Parte VI: Lembro aos leitores que não leram Partes I – V, que vocês podem obtê-las escrevendo para mim (claudio.spiguel@gmail.com), ou visitando meu blog (www.pensamentoscs.blogspot.com). Antes de retomar a viagem a partir do comêço da minha carreira nos Estados Unidos (12/1978), vale a pena enfatizar as consequências do Programa FLORA (o tal banco de dados de recursos naturais a nível nacional) de 1976 a 1978. Trouxemos o MTS – Michigan Terminal System, com o programa TAXIR, para o Brasil em 1977. Com êle veio o conceito de “time-sharing”, primeiro sistema a incorporá-lo no Brasil. Ao chegarmos soubemos que a verba para “hardware” em qualquer solução havia sido negada pela então máquina de dizer NÃO do governo para importação de artigos de informática, a infame SEI – Secretária Especial de Informática. O time treinado em Ann Arbor para operação do sistema incluiu um técnico da EMBRAPA, que estava interessada no uso do Sistema TAXIR para montar um banco de características genéticas de sementes, e a EMBRAPA possuia um computador IBM 370, no qual podíamos adaptar o MTS pela similaridade com os computadores Amdahl, conforme descrito na Parte V. E assim foi feito, mas conforme dito anteriormente, havia uma resistência do status quo, a turma do processamento em “batch”, e o máximo que conseguimos foi uma hora de processamento na máquina durante a madrugada (2:30 às 3:30), horário ideal para pessoas casadas, como eu... J... Fizemos um contrato com o SERPRO para a digitação dos dados taxonômicos dos espécimes existentes nos herbários importantes dos Institutos de Botânica de São Paulo e do Rio de Janeiro, o INPA em Manaus, e o Museu Goeldi em Belem, e produção de fitas magnéticas com esses dados. Durante as madrugadas, com o MTS operando o IBM 370 da EMBRAPA, o programa TAXIR lia essas fitas e codificava o banco de dados tão almejado. E como não dispúnhamos de verba (maldita SEI!!) para terminais e conexões, produzíamos um Catálogo Semanal com TODOS os espécimes catalogados, e os distribuíamos pelo correio não só para as organizações de origem, mas também para muitas outras Universidades que desejavam referenciar, ou solicitar empréstimo de espécimes para determinados estudos ou pesquisas. Uma solução MUITO aquém das visionárias imaginadas no início do projeto, porém um passo gigantesco, segundo os próprios pesquisadores das áreas de Botânica e Zoologia, que antes só teriam acesso àquelas coleções se visitassem pessoalmente aquelas organizações, e mesmo assim, sem uma visão completa de todos os espécimes existentes em todas as coleções. Era também possível, pela primeira vez, submeter questões ao time do projeto buscando sub-conjuntos de espécimes obedecendo um determinado conjunto de característcas expressado em álgebra booleana, o que era, na verdade, a vantagem principal de ter os dados codificados pelo programa TAXIR; as respostas acompanhavam o próximo Catálogo Semanal. Foi, no entanto, a consequência não almejada que acabou marcando época na história da computação no Brasil. Consciente do progresso representado pelo conceito de “time-sharing”, contactamos os pesquisadores nas áreas de Física e Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também possuia um computador IBM 370, e quando êles se deram conta do que era possível fazer com o MTS operando o computador da Universidade para as suas pesquisas, êles levaram o sistema para lá, e essa foi a pedra fundamental do que hoje é o Instituto de Matemática Aplicada daquela Universidade, reconhecidamente uma das mais prolíficas e produtivas entidades de pesquisa em Matemática e Ciência de Computação da América Latina. O conceito de “time-sharing” havia chegado ao Brasil. Em 26 de Dezembro de 1978, saí do Brasil (Rio 40oC) com minha família rumo a Ann Arbor, e aterrisamos em Detroit no dia 27 (-5oC, neve pelos joelhos...). O uso do computador Amdahl da Universidade também era ainda em “batch” – entrada em cartões perfurados, saída em listagens de papel contínuo, mas no Centro de Computação já havia a pesquisa com o MTS que eu havia visto, e nos anos que se seguiram, houve uma explosão no campus de aparecimento de terminais IBM tipo 3270 (ver Parte V) para o uso da máquina em “time-sharing”. Como eu já disse, uma verdadeira REVOLUÇÃO no uso do computador. Os terminais, no entanto, só decentralizavam a entrada de dados e a saída de resposta, mas não a capacidade de processamento. Por isso, esses terminais eram conhecidos como “Dumb Terminals” – Terminais BURROS! Mas os caminhos da MINIATURIZAÇÃO lançados pela invenção do transistor nos anos 50, e os caminhos da COMUNICAÇÃO lançados pela digitização da voz humana nos anos 60, e os conceitos de rede no ambiente militar americano nos anos 70 provocaram uma inevitável DISTRIBUIÇÃO da capacidade de processamento para os terminais, que se tornaram os computadores pessoais de hoje. A Parte VII conta esse pedaço da história. FELIZ 2011 A TODOS!!
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 52/2010 – Jornal da Região – ANO XVII, No 904 – 31/12/2010).
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