contexto, tivemos no último fim de semana um exemplo vivo de um povo e um país que entende perfeitamente essa afirmação, e considera sua infraestrutura de educação e ensino como um pilar principal de liderança na aldeia global. Acostumados nos últimos oito anos a um presidente viajor que tinha suas paradas em terras distantes caracterizadas mais por suas gafes do que por suas conquistas, tivemos o privilégio de observar em ação no nosso território nacional um presidente que merece o título, na pessoa de Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos. Em seu discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Presidente Obama foi o político hábil que é. Abriu o discurso com algumas palavras em Português, e logo “quebrou o gelo” com uma piada futebolística, “aquecendo” a audiência para ouvi-lo. Mostrou que fez sua “lição de casa” no que diz respeito à história recente do país que visitou, e da presidente recém-eleita que era sua anfitriã. Falou dos ideais democráticos do povo americano, evidenciou a importância de um trabalho conjunto entre nossos povos para uma América mais forte (não do Norte, nem Latina, mas simplesmente América), reforçou a necessidade de uma avenida forte de comércio justo entre nossas fortes economias, e encantou a todos com seu carisma. Barack Obama é doutor em advocacia pela Universidade de Harvard, uma das mais respeitadas instituições de ensino do mundo; foi editor-chefe da “Harvard Law Review”, publicação de referência obrigatória na advocacia americana. Sua competência não deve surpreender a ninguém. Na semana passada, falando aos corpos dicente e docente de uma escola de ensino médio no estado da Virgínia nos Estados Unidos, êle enfatizou o comprometimento inabalável do governo americano à educação básica e superior de seu povo, reconhecendo ser esse o fator fundamental e primordial da liderança exercida pelo país nos últimos 60 anos. Confesso que considerei colocar o título da coluna desta semana no plural, pensando na Presidente Rousseff, economista pela UFRGS. Não o fiz por ser ainda muito cedo na sua administração para saber se ela merece o título. Estou, no entanto, disposto a dar-lhe o benefício da dúvida, reconhecendo a enormidade do seu desafio. Em seu discurso de boas vindas ao Presidente Obama ela foi bem, enfatizou a importância da colaboração na educação e inovação, e “cutucou” aspectos històricamente não tão justos da avenida comercial entre os dois países. Seu desafio maior para aquela colaboração reside em formar brasileiros(as) que possam interagir de igual para igual com suas contrapartidas americanas, ou pelo menos estejam CAPACITADOS A APRENDER com quem vem liderando o ensino e a pesquisa por boa parte do último século. Já comentei aqui no passado que as políticas assistencialista e educacional atuais do governo equivalem a criar gerações de incompetentes preguiçosos. Não é por aí que vamos chegar a colaborar de igual para igual, ou até ENSINAR os americanos. Com relação à política educacional é preciso investir com o propósito básico e honesto de aumentar o nível de educação do povo, o que hoje não acontece. Com relação à política assistencialista, é preciso alinhar o sucesso com a competência e o resultado, e não com a esperteza e a malandragem. Transcrevo a seguir um texto que recebi esta semana do meu amigo eletrônico José Roberto de Amorim (www.quintaldospoetas.com) que exemplifica bem quão íngreme é essa rampa para a Presidente Rousseff: O AQUÁRIO DE BRASÍLIA - “Em Brasília tudo é muito diferente. Coisas incríveis acontecem lá. Nunca subestimei os limites da insensatez com que as coisas acontecem na capital federal. Agora mesmo fiquei sabendo de uma coisa absolutamente inacreditável: na Biblioteca Nacional de Brasília é proibido ler os livros, tantos os supostamente destinados à consulta quanto os supostamente destinados a empréstimo domiciliar. Toda biblioteca tem seções de acesso restrito, por exemplo, coleções de livros raros; mas na Biblioteca Nacional de Brasília a coisa é muito mais radical. Os livros todos, sem distinção de qualquer espécie, estão perfilados em estantes guarnecidas por proteções de vidro instransponíveis. Em qualquer lugar do mundo bibliotecas são instituições destinadas a promover um encontro entre livros e leitores, quer dizer, pessoas que lêem os ditos cujos livros. Em Brasília não. Os livros estão expostos atrás de vitrines translúcidas e inacessíveis. Podem ser vistos à distância, admirados pela beleza das capas novinhas; mas não podem ser lidos. São como peixes num aquário, belos e mudos. A direção da biblioteca tem uma explicação para a inusitada situação lítero-ictiológica. Diz que, enquanto não for instalado um sistema de sensores, os livros não poderão ser acessados. Temem que os mesmos sejam furtados. É comovente tamanho cuidado com essas coisas, afinal, preciosíssimas. Mas, convenhamos, livros são escritos e editados para serem lidos. O resto é conseqüência, inclusive rabiscar páginas, arrancar folhas, fotocopiar, pegar emprestado e não devolver. Está certo que em Brasília a prática de furtos tem caráter epidêmico. Mas, até nesse aspecto, há um exagero na medida. Mesmo porque, a epidemia que açoita lá está focada em furtos acima do milhão. Com certeza não há nenhuma quadrilha interessada em furtar livros na biblioteca. Aliás, a tal biblioteca custou quarenta milhões de reais. Aliás, os tais sensores não foram comprados ainda porque houve irregularidades na licitação. O acervo da biblioteca tem cerca de cem mil volumes que, a preço médio de mercado, teriam custado cerca de cinco milhões de reais. Os outros trinta e cinco milhões foram gastos para acomodar condignamente os cem mil volumes, literalmente imprestáveis. Não sei quantas bibliotecas no mundo inteiro possuem os tais sensores que, em Brasília, são indispensáveis para que a Biblioteca Nacional de lá cumpra o seu papel elementar de disponibilizar livros para serem lidos. Mas não tenho dúvidas de que pouquíssimas bibliotecas possuem esses equipamentos. Desconheço histórias de bibliotecas que tiveram que fechar porque leitores larápios lhes dilapidaram o acervo. Ao contrário, bibliotecas existem há séculos e há séculos cumprem o seu papel de colocar o conhecimento ao alcance de quantos se interessem por ele. Qualquer bibliotecário sabe que o maior problema com o acervo das bibliotecas não é o furto e sim a conservação dos livros. E aí aqueles modestos desumidificadores são muito mais úteis do que sensores anti-furto. Seja como for, livros são para serem lidos e ponto final. Para encerrar esse bizarro comentário, confesso meu receio de que, mesmo depois que os sensores forem adquiridos e instalados (provavelmente a preços superfaturados), a biblioteca continue sem condições de oferecer seus livros à leitura. Isso porque, conforme informação da própria biblioteca, somente 10% do acervo já está catalogado. Se é assim, a grande maioria dos livros ainda não pode ser sequer localizada nas estantes. Ou seja, parece que não há solução de curto prazo. Será que em Brasília está sendo implantado o primeiro aquário de livros do mundo?”. Espero daqui há 4 anos poder escrever uma coluna sobre a Presidente Rousseff no topo da rampa, com o mesmo título desta.
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 11/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 915 – 25/03/2011). www.pensamentoscs.blogspot.com
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