Há algumas semanas escrevi nesta coluna sôbre a morte de Osama Bin Laden. Concluí dizendo que êle já ia tarde, e confirmo o pensamento: já foi tarde! Disse o poeta: “Morre o homem, fica a fama...”, ou assim gostariam que fosse os seguidores das idéias tresloucadas do agora falecido líder da Al Qaeda. Na verdade, as notícias das últimas semanas parecem indicar que a marca registrada das idéias da organização e seu líder, a “jihad” (guerra santa) violenta, está perdendo o apoio irrestrito que parecia caracterizar o mundo árabe. Finalmente parece que êles estão vendo no final do túnel uma luz que não é o farol de um trem que se aproxima em alta velocidade. É claro que os eventos que se seguiram à divulgação da morte do terrorista mais procurado do mundo nos últimos dez anos constituiram-se em presa fácil para a grande proporção da população humana que adora uma teoriazinha de conspiração, e também a outra grande proporção da população humana que se caracteriza pelo “urubulismo”, ou seja, adoram explorar um sensacionalismozinho predizendo com certeza (com certeza...?) desgraças iminentes. Os primeiros se aproveitaram das revoltas populares contra os califados no Egito e na Líbia para construir tudo como um só “imbróglio” culminando em um levante do mundo árabe islamita contra os princípios do oeste democrático. Já os segundos se aproveitaram da deixa para profetizar com certeza (com certeza...?) que estava caracterizado o comêço do “Armageddon”, como claramente (claramente...?) descrito nas profecias de Nostradamus. Os primeiros “imbrugliaram no imbróglio” as comemorações em New York e Washington, a subida nas pesquisas do coeficiente de aprovação do Presidente Barack Obama pela brilhante e audaciosa condução da operação que eliminou o terrorista Bin Laden para concentrar nos Estados Unidos a “raiva islamita”, livrando assim do perigo os demais participantes do oeste democrático (posicionamento esse um tanto comum no nosso Brasil varonil...). Já os segundos aproveitaram essa outra deixa para profetizar para os dias que se seguiram à morte do terrorista (dias...?) um ataque certo (certo...?) de represália contra algum alvo americano, de preferência algum ponto turístico com presença de público em massa. A coisa foi tão intensa que houve gente que me perguntou se deveria cancelar uma viagem já marcada para fazer compras na farta Miami... pensando bem, no contexto de turistas brasileiros, os “shopping centers” de Miami até que qualificam como pontos turísticos com presença de público em massa... É preciso um pouco de cabeça fria, e afastar-se um pouco da emoção conectada a esses momentos históricos, para fazer uma análise imparcial. Olhando de fora, é óbvio que há um pouco de verdade em tudo o que eu escrevi acima, mas como reza o dito popular: “um pouco de verdade pode ser a causa de um perigo muito maior do que a verdade inteira...”. Com a morte de Bin Laden morreu a “jihad”...? É claro que não. Bin Laden foi um predador que se aproveitou de dois estereotipos que podem ser classificados como nada menos que grotescos: o primeiro, mais comum entre não-Islamitas, é que a onda de violência pregada emanava de todo o Islam. O segundo, ainda que parte dos povos do Oeste clamavam por vingança, era a deplorável imagem degenerada e imperialista associada a todos os Cristãos “infiéis” pelos islamitas. Bin Laden e seus seguidores nutriam essas distorções e predavam assim os seus semelhantes através de uma proposta orgia de assassínios e endeusados martírios dirigidos contra o Oeste das Cruzadas (é, alimentando um ódio bem antigo...), e como toda a guerra, “santa” ou diabólica necessita de um inimigo focado, os Estados Unidos, o país líder do Oeste democrático, tornou-se ideal para o papel. O país mor do sistema capitalista demandava, como alvo, detalhes até pessoais, como a aura do Saudita que abandonou suas riquezas pessoais para viver simplesmente, e liderar de uma maneira até charmosa o maior poder militar atualmente existente na face da Terra. Não, a “jihad” não morreu, e talvez, como se vem anunciando desde o comemorado dia 02 de Maio próximo passado, muitos outros seguidores ainda tenham de ser parados paramilitarmente, como ocorreu com o líder maior, mas é inegável que a mensagem principal dessa “jihad” não tem mais a mesma tração com os seus seguidores, principalmente porque essa mensagem falhou estrategicamente, e a violência pregada nunca atingiu os objetivos estabelecidos pelas suas lideranças para o mundo islamita. Apesar de anos e anos de conflito sangrento, os princípios de vida do Oeste democrático continuam a pressionar as comunidades islamitas. A “jihad” não conseguiu expulsar, como prometido, as tropas não-islamitas dos países islamitas. As tropas do Oeste permanecem no Iraque e no Afganistão, Kashmir continua a ser uma base do exército indiano, e a Chechenia do exército russo. Israel continua a progredir, e nenhum governo árabe se entregou oficialmente ao califado proposto por Bin Laden. Uma pesquisa conduzida pelo “Pew Research Center” aponta que confiança na pregação de Bin Laden nos territórios palestinos caiu de 72% em 2003 para 34% atualmente; na Jordânia, essa mesma porcentagem caiu de 56% para 13% no mesmo período. Isso ainda deixa um reservatório razoável de candidatos à lavagem cerebral promovida por Bin Laden e seus seguidores, mas a visibilidade deles nos levantes recentes do povo no mundo árabe e no norte da África está cada vez mais opaca, pois a luta popular é por direitos humanos, e não pela instalação do tal califado. O momento para uma solução pacifista no mundo islamita talvez nunca tenha sido tão oportuno. Que assim seja...
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 20/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 924 – 27/05/2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário