"RESOLUÇÃO
DE ANO NOVO PARA O EX-PRESIDENTE"
Vocês, leitores
e leitoras, hão de se lembrar que há algumas semanas nesta coluna havia uma
espécie de polêmica sobre se eu devia continuar as críticas ao nosso destemido
EX-presidente Ptista.
Alguns de vocês, liderados pelo meu
“amigo eletrônico” lá de Brasília diziam: “Pare de dar paulada em cachorro
morto...” enquanto outros diziam: “Não tire o pé do acelerador...” Ajudado pela
chegada do fim-de-ano, resolvi dar ouvidos ao primeiro grupo por algumas
semanas, e me ater a assuntos de importância pessoal, como a grande conquista
do Sport Club Corinthians Paulista nas terras do Sol Nascente, e, é claro, meus netos, veículos da minha
contribuição para a sopa genética da humanidade.
Mas o segundo grupo continuou
escrevendo durante as semanas de hiato, dizendo: “Pé no acelerador! Já estamos
sentindo falta... “ Portanto inicio este novo ano dando ouvidos a esse segundo
grupo, e oferecendo ao nosso destemido EX-presidente uma Resolução de Ano Novo que foi parte de
um texto publicado pela Revista VEJA em Setembro p.p. pelo Professor da
Universidade Federal de São Carlos, Marco
Antonio Villa. Eu havia separado esse texto, que é de uma retidão, clareza,
e precisão inigualáveis, para compartilhar mesmo com vocês, e presenteio-o a
vocês, portanto, nesta primeira coluna de 2013. Aí vai:
“A
presença constante de Luís Inácio Lula da Silva no noticiário impõe a discussão
sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia
brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com
um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação
política mais ativa (FHC). O ideal seria que após o mandato cada um fosse
cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que
foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos —
e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo
é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política
diminui a sua importância histórica— mesmo sabendo que alguns têm estatura bem
diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No
caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar
participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de
Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito
menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com
a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de tornar públicos ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de
interferência. E Dilma? Aceita
passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as
eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT
criou a presidência dupla: um,
fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina
administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela
Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias
dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda
estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não
percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente,
desgastando o seu capital político. Até
seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das
mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa.
A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São
Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram
demonstrações inequívocas de que ele não
mais arrebata multidões.
E, em especial, o comício de Salvador é bem
ilustrativo. Foram arrebanhadas —como gado — algumas centenas de espectadores
para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era
evidente. Os “militantes”estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam
e receber os 25 reais de remuneraçãopara
assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi
patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que
não pegou bem coagir:
1. Cinco partidos, para assinar uma nota defendendo-o das
acusações de Marcos Valério;
2. A presidente, para que fizesse uma nota oficial
somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal;
3. Ministros do STF,
antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não
sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O
ex-presidente não quer admitir que seu
tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou.
O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que
acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada,
invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa
como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o
transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do
primeiro partido de trabalhadores, etc. etc.), não deve ser nada fácil cair na
real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora
suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
Lula foi,
recentemente, chamado de deus
pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a
ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o
desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da
ousadia, se ele é deus não
poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto,
entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente.
Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e
cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não
via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco,
reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são
afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado,
que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo
mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes
Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história
teve início.
E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço
sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a
empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao
Brasil.”
Vejam só que oportunidade para o nosso destemido EX-presidente... fazer bem a ele próprio e ao Brasil...
COISA INÉDITA!! Parabéns ao Professor Marco Antonio Villa, e Feliz Ano Novo a
todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da
computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 01/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1007 – 04/01/2013).
(PENSAMENTOS No 01/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1007 – 04/01/2013).
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