“OS ÚLTIMOS 60 ANOS...” – Parte I
60 anos é a ordem de magnitude da minha idade. Frequentemente eu penso nas mudanças que eu já observei durante a minha vida. Diz-se que na segunda metade do século XX, para todos os efeitos nos últimos 60 anos, a humanidade avançou mais que em toda sua história anterior, e em nenhuma área do conhecimento isso é mais aparente do que nas áreas das comunicações e da computação, que constituem o meu campo de especialização. E na verdade, foi a junção dessas duas áreas lá pelo meio desse período áureo da, assim chamada, ERA DA INFORMAÇÃO, que foi o maior fator catalizador dessa aceleração vertiginosa que vem nos propulsionando como uma raça cada vez com mais alcance e menos barreiras neste nosso planeta azul. Como evidência disso hoje nos comunicamos com os quatro cantos do mundo através de um computador, até como se fosse um telefone, e temos telefones (chamados “inteligentes”) que são também computadores. Hoje consideramos o computador ferramenta obrigatória em uma mesa de trabalho, e a penetração desse aparelho nas residências ocorre no mundo inteiro com uma velocidade também vertiginosa, compatível com a sede de informação dos cérebros evolutivamente crescentes em puro tamanho e também em complexidade que equipam os membros da nossa espécie. Alinhado com outra escolha evolutiva, a de produzir a cria mais indefesa de todas as espécies vivas, e portanto dependente do período mais longo de criação, orientação e educação supervisionada por adultos, observamos que nossas crianças são expostas à informática cada vez mais cedo em suas vidas, ao ponto de hoje um adolescente não conseguir imaginar que um dia houve vida sem o computador e a Internet. Nós, sexagenários, sabemos que não é bem assim, e é interessante acompanhar, década a década, o caminho que percorremos nessa subida vertiginosa. No início do século XX, se desejássemos nos comunicar com alguém no Japão, precisaríamos de recursos para empreender uma viagem de vários meses, talvez anos, repleta de perigos e incertezas, e encontrar face-a-face com nosso interlocutor. O motivo da comunicação teria de ser válido pelo menos por todo o período da viagem, para justificá-la, além da esperança que nenhuma doença grave ou, Deus o livre, a morte, acometesse o nosso interlocutor ou nós durante a viagem. E se decidíssemos mandar o recado por outrem, poupando-nos o risco pessoal, teríamos de esperar o dobro do tempo (meses, anos...): a ida, e a volta da resposta. A primeira metade do século XX viu duas evoluções importantes: 1) a transmissão analógica de sons (por analógica entenda-se através de propriedades físicas da matéria, como por exemplo a condutividade do cobre), e por consequência a telefonia analógica, com a aposta de que todos nós não nos importaríamos em nos tornarmos, sem remuneração, operadores de um terminal simples com apenas os dez dígitos arábicos 0 a 9, que viríamos a conhecer por telefone, em troca de podermos transmitir os sons da nossa voz além de onde nossos gritos pudessem alcançar; e 2) a formulação matemática que tornou possível a computação digital (aqueles mesmos dígitos...), associada aos materiais que possibilitaram a construção dos primeiros computadores. A história prova que é nos meios militares, e principalmente nas guerras, que tecnologias dão saltos descontínuos de progresso, e a 2ª Guerra Mundial (décadas de 1930 e 1940) não foi exceção, tendo sido fundamental para a aprimoração da telefonia analógica para comunicação entre tropas e com os quartéis-generais, a aprimoração dos computadores digitais cuja primeira aplicação prática foi o cálculo de trajetórias balísticas, e o início dos conceitos de redes de comunicações entre computadores que viriam a formar a base topológica do que hoje é a Internet. Na década de 1950, a invenção do transistor nos laboratórios da AT&T (American Telephone & Telegraph) lançou a indústria de manufatura de computadores digitais em uma direção de miniaturização que persiste até hoje, e que teve um impacto social tremendo através da penetração dos computadores nas comunidades. A década de 1960 lançou o germe da junção catalizadora através da digitização fiel de representações analógicas, por técnicas de amostragem que permitiram a codificação em sequências de dígitos dessas representações, e a decodificação fiel dessas sequências ao sinal original, tornando então possível o uso de computadores digitais como veículos de transmissão de sinais tradicionalmente analógicos como os de telefonia (digitização da voz humana) e mais tarde de imagens, com o advento da fotografia digital comercial na década de 1990. As décadas de 1970 e 1980 trouxeram a liberação da DARPAnet militar americana para o que é hoje a Internet, e a congruência de todas essas tecnologias foi tão poderosa que nessas mesmas décadas a AT&T foi esfacelada juridicamente em pequenas companias para evitar o risco de um monopólio na área de comunicações. Não percam a Parte II, na semana que vem, com exemplos do impacto dessa evolução incrível no período diminuto de uma vida humana, oriundos da minha carreira profissional.
(PENSAMENTOS) No 47/2010 – Jornal da Região – ANO XVII, No 899 – 26/11/2010).
Nenhum comentário:
Postar um comentário