Com esta Parte XI encerro... por enquanto... esta série de artigos sôbre a história da tecnologia de computação e comunicações. Digo “por enquanto” porque há muito mais a contar, porém já é tempo de enveredarmos por outros temas que têm ficado na lista de espera durante os dois meses e tanto da série “OS ÚLTIMOS 60 ANOS...”. Conclui a Parte X dizendo que faltava apenas falar da rede, a Internet, para chegarmos aos dias de hoje. Isso é um tanto simplista, mas é verdade. Falamos dos efeitos da miniaturização de componentes pavimentando a distribuição da capacidade de processamento dos computadores “mainframes” para os computadores pessoais. Falamos da invenção do transistor como gatilho desse processo, mas não foi só esse componente que sofreu miniaturização. Vale a pena mencionar a evolução dos discos rígidos para memória permanente. Antes uma pequena digressão para que vocês entendam a medida de capacidade dos discos, inclusive termos que são comumente usados na descrição da sua capacidade de memória permanente: Um BIT é uma posição de memória, um dígito binário (0 ou 1). Um BYTE é uma sequência de 8 BITs, e em geral representa um caracter, uma letra ou um número decimal (isto é uma simplificação, mas serve os nossos objetivos). Um KILOBYTE (KB) é mil BYTEs. Um MEGABYTE (MB) é mil KBs, ou um milhão de BYTEs. Um GIGABYTE (GB) é mil MBs, ou um bilhão de BYTEs. Finalmente um TERABYTE (TB) é mil GB’s, ou um trilhão de BYTEs. Pois bem, no final dos anos 50, a IBM oferecia uma unidade de disco rígido para ser acoplada a computadores “mainframes” que se constituia de uma pilha de 50 discos com 60 cm. de diâmetro cada um, uma monstruosidade que tinha a capacidade para armazenar 5 MBs. Quando eu ensinava na Universidade de Michigan nos anos 80 eu tinha uma unidade dessas para mostrar aos alunos, e eu a carregava para a classe em um carrinho com rodas, de tão pesada. Hoje, o “notebook” que eu estou usando para escrever este texto tem UM disco rígido de 9 cm. de diâmetro e a unidade inteira, incluindo as cabeças de gravação e leitura tem 1.0 cm. de altura, e a sua capacidade é 400 GBs, ou seja, OITENTA MIL VEZES a do monstrengo descrito acima. Em cima da minha mesa de trabalho ha uma caixinha (19cm x 11cm x 4cm) que contém UM disco com capacidade de 2 TBs, ou seja, QUATROCENTOS MIL VEZES a do monstrengo... e tem mais, o monstrengo custava QUARENTA MIL DÓLARES em dólares dos anos 50, ou seja TREZENTOS E VINTE MIL DÓLARES em dólares de hoje. e a caixinha com o disco de 2 TB custa hoje CEM DÓLARES. Não é impressionante? Falamos também da digitização da voz humana, e mais tarde de fotografias e filmes, elementos fundamentais da comunicação entre humanos tradicionalmente representados analógicamente, e que uma vez digitizados puderam ser manipulados, armazenados, e transmitidos por computadores. A terceira componente básica da evolução é a comunicação entre os computadores. Vocês devem se lembrar que mesmo com a distribuição da capacidade de processamento para os computadores pessoais, todos os computadores eram pràticamente estanques, com pequenas exceções como as transferências de arquivos mencionadas nas Partes VII e X usando um protocolo (padronização da informação transferida) chamado FTP – “File Transfer Protocol”, o único até então disponível e bastante inflexível e insensível ao conteúdo do arquivo. E foi mais uma vez no contexto militar que essa área foi suprida, com base em pesquisas realizadas em uma agência do Departamento de Defesa (DoD) americano chamado ARPA – “Adavanced Research Projects Agency”. A visão chamava-se “ARPA-net”, ou rede ARPA, e visava conectar os computadores em campus universitários onde ocorriam projetos de pesquisa financiados pelo DoD. O primeiro desenho da rede que viria a se tornar a Internet, unindo na costa oeste americana os computadores da UCLA (Universidade da California em Los Angeles), UCSB (Universidade da California em Santa Bárbara), SRI (Stanford Research Institute), e Universidade de UTAH data de 1969, tendo sido em Outubro daquele ano que a primeira transmissão bem sucedida ocorreu. Já em 1970, um polo com vários nós foi adicionado à ARPA-net na costa leste americana, incluindo a Universidade de Harvard. Durante os anos 70 várias outras Universidades uniram-se à ARPA-net e a pesquisa continou no intúito de enriquecer cada vez mais o protocolo de transmissão. Ficou claro, então que não só os projetos militares lucrariam através dessas conexões entre os computadores “mainframes” das Universidades, e a “NSF – National Science Foundation” começou a pressionar a ARPA para liberar a rede para uso Universitário, o que veio a ocorrer no início dos anos 80, sob o nome de NSF-net. Estava lançada a espinha dorsal da Internet. Os anos que se seguiram viram a criação de um protocolo chamado “TCP/IP – Transmission Control Protocol/Internet Protocol”, cuja versão 4 é até hoje usada nas conexões da Internet. A riqueza desse protocolo, atingida com recursos públicos, criou a demanda comercial e industrial do uso da NSF-net o que ocorreu em 1989, marcando o nascimento oficial da Internet. Em 1993, como “CIO – Chief Information Officer” da firma Zeneca Pharmaceuticals, eu coordenei a conexão da rede interna da primeira compania farmacêutica à Internet, agilizando sobremaneira os processos globais da empresa. As tres forças de MINIATURIZAÇÃO (distribuição da capacidade de processamento), DIGITIZAÇÃO (voz humana, fotos e filmes), e CONEXÃO EM REDE (Internet) moldaram o ambiente que se vê hoje, onde com a capacidade de processamento dos nossos computadores pessoais, e no conforto das nossas casas ou trabalho, solicitamos um serviço, ou uma página de informações que reside em um outro computador em algum outro canto do mundo que tem um endereço único na Internet. Imediatamente uma conexão usando TCP/IP se forma através da Internet entre o nosso computador e o tal outro computador onde reside o que estamos buscando, e em segundos, o serviço ou página solicitada aparece na tela do nosso computador. Comparem isso com o uso do computador descrito nas Partes I e II desta série. Não é para menos que nos ÚLTIMOS 60 ANOS avançamos mais o nosso conhecimento do que em toda a história prévia da raça humana. Para uma vista do futuro dessa evolução, recomendo a leitura do livro “A Singularidade está Próxima” de Ray Kurzweill. Boa semana!!
(O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 05/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 909 – 04/02/2011). www.pensamentoscs.blogspot.com

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