Total de visualizações de página

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

“OS ÚLTIMOS 60 ANOS...” – Parte III

Parte III. Não vou gastar muito o verbo aqui sumarizando as Partes I e II. Se voce, leitor, está pegando o bonde andando e não as leu, escreva para mim (claudio.spiguel@gmail.com) e eu enviarei os textos a você, ou visite meu blog em http://www.pensamentoscs.blogspot.com/ (olhem onde chegamos...). Antes de retomarmos nossa jornada através das décadas, cabem alguns comentários històricamente relevantes sôbre o computador “mainframe” do Instituto de Física da USP, e o seu uso: 1) Não havia (no Brasil) ainda o conceito de rede; o computador “mainframe” era u’a máquina estanque, ou seja, não se comunicava com nenhum outro computador. Tudo acontecia dentro dela, da entrada de dados e dos comandos que diziam o que fazer com os dados (os tais cartões perfurados) à saída e impressão dos resultados em papel. 2) Cabe então a questão: por que toda essa excitação para usar o computador? Em outras palavras, por que uma instituição faria o investimento considerável para adquirir a máquina, e qual o atrativo para usá-la? Em poucas palavras, era algo chamado de capacidade de processamento, uma combinação de quantidade de instruções (o que fazer com os dados) com o tempo para executar cada instrução, ambos infinitamente superiores à capacidade comparável do cérebro humano. Para vocês terem uma idéia, uma medida comum dessa capacidade naquela época era o MIPS – MILHÕES de Instruções POR SEGUNDO!! O computador “mainframe” do Instituto de Física da USP era um IBM 360-44PS, e operava com uma capacidade da ordem de UM MIPS. Ou seja, para fazer o que a máquina fazia em um segundo, um de nós levaria anos e anos  a fio.  Por isso, o tempo de uso do computador era extremamente valioso, pois em pouco tempo (digamos, 15 minutos), êle prestava um serviço enorme, e sòmente um usuário por vez podia usá-lo. Dado o grande investimento para instalá-lo e operá-lo, e a enormidade e a exclusividade do serviço prestado, o minuto de uso comandava um custo altíssimo, viável também, regra geral, apenas a instituições, e não a indivíduos. No nosso caso, a Escola Politécnica contratava um certo tempo de uso do computador (horas), uma pequena parte do qual (minutos) era usado pelo Departamento de Engenharia Naval (nós), em um ou dois dias específicos da semana. Havia, portanto, uma preocupação muito grande em usar aqueles minutos da maneira mais efetiva possível, sem muita tolerância para erros nos dados ou nas instruções para o que fazer com os dados, desde que a próxima oportunidade para uso só viria depois de alguns dias, além do desperdício de recursos: o computador em si, e o alto custo do uso. Comparem isso com o uso que você, leitor, faz hoje de máquinas muito mais poderosas que aquela do Instituto de Física da USP em 1971, como esse “notebook”, ou computador pessoal, que fica no seu escritório, ou na sua sala de visita, ou no seu quarto, que você pode usar quando bem entender, e sem muita preocupação de desperdício de recursos além do seu próprio tempo em ter de repetir erros. Admito que o tipo de uso que estamos comparando é diferente, mas isso também faz parte dessa evolução tecnológica que estamos acompanhando ao longo dos últimos 60 anos, algo que tem a ver com a digitização das  transmissões analógicas, mencionada na Parte I desta série, a qual viabilizou o uso do computador como veículo de comunicação, além de uma simples calculadora gigante, e rapidíssima. 3) Isto me lembra que há outra característica relevante para expor a vocês antes de seguirmos viagem no tempo... a comunicação entre o homem e a máquina. Nos idos de 1971 no Brasil, lembrem-se, acessávamos essa tal calculadora gigante, e rapidíssima,  portanto nada mais justo que o fizéssemos para cálculos complicados, e portanto a linguagem que regia os tais cartões perfurados com os quais passávamos para a máquina os dados a serem manipulados e as instruções do que fazer com êles tinha a ver com a tradução de fórmulas matemáticas; condizentemente, a linguagem rígida (tolerância ZERO para erros) usada na perfuração dos cartões era chamada FORTRAN (“FORmula TRANslator” – TRAdutor de FÓRmulas). Anos mais tarde, na Universidade de Michigan nos Estados Unidos, eu voltei ainda mais no tempo, como veremos, na história da comunicação entre o homem e a máquina. Mas comparem tudo isso ao teclado, e ao “mouse” do seu computador de hoje. Mas tudo a seu tempo... parece que só retomaremos a viagem pròpriamente dita na Parte IV da semana que vem. Digo isso porque é necessário deixá-los com mais alguns pensamentos de pano de fundo, para podermos “viajar” juntos. Pensem no contexto do descrito nesta Parte III: a diferença MONUMENTAL de capacidade de tradução de fórmulas e manipulação de dígitos entre o computador “mainframe” e o cérebro humano. Ainda que fôssemos extremamente cuidadosos, fica claro que a capacidade da máquina era sub-utilizada, e a evolução se deu no sentido de melhor utilizá-la, dividindo toda aquela capacidade extra no sentido de torná-la acessível a vários usuários humanos ao mesmo tempo. Retomamos a viagem na Parte IV
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 49/2010 – Jornal da Região – ANO XVII, No 901 – 10/12/2010).

Nenhum comentário:

Postar um comentário