Parte VIII: quem não leu Partes I – VII, escrevam para mim (claudio.spiguel@gmail.com), ou visitem meu blog (www.pensamentoscs.blogspot.com). Prometi a vocês, leitores, na Parte VII, a descrição de uma segunda experiência minha como consultor do Centro de Computação da Universidade de Michigan, enquanto fazia lá meus estudos de pós-graduação, relevante a esta nossa história da evolução das tecnologias de computação e comunicações que já tem oito partes... Essa experiência, no entanto, ocorreu alguns anos mais tarde, na conclusão dos meus estudos, portanto, antes de descrevê-la, aproveitarei para reforçar um pouco o ponto até onde chegamos, bem como cumprir outra promessa que fiz a vocês (Parte III): uma viagem de volta no tempo também relevante, que ocorreu nos anos que se seguiram ao “milagre”de ter sido a primeira pessoa a acessar remotamente o computador “mainframe”Amdahl da Universidade de Michigan. Essa experiência inusitada, e bem-sucedida, levou o Centro de Computação a profissionalizá-la, e incentivar o acesso remoto ao computador para diminuir a demanda aos terminais dos centros-satélite, que já estava se tornando difícil de suprir (lembrem-se, 40.000 alunos!). Por exemplo, o programinha de sincronização dos modems que eu escrevi (o tal que ficava na fita cassette dentro do gravadorzinho de música) foi copiado e era distribuido gratùitamente a quem quisesse acessar o computador remotamente, ou em fitas cassette mesmo, ou em “floppy disks”, disquinhos flexíveis magnéticos que começavam a aparecer como dispositivos de memória permanente para serem usados pelos processadores que continuavam sua marcha de diminuição de tamanho e aumento de capacidade, fruto do esfôrço de MINIATURIZAÇÃO já mencionado anteriormente (Parte V). Esse esfôrço levaria ao surgimento do computador pessoal, e à distribuição da capacidade de processamento, também já mencionada anteriormente (Parte III). O computador pessoal será parte integrante daquela segunda experiência, portanto vamos primeiro viajar de volta no tempo. Um dos meus professores em Michigan foi Arthur Burks. Professor Burks já estava nos seus 60 anos, e ensinava o curso de História da Computação. Nada mais justo, desde que êle era parte dela! Há controvérsia sôbre qual foi o PRIMEIRO computador, mas sem dúvida um dos candidatos fortes é a máquina conhecida por ENIAC – “Electrical Numerical Integrator And Computer” – Computador e Integrador Numérico Elétrico, construido na Universidade da Pennsylvania, em Philadelphia, entre 1942 e 1946, sob os auspícios das forças militares americanas para calcular trajetórias balísticas para a campanha dos aliados na 2ª Guerra Mundial (já falamos da influência dos militares e das guerras na tecnologia – Parte I). Em 1947, como resultado desse trabalho de pesquisa, foi patenteado o ENIAC para fins comerciais. A título de curiosidade, a representação digital (0s e 1s) interna no ENIAC era conseguida através de válvulas (o transistor ainda não tinha sido inventado); a memória do ENIAC consistia em quase VINTE MIL válvulas, e dado o tempo médio estimado de vida de uma válvula, a confiabilidade de operação do ENIAC se resumia a apenas algumas horas, após as quais era pràticamente certo que alguma válvula da memória queimasse. Não havia linguagem de programação (como o FORTRAN, mencionado na Parte III), e os comandos de manipulação dos números eram comunicados ao ENIAC por pedaços de “hardware”, literalmente cabos que definiam a trajetória dos números através dos componentes do computador. Pensem no seu computador pessoal de hoje... o quanto avançamos em meros 60 anos... Mas voltemos ao Prof. Burks, que foi membro do time de pesquisa que desenvolveu os fundamentos matemáticos e construiu o ENIAC! Tive o privilégio de ser seu assistente durante os meus estudos, e com êle ensinar o curso de História da Computação. Não há como descrever em palavras o privilégio de trabalhar com uma celebridade como o Prof. Burks; aprendi MUITO com êle. Nos anos 60 a Universidade da Pennsylvania, que havia por todos esses anos mantido o ENIAC em condições de funcionamento, resolveu premiar os membros ainda vivos daquele time de pesquisa, e dividiu o ENIAC em partes auto-suficientes e operacionais e deu para cada membro a oportunidade de adquiri-las; o Prof. Burks adquiriu quatro delas. Assim, a Universidade de Michigan recebeu as quatro partes do ENIAC, cuja operação foi incorporada pelo Prof. Burks ao currículo do nosso curso. Eu nunca vou esquecer a expressão de admiração na face dos alunos jovens ao entrar na sala onde estava instalado o ENIAC, deparar-se com todas aquelas válvulas acesas, uma peça tão importante na história da computação. Eu entrava na sala para ensiná-los com muitos daqueles cabos de programação no bolso, e conforme percorria os fundamentos de matemática discreta em que se baseia a computação eletrônica, tirava os cabos do bolso e ia programando o ENIAC para executar como exemplo a operação que acabara de expor teòricamente. Nada como estar no lugar certo, na hora certa... Arthur Burks faleceu em 2008 com 92 anos; com êle se foi uma parte da história da computação. Estamos agora prontos para relatar aquela segunda experiência mencionada no início desta coluna, e seguir viagem. Prometo que ela será o âmago da Parte IX. Boa semana a todos!
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 02/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 906 – 14/01/2011).
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