Lembro novamente aos leitores que não leram Partes I – IV, que vocês podem obtê-las escrevendo para mim (claudio.spiguel@gmail.com), ou visitando meu blog (www.pensamentoscs.blogspot.com). Naquela primeira visita à Universidade de Michigan em Ann Arbor, estado de Michigan, nos Estados Unidos em 1976, conheci detalhadamente o programa do Prof. Estabrook, que se chamava TAXIR (“TAXonomic Information Retrieval” – Recuperação de Informação TAXonômica). Esse programa era exatamente o que precisávamos para o banco de dados de recursos naturais brasileiros. O Prof. Estabrook (amigo até hoje...) o havia desenvolvido juntamente com um programador profissional, por nome Robert Brill (outro amigo...), que também estava se transferindo para Ann Arbor para trabalhar no Centro de Computação da Universidade de Michigan, tudo por conta do inovador programa TAXIR que ambos haviam recentemente publicado. TAXIR codificava a informação no processo de entrada (daí o requerimento de coleções estáticas, que não mudam com frequência uma vez estabelecidas) possibilitando um processo de saída, recuperação da informação, eficientíssimo! Era exatamente o que queríamos para computarizar a informação taxonômica descrevendo os recursos naturais brasileiros. A decisão de obter o programa TAXIR foi imediata, mas êle acabou se tornando apenas uma porta de entrada, um veículo para algo MUITO maior, o passo seguinte na evolução da tecnologia de computação no Brasil, com a introdução do conceito de “time-sharing”, ou seja, compartilhamento do tempo de uso do computador entre vários usuários, conforme necessidade evidenciada no artigo anterior desta série (ver Parte IV). Começava a engatinhar a POPULARIZAÇÃO, em paralelo com a PERSONALIZAÇÃO, do uso do computador. O que eu vi em Ann Arbor ia muito além do motivo que havia me levado lá. Visitando o Centro de Computação da Universidade vi pessoas usando o computador através de dispositivos chamados terminais, onde a comunicação entre o homem e a máquina se dava através de um teclado similar ao teclado de uma máquina de escrever (entrada) e uma tela de um tubo de raios catódicos, como uma tela de uma televisão, monocromática (caracteres de côr verde), que servia um objetivo duplo: 1) confirmava o que havia sido teclado pelo usuário repetindo a sequência de caracteres na tela antes dessa sequência ser enviada ao computador, com possibilidade de edição imediata; e 2) exibia a resposta do computador, quase que imediatamente! Além disso, vários usuários podiam fazer uso do computador através de vários desses terminais simultâneamente. Comparem isso ao uso do computador até então no Brasil, descrito nos artigos anteriores desta série, um usuário por vez, entrada por cartões perfurados, resposta alguns DIAS mais tarde, em papel. Era uma revolução. Michael T. Alexander, o pesquisador da IBM cedido à Universidade de Michigan havia usado sua experiência desenvolvendo o programa operacional VM (“Virtual Machine” – Máquina Virtual – ver Parte IV) para orientar o desenvolvimento do sistema operacional MTS – “Michigan Terminal System” – Sistema para Terminais de Michigan, que possibilitava o uso do computador através dos tais terminais descritos acima e por vários usuários simultaneamente, ao invés do esquema de uso tradicional ainda vigente, e único disponível no Brasil. Não que tal uso fosse exclusividade brasileira, mas sim porque se prestava muito bem ao uso do computador como aquela calculadora gigante (ver Partes II e III) em processamento de dados comerciais e financeiros, principalmente por bancos que eram os usuários principais naquela época. Esse tipo de processamento de dados se chamava de processamento em “batch” – conjunto, referindo-se ao conjunto de programas e dados representados em cartões perfurados que era carregado de uma vez para processamento do conjunto pelos computadores. Os bancos com seus processos em “batch” representavam o grosso da receita auferida pelos fabricantes de computadores como a IBM, e portanto a inovação do uso por terminais encontrava, como toda inovação, uma resistência pelo status-quo. Dentro da própria IBM, o engenheiro-chefe da arquitetura dos computadores 360 e os sucessores 370, George Amdahl, um visionário inovador, teve de sair da IBM para formar a “Amdahl Computers”, fabricando computadores pràticamente idênticos aos 370, mas com sistemas operacionais que viabilizavam o uso por terminais. O primeiro computador Amdahl foi instalado na Universidade de Michigan, e era operacionalizado através do sistema operacional MTS. Imediatamente propus à Universidade que juntamente com o TAXIR, trouxéssemos também ao Brasil o MTS, e foi assim, através desse projeto, que o conceito de “time-sharing” chegou pela primeira vez ao Brasil, em 1977. Em 26 de Dezembro de 1978 mudei-me para Ann Arbor. Era o Natal de 1978 como é agora Natal em 2010. Entraremos em 2011 com a Parte VI, onde entra na história a MINIATURIZAÇÃO, já em marcha nos Estados Unidos. FELIZ NATAL!!
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 51/2010 – Jornal da Região – ANO XVII, No 903 – 24/12/2010).
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