"O
PERIGO HOJE ESTÁ EM
BRASÍLIA"
Há muitos que
praticam uma ogeriza dos Estados Unidos e dos Americanos ao redor do mundo, e
no nosso Brasil isso não é exceção. Eu comparo isso com o que acontece em um
campeonato esportivo: todos os participantes querem bater no primeiro colocado.
Vocês, leitores e leitoras que já acompanham esta coluna há algum tempo,
lembram-se daquele meu “amigo eletrônico” de Brasília, idealizador primeiro do
meu blog (www.pensamentoscs.blogspot.com)
onde também publico estes PENSAMENTOS, e que depois se tornou amigo pessoal em
Belo Horizonte? Pois é, ele é um desses que não perde a oportunidade de atacar
os Estados Unidos quando ela aparece, e gosta de me cutucar pelas ligações
afetivas, familiares e profissionais, que eu tenho com aquele país.
Recentemente ele, nesse afã, comentou sobre o documentário “O Dia que Durou 21
Anos” do jornalista Flávio Tavares, que cobre a influência do governo dos
Estados Unidos no golpe militar de 1964. No início desta semana, mais
especificamente na Terça-feira, 30 de Abril de 2013, a colunista Dora Kramer do
Estadão publicou em seu blog (http://www.estadao.com.br/colunistas/dora-kramer)
um artigo sob o título “Lição do Abismo” que cita esse documentário sob um
ângulo que eu julguei deveras apropriado, e muito interessante. Transcrevo
aqui, portanto, o referido texto, após o qual eu retornarei para um comentário
final.
“A Lição do Abismo: O Dia que Durou 21 Anos é um documentário para ser visto e
compreendido em duas dimensões, a explícita e a implícita. Trata da influência
do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964, mas não é só isso. Subjacente
às urdiduras norte-americanas no Brasil, o argumento do jornalista Flávio
Tavares confere nitidez à linha tênue que separa as palavras ditas das
intenções pretendidas quando o nome do jogo é Poder.
No filme, Newton Cruz, um dos mais coléricos
personagens do período, diz uma frase que surpreende pela autoria e deixa
patente a diferença entre o discurso de defesa da democracia que justificou a
conspirata para derrubar João Goulart e a prática que logo revelaria o intuito
de instalar uma ditadura militar longeva no País. "Disseram que iriam arrumar a casa, mas
ninguém leva 20 anos para arrumar uma casa", aponta o aposentado general
quase ao final dos 77 minutos de projeção.
Para além do relato em si, a
constatação convida o pensamento a passear pelo terreno das razões alegadas e dos
métodos utilizados por aqueles com vocação autoritária. Gente refratária ao
contraditório, obstinada na perseguição de seus objetivos, convicta de que seus
fins justificam o emprego de quaisquer meios e, sobretudo, partidária da ideia
de que alternância no exercício do poder é praticamente um crime de
lesa-pátria. O procedimento mais
tradicional observado nesses grupos é o uso da força, a truculência sem
ambiguidades, a ilegalidade impudente. Assim foi a partir daquele dia de
março/abril do qual se ouvirá falar muito, junto com Copa e eleições, em 2014
por ocasião da passagem de seu meio século.
Há, porém, outras maneiras de o autoritarismo
se expressar. Ladinas, sorrateiras, mas sempre ao abrigo do discurso de defesa
de ideais democráticos. Ambas as formas são perigosas, mas a segunda pode ser
mais ruinosa justamente porque não ataca de frente preferindo comer o mingau
pelas beiradas. Persistentemente,
construindo o cerco à atuação dos adversários, o enfraquecimento das
instituições e a debilitação dos instrumentos de guarda da legalidade, nos
detalhes.
Um aqui, outro ali, sem nunca descuidar de distribuir benesses
pontuais e promover uma sensação geral de bem-estar a fim de que seus
propósitos não despertem reações. E, se
despertarem, que possam ser atribuídas aos invejosos, aos conspiradores, aos
preconceituosos, aos inimigos do povo, aos que não se conformam com o êxito dos
locatários do poder que pretendem dele se tornar proprietários. De onde é preciso estar atento. Não se deixar
confundir nem iludir. Nunca menosprezar gestos aparentemente laterais,
insignificantes, pitorescos até.
Nada
tem de inocente a proposta apresentada por um deputado supostamente secundário
do PT para que se derrube o pilar do sistema republicano de equilíbrio entre
Poderes e se submetam decisões da Corte Suprema ao crivo do Legislativo ou de
plebiscitos. Não houvesse imprensa livre
para denunciar e Judiciário independente para reagir, a proposta poderia
prosperar. Se hoje tivéssemos o conselho de controle e fiscalização dos meios
de comunicação proposto no início do primeiro mandato de Lula, se os ministros
indicados por governos do PT ao STF tivessem se curvado à lógica de que à
indicação deveria corresponder conduta submissa, talvez a ideia do deputado
Nazareno não fosse tratada como a ignomínia que é.
De onde é preciso prestar muita atenção à tal
de Comissão Especial de Aprimoramento das Instituições instalada em novembro na
Câmara por iniciativa do PT, com a tarefa de rediscutir os papéis do Executivo,
Legislativo e Judiciário. Disso já trata a Constituição que, uma vez
respeitada, cuida bem de manter afastados do Brasil os males do arbítrio.”
Pois é, o ataque recente à base da democracia
brasileira visando minar a separação fundamental entre os três poderes, com a
tentativa de tornar o poder judiciário (STF) submisso ao poder legislativo
(Congresso) por, como escreveu Dora Kramer, “um deputado supostamente
secundário do PT” é um exemplo CLARO de que O PERIGO HOJE ESTÁ
EM BRASÍLIA. E o perigo se apresenta, também como escreveu Dora Kramer, de
maneiras “Ladinas, sorrateiras, mas sempre ao abrigo do discurso de defesa de
ideais democráticos.”
Neste último Domingo (28/04), eu buscava na
programação da TV a satélite algo interessante para matar algumas horas, e como
estamos falando de documentários, me deparei com um título interessante, no
canal da “National Geographic”, conhecido por aqui como NATGEO, que geralmente
apresenta documentários muito interessantes sobre a evolução da Terra, das
diferentes culturas, os animais, as plantas, os minerais, etc., assim como a
revista mensal de mesmo nome publicada pela mesma organização, e bastante
conhecida. O título do documentário era “A Verdade de Cada Um”, e pesquisando a
descrição, descobri que ele estava sendo anunciado como uma “representação da
realidade brasileira” em quatro capítulos sobre assuntos básicos de
infraestrutura: Consumismo, Educação, Desmatamento, e Alimentos. Assinava a direção
do documentário, o internacionalmente famoso diretor brasileiro Fernando
Meirelles.
Gravei os capítulos para assistí-los quando conveniente, mas resolvi
assistir o capítulo da Educação, que estava para começar, esperançoso de ver uma
apresentação real do estado DEPLORÁVEL em que se encontra a Educação no Brasil,
como já escrevi várias vezes, sob vários ângulos, nesta coluna no passado. Ao
invés disso, um ilustre desconhecido “professor” de história, aparecia
constantemente na tela fazendo a seguinte afirmação: “A Educação não serve para
melhorar a condição sócio-econômica da população… é apenas um mecanismo para a
ELITE preservar o seu status…” Como…?!?!?!?!?... Aí para “explicar” essa pérola
barbárica, apareciam cenas em uma classe de crianças em idade de ensino
secundário, onde um professor perguntava: “o que é a ELITE?” E as crianças respondiam
em uníssono: “São os ricos…” Isso às 21 horas em um Domingo à noite… HORÁRIO
NOBRE!!
“Ladinas, sorrateiras, mas sempre ao abrigo do discurso de defesa de
ideais democráticos.” Alguma dúvida que O PERIGO HOJE ESTÁ
EM BRASÍLIA?? Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da
computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 17/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1023
– 03/05/2013).
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