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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

RESOLUÇÃO DE ANO NOVO PARA O EX-PRESIDENTE




"RESOLUÇÃO DE ANO NOVO PARA O EX-PRESIDENTE"

Vocês, leitores e leitoras, hão de se lembrar que há algumas semanas nesta coluna havia uma espécie de polêmica sobre se eu devia continuar as críticas ao nosso destemido EX-presidente  Ptista.
 
Alguns de vocês, liderados pelo meu “amigo eletrônico” lá de Brasília diziam: “Pare de dar paulada em cachorro morto...” enquanto outros diziam: “Não tire o pé do acelerador...” Ajudado pela chegada do fim-de-ano, resolvi dar ouvidos ao primeiro grupo por algumas semanas, e me ater a assuntos de importância pessoal, como a grande conquista do Sport Club Corinthians Paulista nas terras do Sol Nascente, e,  é claro, meus netos, veículos da minha contribuição para a sopa genética da humanidade.
 
Mas o segundo grupo continuou escrevendo durante as semanas de hiato, dizendo: “Pé no acelerador! Já estamos sentindo falta... “ Portanto inicio este novo ano dando ouvidos a esse segundo grupo, e oferecendo ao nosso destemido EX-presidente uma Resolução de Ano Novo que foi parte de um texto publicado pela Revista VEJA em Setembro p.p. pelo Professor da Universidade Federal de São Carlos, Marco Antonio Villa. Eu havia separado esse texto, que é de uma retidão, clareza, e precisão inigualáveis, para compartilhar mesmo com vocês, e presenteio-o a vocês, portanto, nesta primeira coluna de 2013. Aí vai:    
 
“A presença constante de Luís Inácio Lula da Silva no noticiário impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa (FHC). O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
 
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica— mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
 
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de tornar públicos ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.
 
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões.
 
E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas —como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os “militantes”estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneraçãopara assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
 
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir:
1. Cinco partidos, para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério;
2. A presidente, para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal;
3. Ministros do STF, antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
 
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores, etc. etc.), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.
 
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
 
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”. Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco, reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início.
 
E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.”
 
Vejam só que oportunidade para o nosso destemido EX-presidente... fazer bem a ele próprio e ao Brasil... COISA INÉDITA!! Parabéns ao Professor Marco Antonio Villa, e Feliz Ano Novo a todos!

O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 01/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1007 04/01/2013).

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