Na semana passada descrevi em pinceladas grossas a evolução congruente das áreas de comunicação e computação durante pràticamente a segunda metade do século XX, culminando com a ERA DA INFORMAÇÃO que observamos hoje no mundo. O contexto daquela descrição teve duas dimensões principais: 1) A exposição cada vez mais precoce dos nossos jovens à base tecnológica que propulsiona essa realidade atual; e 2) A velocidade com que esse passo evolutivo ocorreu, repetindo que nestes últimos 60 anos a raça humana evoluiu mais em termos de conhecimento do que em todo o resto de sua história. Prometi a vocês esta Parte II, com exemplos de como eu observei essa evolução vertiginosa de dentro da minha carreira profissional. Enquanto escrevo, pensando no número de exemplos e fases relevantes, acho que haverá uma Parte III, quem sabe Parte IV, nas semanas que se seguem. O objetivo não é despertar em vocês interesse na minha carreira, longe disso. O objetivo é reforçar o impacto do que eu descrevi na semana passada, e passo a exemplificar nesta, no ínfimo período, principalmente em termos evolutivos, da carreira profissional de uma pessoa, ou seja, +/- 40 anos. Uma ressalva antes de começarmos: a linha temporal usada na semana passada se referiu à evolução da tecnologia nos Estados Unidos; os primeiros exemplos da minha carreira ocorreram no Brasil na década de 1970, portanto faz-se necessária uma correção de status tecnológico, que naquela época era de aproximadamente 20 anos. Iniciamos nossa jornada em 1970, nos bancos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde eu cursava o 4º ano do currículo de Engenharia Naval. Não se usava computadores no curso, e os cálculos de suporte para confeccionar um Plano de Linhas, um desenho técnico mostrando as formas de um casco de navio, eram feitos usando calculadoras mecânicas (engrenagens, eixos, e manivelas) chamadas FACIT C1-13. Os sexagenários, como eu, talvez lembrem dessa engenhoca; se não, “Google” a frase “calculadora FACIT” e vocês poderão ver uma na tela do seu computador (olhem onde chegamos...). Naquele mesmo ano de 1970, um navio japonês que corria o mundo com uma feira da indústria eletrônica japonesa a bordo atracou no porto de Santos, e nós, estudantes de engenharia, ganhamos ingressos para visitá-lo. Foi nessa visita que, pela primeira vez, eu vi um diodo iluminar em um visor o número teclado em uma máquina calculadora. O nome “computador digital” significava apenas uma gigantesca calculadora (manipuladora de dígitos), e para mim especìficamente uma esperança de usar um que estava sendo instalado no Instituto de Física da USP, antes de me formar no ano seguinte (1971). Sim, porque não pensem que obter um computador naquela época era como é hoje, que se vai a uma loja e compra-se um, que pode ser ligado e usado imediatamente na sua sala de visita, ou no seu quarto. Para começar, tal iniciativa não era compatível com o poder aquisitivo de indivíduos, mas sim de instituições. O raro indivíduo que possuisse esse poder aquisitivo muito provàvelmente não tomaria a iniciativa, desde que o uso e o entendimento do uso dessas máquinas era privilégio de uns poucos estudiosos, professores de áreas exatas do conhecimento humano, como a Matemática, a Física, a Química, e a Engenharia. Até o uso mais óbvio dessas máquinas nas áreas Financeira e Administrativa engatinhava no Brasil, e as exigências de infraestrutura eram definitivamente o ambiente de instituições, prédios especiais ou pelo menos áreas significativas de construção especializada, controle rígido de temperatura e umidade, sistemas de provisão contínua de energia elétrica, sistemas de segurança para acesso restrito, piso falso para acomodação de um emaranhado interminável de cabos de conexão entre unidades de processamento e memória temporária, unidades de memória permanente como discos rígidos e fitas magnéticas, e unidades de entrada e saída como leitoras de cartões perfurados e impressoras de formulários contínuos, cada uma dessas do tamanho de um belo armário de 4 portas, ou de uma geladeira, ou de uma máquina de lavar roupa! E tudo isso, para instalar e operar um computador que tinha um décimo, se tanto, do poder de processamento que você tem hoje naquele “notebook” que você compra na loja e usa na sua sala de visita, ou no seu quarto. Em 1971 chegamos a usar, de fato, o computador “mainframe” (os tais que necessitavam toda a infraestrutura descrita acima) do Instituto de Física, no que viria a ser o primeiro uso dessas máquinas no projeto estrutural de componentes de um navio no Brasil. Foi um projeto de formatura. O que queríamos que o computador fizesse era codificado em um conjunto de cartões perfurados que era enviado ao Instituto de Física, e alguns dias depois (eu disse DIAS!) vinha o resultado impresso em papel. Assim era o uso do computador em 1971 no Brasil. Hoje, em comparação, se passa mais de 5 segundos entre nossa entrada no teclado e a resposta na tela, achamos que há algo errado. Para continuar essa viagem incrível até os dias de hoje, não percam a Parte III na semana que vem!
. (PENSAMENTOS No 48/2010 – Jornal da Região – ANO XVII, No 900 – 03/12/2010).
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