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quarta-feira, 15 de maio de 2013

ACORDA, BRASIL!... DIZ UM ECONOMISTA EXPERIENTE


A inauguração de um quase-naufrágio...



... no início das obras.
A euforia...

Placas de concreto descolando...
... nos canais abandonados


Ricardo Amorim
"ACORDA, BRASIL!... DIZ UM ECONOMISTA EXPERIENTE"

Em vários dos meus textos nesta coluna eu critico a política de investimentos (ou falta de…) do governo federal, particularmente na área de infraestrutura, que apresenta falhas bastante preocupantes (segurança, transporte, etc.), principalmente com a aproximacão de eventos de âmbito mundial como a Copa do Mundo em 2014, e as Olimpíadas em 2016.

Os resultados de uma infraestrutura fragilizada começam a se mostrar até em resultados de projetos de monta criando situações embaraçosas, como a inauguração de um quase-naufrágio (Coluna PENSAMENTOS - Jornal da Região – ANO XIX, No 1002 – pg.2 - 30/11/2012), e como tem sido veiculado na imprensa, a paralização e total degradação da obra de transposição do Rio São Francisco, para citar apenas alguns exemplos do impacto dessas mazelas na produção industrial do país.

Minha crítica, na verdade, baseia-se na constatação desses resultados embaraçosos e até grotescos, e não em uma análise econômica do setor de investimentos. Não sou economista, e portanto não me atrevo… porém, na última “ISTO É” neste mês de Maio, o respeitado economista Ricardo Amorim publicou uma análise econômica concisa, e direta do que está acontecendo, em sequência a um outro texto publicado por êle em Dezembro próximo passado sob o título “ACORDA, BRASIL!”. Transcrevo a seguir os dois textos para o NOSSO benefício, leitor e leitora, adicionando uma base econômica sólida que corrobora, por assim dizer, as posições descritas nesta coluna. Vamos lá:

1) “Made in USA: Há anos, a produção da indústria brasileira está estagnada em níveis atingidos no final de 2008. Ao invés de enfrentar as causas estruturais da baixa competitividade da nossa indústria – infraestrutura precária, carga tributária excessivamente elevada, ambiente de negócios instável e produtividade da mão de obra muito baixa – o governo preferiu concentrar seus esforços em desvalorizar o real e conceder algumas isenções tributárias temporárias e concentradas em poucos subsetores. Em paralelo, agiu para reduzir as margens de lucro e a rentabilidade dos negócios em vários setores, como elétrico, financeiro, mineração e petrolífero. Empresários, preocupados, reduziram investimentos.

A forte concorrência chinesa tem sido uma realidade para a indústria brasileira e para toda a indústria global. Já passou da hora de nos prepararmos para outra competição, agora com a indústria americana. Como alertei ainda em 2010, a crise dos países desenvolvidos é na essência causada por excesso de endividamento. Ela só pode ser resolvida com um forte aumento de poupança e diminuição do consumo por lá. Acontece que menos consumo levará a menos crescimento, mais desemprego e salários menores.

Este processo é exatamente o reverso da medalha do que está acontecendo no Brasil e nos países emergentes. Aqui, o crédito sobe, o desemprego cai e os salários aumentam, sustentando a expansão do consumo e ganhos socioeconômicos. O único instrumento de estímulo macroeconômico que restou aos países ricos são doses cavalares de impressão de dinheiro, com a consequente desvalorização de suas moedas. Com salários menores e moedas desvalorizadas, a perda de participação na produção industrial mundial de todos os países desenvolvidos na última década será revertida em algum momento nos próximos anos.

Nos EUA, este momento já está chegando. Não bastassem o dólar em desvalorização há uma década e os salários em contração em termos reais há seis anos, ocorre uma revolução na produção de energia, que deve levar os EUA de maior importador mundial de petróleo a exportador ainda nesta década. Tudo isto está reduzindo substancialmente o custo de se produzir nos EUA e aumentando a competitividade da indústria americana.

Por outro lado, tão cedo o consumo dos americanos não retomará a pujança anterior à crise de 2008. Isto significa que os produtores americanos direcionarão partes crescentes do que é produzido lá para outros mercados, aumentando sua participação nas vendas para o resto do mundo, incluindo o Brasil. Os EUA voltarão a ofertar produtos de menor valor agregado e retomarão mercados há muito perdidos. Prepare-se para o retorno do Made in USA.

Pode demorar mais para sentirmos seus efeitos, mas processos similares estão acontecendo na Europa e no Japão. Em paralelo, o crescimento chinês migra gradualmente para mais consumo interno e serviços, reduzindo o ritmo de crescimento da demanda por nossos metais e minerais. Com mais competição dos desenvolvidos e menor fome chinesa por nossas matérias primas, o Brasil precisa urgentemente fortalecer seu potencial produtivo, estimulando investimentos, melhorando a infraestrutura, reduzindo os impostos permanentemente e qualificando sua mão de obra.

O modelo de crescimento baseado na expansão do consumo, adotado pelo Brasil nos últimos 10 anos, se esgotou. O fraco crescimento e a aceleração da inflação deixam isso claro. Não dá mais para postergar soluções.  A hora de cuidarmos doMade in Brazil está passando.

2) Acorda Brasil: O ministro Mantega ficou surpreso com o fraco crescimento do PIB no terceiro trimestre e culpou o termômetro, a medida do IBGE. Os leitores desta coluna não se surpreenderam. Meu artigo Crônica de uma Decepção Anunciada, de dezembro de 2011, já previa: “não se surpreenda com um crescimento muito baixo no ano que vem e até com uma pequena queda, se calotes ocorrerem na Europa. Feliz 2013.”

Com crescimento de 1% neste ano, nosso PIBinho só vai superar o do Paraguai, em toda América Latina. Peru, Colômbia e Chile crescerão quatro vezes mais. Esse mau desempenho não se deve apenas à conjuntura externa, mas ao esgotamento de um modelo de política econômica baseado na expansão da demanda. O Brasil dobrou o crescimento médio do seu PIB a partir de 2004 aproveitando o aumento de consumo nacional e de demanda externa por matérias primas, usando mão de obra e infraestrutura ociosas. Não dá mais.

Com o menor desemprego da história e múltiplos gargalos de infraestrutura, só um incremento substancial do investimento e da produtividade permitiria um crescimento acelerado e sustentado daqui para frente. Só que isto não está acontecendo. No Brasil, o investimento produtivo não chega a 19% do PIB. Ele é cerca de 50% maior nos nossos vizinhos, atingindo 30% do PIB no Peru e 27% no Chile e na Colômbia.

Por que investimos tão pouco? Para investir, um país precisa antes poupar. A poupança nacional é baixíssima por conta da gastança do setor público. Apesar de termos uma carga tributária que é o dobro da dos nossos vizinhos, nossos governos ainda gastam mais do que arrecadam, consumindo uma parte da poupança do setor privado. Para completar, à medida que o crescimento do país se desacelerou, o governo reagiu de forma atabalhoada, levando empresários a postergarem ou até cancelarem investimentos. Já há até quem chame o Ministério da Fazenda de Remendobrás.

Reduzir a tarifa de energia elétrica é um objetivo louvável, mas ao invés de eliminar mais taxas e impostos, o governo preferiu reduzir a lucratividade das empresas do setor. Várias cortaram investimento. Não se surpreenda se tivermos apagões nos próximos anos. No setor financeiro foi parecido. Diminuir os juros é um ótimo objetivo, mas trazer a taxa básica ao menor nível da história com a inflação acima da meta do próprio governo é arriscado. É como cortar a medicação com o paciente convalescendo.

Aumentar a competição bancária é um objetivo justíssimo. No entanto, expandir a oferta de crédito dos bancos públicos com a inadimplência em elevação transferiu a eles clientes que os bancos privados já não querem. Isto expõe seus acionistas – todos nós que pagamos impostos – a cobrirem eventuais perdas no futuro.

Por fim, tempos o governo culpa a taxa de câmbio pelas dificuldades da indústria. Por isso, elevou-a de R$1,50 para mais de R$ 2,00 por dólar. O resultado? Produtos mais caros, pressões inflacionárias e a produção industrial caindo cerca de 3% no ano.

Tomara que nosso crescimento surpreenda positivamente em 2013. Pode acontecer. Se a crise europeia não se aprofundar, Obama conseguir desarmar o abismo fiscal americano e a China sustentar sua incipiente recuperação econômica, provavelmente cresceremos mais do que os 3,5% hoje projetados. Basta um destes fatores externos não cooperar, e o crescimento decepcionará pelo terceiro ano consecutivo. Sem um encolhimento do peso do setor público, nossos investimentos serão baixos, nossa competitividade idem e o crescimento continuará limitado. Boas surpresas só quando a sorte ajudar. Está na hora de ajudarmos a sorte.”

É confortante constatar que um profissional experiente concorda com suas posições. Boa semana a todos!

O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
 (PENSAMENTOS No 19/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1025 17/05/2013).

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