Ministra Carmem Lucia "...Caixa Dois é crime!..." |
Ministra Rosa Weber “Não existe corrompido sem corruptor...” |
Ministro Luiz Fux “Essa é a lavagem mais deslavada que já vi...” |
Ministro Gilmar Mendes "...como nós descemos na escala das degradações” |
Ministro Marco Aurelio Mello “No Brasil há essa prática: de nada se saber..." |
Ministro Joaquim Barbosa "...o torpe pretende aproveitar-se da própria torpeza” |
Ministro Celso de Mello “Estamos a tratar de uma grande organização criminosa.." |
Ministro Cezar Peluso "Ninguém precisa fazer prova de que Brasília é no Brasil” |
Ministro Carlos Ayres Britto “A corrupção é o cupim da República...” |
Plenario do Supremo Tribunal Federal |
“JULGAMENTO DO MENSALÃO: ORGULHO PARA TODOS
OS BRASILEIROS”
Na
semana passada eu escrevi nesta coluna que o mensalão é uma vergonha mundial
para todos os Brasileiros, e apresentei como prova manchetes internacionais que
evidenciavam o nível das 38 personalidades que foram indiciados como réus pela
participação no escândalo que ficou conhecido como mensalão. De fato, uma
VERGONHA! Recebi, no entanto, uma reação interessante e inesperada através de
comentários de leitores meus de Belo Horizonte. Nesses comentários, eles
indagavam como que eu considerava uma vergonha essa página da política
brasileira que deu origem a uma atuação áurea do STF – Supremo Tribunal
Federal, personalizada nas ações do Ministro Joaquim Barbosa. Julguei, então,
por bem esclarecer nesta semana essa questão, caso ela tenha também ocorrido a
leitores que não se manifestaram. Uma rápida análise em todas as manchetes
internacionais citadas na semana passada mostra que todas foram publicadas no
início de Agosto, quando o julgamento do mensalão estava apenas começando,
portanto tanto elas como eu focamos o crime, e os seus perpetradores, membros
do alto escalão da política federal brasileira. Sem dúvida uma VERGONHA, como
tem sido largamente noticiado desde a divulgação do escândalo há sete anos
atrás em 2005. No foco da coluna, a atuação do STF, e as ações ilibadas do
Ministro Joaquim Barbosa nesse julgamento ainda estavam por acontecer,
culminando nas condenações proferidas, inclusive e principalmente de um
ex-Ministro de Estado, e dos mandantes mais altos do Partido dos Trabalhadores
quando as transgressões sendo julgadas ocorreram. Motivo de VERGONHA o crime. Motivo
de ORGULHO o julgamento do crime e as condenações! Mas, se a postura do
Ministro Joaquim Barbosa é motivo sòmente de orgulho para o nosso povo,
infelizmente o mesmo não se pode dizer do julgamento em si. Há um pouco da
vergonha no processo, nas pessoas de alguns Ministros do STF que, comprometidos
com a política coronelista de favores, usaram de sua toga para tentar retardar
os procedimentos de modo a que o período de tempo decorrido fizesse com que as
condenações se tornassem impossíveis. Realmente uma vergonha que tais Ministros
esqueçam a responsabilidade da toga que usam e a interpretem como parte de uma troca
de favores. Mas na sua maioria o STF está de PARABÉNS por uma atuação realmente
áurea, que está sendo cantada aos quatro ventos como um renascimento do estado
democrático de direito no Brasil. Chama a atenção, no entanto, quão sedento
está o nosso Brasil de um pouco de justiça que funciona... afinal das contas, o
STF e o Ministro Joaquim Barbosa, que está sendo comparado a um super-herói,
estão apenas e tão sòmente cumprindo com suas obrigações, aplicando as leis
brasileiras e fazendo-as valer independente de quem são os réus indiciados em
suas transgressões. Mas na terra da impunidade, onde, para usar o jargão
popular, tudo “acaba em pizza” e rouba-se o erário público à vontade, o atual
julgamento do mensalão é benvindo. Na sua coluna de fundo da Revista VEJA desta
semana (edição 2291- ano 45 – no 42 – 17/10/2012), o
colunista Roberto Pompeu de Toledo faz a pergunta se esse renascimento do
estado democrático de direito é sustentável, ou seja, é legítimo esperar que a
justiça melhore depois desse julgamento? Não sei não... conversando com as
pessoas da cidade, noto que pouca gente sequer sabe que há um julgamento em
andamento. Pergunto aos meus alunos de nível colegial se sabem do julgamento, e
eles respondem que não sabem nem o que é o mensalão... concentram-se em
confirmar que sabem, sim, o que é essa desgraça que é o “jeitinho brasileiro”.
Acham “normal” oferecer propina aos guardas quando são pegos em infração, e
acham também “normal” os guardas aceitarem a propina por serem mal-remunerados!
Ou seja, estamos novamente batendo na tecla já gasta da (falta de) EDUCAÇÃO. O
tal “jeitinho brasileiro”, a impunidade, a falta de seriedade, estão
impregnados na cultura brasileira como uma mancha daquelas ruins, que não saem
nem com reza brava! A maior prova de como funciona o pensamento brasileiro
frente a esses assuntos de justiça aconteceu exatamente no julgamento do
mensalão quando o advogado Arnaldo Malheiros, apresentando à Corte a tese de
defesa do seu cliente Delúbio Soares, ex-tesoureiro do Partido dos
Trabalhadores e um dos 38 réus em julgamento, afirmou que seu cliente não
negava ter “operado no Caixa Dois”, e indagado pelos Ministros sobre o porque
dessa operação em Caixa Dois, acrescentou: “Ora, porque a origem do dinheiro
era ilícita”! A Ministra do STF Carmem Lúcia disse que nunca, em sua vida
profissional, vira alguém comparecer a um tribunal para confessar um crime, e
sugerir que sua prática é normal. Disse a Ministra: “O ilícito não é normal. Caixa Dois é crime, Caixa Dois é uma agressão
à sociedade brasileira. Fica parecendo que o ilícito no Brasil pode ser
praticado, confessado, e que tudo bem. Não está tudo bem!” É “normal” no
Brasil profissionais liberais e estabelecimentos comerciais perguntarem a seus
clientes se exigem recibo contra pagamentos... ou seja, eles também “operam um
Caixa Dois”... Prestem atenção ao que disse a Ministra, minha gente... “Caixa
Dois é crime!” Vale a pena concluir a coluna com os parágrafos finais do
Roberto Pompeu de Toledo, respondendo a sua própria pergunta: “A investigação que embasou o julgamento não
foi longe o suficiente para rastrear o destino final dos muitos milhões de
reais envolvidos no caso. Ficou nos líderes e presidentes de Partidos que
recebiam as quantias e não apurou a quem teriam sido redistribuídas. Não só
muita gente ficou de fora, como não se fixaram as bases para requerer a
devolução do dinheiro. Como NÃO “é normal” em episódios do gênero no Brasil, os
réus foram condenados; mas, como “é normal”, o dinheiro escapou. O caminho
aberto com as condenações do mensalão será sustentável, entre muitas outras
premissas, quando as condenações incluírem a devolução do dinheiro. Ou quando
os partidos se empenharem em coligações baseadas em programas e não em
fisiologia. Ou ainda quando, em seguida a um episódio como este, elegermos um
Congresso melhor. E será, pobres de nós, não quando cada um desses fatores se
impuserem isoladamente, mas quando todos ocorrerem simultaneamente! Árduo é o
percurso que ainda temos pela frente!!” Em relação ao julgamento do
mensalão, eis o que disseram alguns dos Ministros do STF: ROSA WEBER: “Não existe corrompido sem corruptor...”;
LUIZ FUX: “Essa é a lavagem mais
deslavada que já vi...”; GILMAR MENDES: “Fico
a imaginar como nós descemos na escala das degradações”; MARCO AURÉLIO
MELLO: “No Brasil há essa prática: de
nada se saber... Pelo menos nos últimos anos...”; JOAQUIM BARBOSA: “O exame dos fatos revela que o torpe pretende aproveitar-se da própria
torpeza...”; CELSO DE MELLO: “Estamos
a tratar de uma grande organização criminosa que se posiciona à sombra do
poder, formulando e implementando
medidas ilícitas, que tinham a finalidade, precisamente, da realização de um
projeto de poder...”; CEZAR PELUSO: “Os
fatos chamados públicos e notórios não precisam de prova. Ninguém precisa fazer
prova de que Brasília é no Brasil...”; e o Presidente do STF CARLOS AYRES
BRITTO: “A corrupção é o cupim da
República...”. Resta a nós continuar admirando-os como prova indelével de
que existem, sim, brasileiros competentes e honestos. Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 40/2012 – Jornal da Região – ANO XIX, No 996 - 19/10/2012).
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