Se voce não leu as Partes I a XI desta série de artigos, acesse o meu blog (www.pensamentoscs.blogspot.com). Na semana passada, o meu amigo e colega colunista deste jornal, Edson Leite, escreveu sôbre a importância para nós, articulistas, do retôrno dos leitores, saber direta ou indiretamente que alguém se importou o suficiente com o que escrevemos para emitir um comentário, concordante ou discordante, diretamente a nós ou a terceiros que o fazem chegar a nós. Concordo plenamente com êle, e na semana passada tive a mesma experiência que o Edson relata em sua coluna, referente a temas que êle abordou em tôrno da passagem de ano. Com a Parte XI desta série publicada na semana passada, encerrei-a, e recebi vários comentários lamentando o encerramento... queriam mais, e isso é confortante. Na verdade, como eu escrevi na semana passada, há muito mais a contar no tema, mas está na hora de abordar outros temas que ficaram na espera. Prometi, e prometo voltar ao tema quando julgar relevante, e estou pensando sèriamente em usar essa série como base de um livro sôbre o tema... graças ao retôrno positivo de vocês, leitores, portanto o meu muito obrigado. Outros comentários incluiram perguntas específicas, portanto resolvi escrever este epílogo abordando essas perguntas para não deixar nenhum “i” sem o pingo, e nenhum “t” sem o traço horizontal. Um comentário continha a seguinte pergunta: “como é possível o meu computador estar ligado através da Internet a computadores de todo o mundo se só há um fio que vai do computador para o modem, e um fio só também do modem para a rede telefônica?” Bem... talvez a melhor maneira de visualizar o que realmente acontece é através da telefonia; o seu telefone, leitor, não tem uma linha física direta a todos os outros telefones do mundo, e no entanto você pode telefonar para todos êles. Quando você chama um certo número, o seu telefone é conectado a uma central (um computador chamado de “switch” ), que tem conexões com outras centrais com outros computadores “switches”, até que chega no computador “switch” ao qual está conectado o telefone que você está chamando, e só aí então uma conexão completa é estabelecida entre o seu telefone e o telefone chamado, através de todos os “switches” pelo caminho. É, de fato, o conceito de uma REDE. Para tornar a visualização ainda mais clara, voltemos no tempo ao comêço da telefonia, quando o telefone tinha apenas uma manivelinha, e em algum lugar da cidade havia sempre uma telefonista humana sentada na frente de um painel onde figuravam todos os (poucos) telefones da cidade (a telefonista e o painel formavam o “switch” da época). Quando você queria falar com alguém, você girava a manivelinha, e uma campainha tocava na sala da telefonista, e uma luzinha acendia junto a um furinho no painel rotulado com o seu telefone. A telefonista então estabelecia um contato com você fisicamente ligando um fone de ouvido no furinho com a luz acesa e você dizia a ela com quem você queria falar. Ela aí físicamente conectava através de um cabo o furinho com o seu telefone com o furinho do telefone sendo chamado (da mesma maneira que era programado o ENIAC – veja a Parte VIII) e o telefone chamado tocava e você estava então conectado ao seu interlocutor. Tudo isso era analógico. Uma vez digitizada a voz humana, e com os MODEMs (Parte VII) um computador “switch” substituiu o painel e a telefonista. No meu blog a Parte XI tem ilustrações que mostram a evolução dos primeiros anos da ARPA-net, precursora da Internet, mostrando as conexões entre os computadores em rede; uma das características da Internet de hoje é o ALTO grau de redundância, ou seja, há uma miríade de caminhos para conectar o seu computador àquele que você está buscando, de modo a minimizar a dependência da conexão por qualquer computador específico. É por isso que é raro uma conexão falhar na Internet. Um outro leitor comentou que a minha descrição e exemplos pareciam terminar no início dos anos 90, e portanto como é que eu dizia que havíamos chegado aos dias de hoje? O comentário falava até de jargões como Cliente-Servidor, Processadores Paralelos, e até o mais moderno “cloud computing”, ou Nuvem de Processamento. O meu esclarecimento ao leitor é que descrevi os três parâmetros FUNDAMENTAIS que definem o ambiente computacional de hoje: 1) a DISTRIBUIÇÃO da capacidade de processamento nutrida pela miniaturização dos componentes; 2) a DIGITIZAÇÃO das representações analógicas, principalmente da voz humana, fotos, e filmes; e 3) a CONEXÃO entre os computadores por intermédio de redes, principalmente a Internet. Após o aparecimento da Internet (1989) esses parâmetros continuaram evoluindo, porém nenhum OUTRO parâmetro fundamental apareceu para se juntar a esses. O projeto de um sistema distribuido de processamento de dados envolve sempre duas questões fundamentais: 1) Em que computador reside que parte do sistema (no Cliente ou no Servidor, em que processador, em que ponto da Nuvem); e 2) Como é a rede de conexão entre esses computadores. Por exemplo, no sistema distribuido que eu divisei para datilografar, formatar, e imprimir a minha Dissertação de Doutorado (Parte X) havia três processadores organizados em série: o IBM PC, o computador “mainframe” Amdahl, e o computador de controle da impressora XEROX 9700. A datilografia (elaboração, edição, e armazenagem) do arquivo fonte ocorria no IBM PC; a formatação ocorria no Amdahl; e a impressão, na XEROX 9700. Por uma questão de marketing, os consultores na área de sistemas vão inventando aqueles jargões como se fossem coisas novas e diferentes, mas os princípios, os parâmetros fundamentais, são os mesmos. Vários leitores perguntaram se há tradução para o Português do livro que sugeri no fim da Parte XI, “The Singularity is Near...” escrito por Ray Kurzweill. Pesquisei e a resposta é não; o livro é disponível no idioma original, o Inglês. O livro tem um subtítulo sugestivo: “Quando os humanos transcendem a Biologia...”. A mensagem do livro é a seguinte: nós, humanos, somos a primeira espécie viva a criar uma tecnologia (os computadores) que podem nos ultrapassar. Além disso, será possível um ser híbrido entre a nossa Biologia, e a nova Tecnologia que será um ser superior ao humano de hoje. O momento em que isso acontecer, Kurzweill chama de “Singularidade”, e como diz seu título, ele julga que ele está próximo. Nesse contexto convém lembrar Darwin: “Não é o mais inteligente, ou o mais forte que sobrevive, mas sim, o mais adaptado.” Boa semana!
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 05/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 910 – 11/02/2011). www.pensamentoscs.blogspot.com

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