Como vocês já devem ter percebido, estou de volta ao Brasil. E como também espero que vocês tenham percebido (e sentido falta...) há algumas semanas atrás eu tirei duas semanas de férias da escrita desta coluna, e portanto duas edições do Jornal da Região (16/09 e 23/09) saíram sem os meus PENSAMENTOS. Sempre quando chego costumo folhear os jornais publicados durante a minha ausência, e exatamente nesses dois, notei que o meu amigo, vizinho, e Companheiro Rotariano Edson Leite, também colunista deste semanário, publicou um artigo em duas partes intitulado “Geração Sanduíche”. O Edson, se... não, “se” não... “quando” estiver lendo este artigo, deve pensar: “Ai, ai... lá vem o Cláudio outra vez me cutucar...”. Mas não, quero cumprimentá-lo pela escolha e abordagem do tema, bastante atual para êle, e também para mim, pois somos membros do que êle chama de “Geração Sanduíche”. Essa tal geração é assim definida por êle: “...pessoas que têm entre cinquenta e sessenta e poucos anos, a maioria em final de carreira, ou já aposentada, e que se divide entre atender seus próprios anseios e necessidades, cuidar de pais ou parentes idosos, e ajudar os filhos que estão começando a vida, especialmente no doce e trabalhoso mister de criar os netos”. Taí... eu e êle somos membros de carteirinha! Nessa história de “criar os netos”, o Edson é marinheiro de primeira viagem, desde que o seu primeiro netinho nasceu há apenas alguns meses. Já eu, que estou com meu SEXTO neto(a) a caminho, tenho um pouco mais de rodagem nessa estrada... mas o meu tema esta semana não se refere a esse lado do “Sanduíche”, mas sim ao outro lado, o cuidado com os nossos idosos, o qual o Edson abordou na primeira parte do seu artigo (16/09, pg.4). No último parágrafo, o Edson escreve: “O brasileiro, por formação e cultura, não concorda em deixar seus pais em asilos e lares de idosos, prática que contraria nossos princípios”. Bem, ... aí eu vou discordar um pouco do Edson (e o Edson: “Eu sabia...”). Não, discordar não é a palavra certa, pois eu concordo com o Edson que essa é a visão egoísta da maioria dos brasileiros. Por que egoísta? Porque ela é expressa de acôrdo com os “nossos princípios”, ou seja os princípios daqueles que tomam a decisão da internação ou não do idoso, ao invés de dar prioridade ao que realmente importa em decisão tão importante, ou seja, o bem estar e o melhor cuidado possível DO IDOSO. E que “princípios” são esses “nossos princípios”? Na grande maioria das vezes tratam apenas das aparências auto-sustentadas em um círculo vicioso frente a uma sociedade egoista de que há necessàriamente uma conotação de abandono inerente à decisão de internação. Até na frase usada pelo Edson isso transparece: “...DEIXAR os pais em asilos e lares de idosos”. Eu até que aceitaria o conceito em relação aos asilos, mas equiparar os lares de idosos aos asilos não é uma comparação justa. Neste semanário há duas semanas atrás (07/10 – no 943, pg. 9) há u’a matéria paga onde um jovem reclama da internação de sua avó “num Lar para Idosos em Mococa, afastada de todos, e contra a nossa vontade”. Diz o jovem: “...No dia 27 de Fevereiro de 2011, na Catedral, fomos todos para o batizado do meu filho, e lá estava minha avó em mais um dia tão importante em nossas vidas”. E mais adiante: “Agora no dia 6 comemoramos o 1o aninho do meu filho e a minha avó está impedida de participar da comemoração...”. O título da matéria paga é “O que dizer ao meu filho...” Com quem está preocupado o nosso jovem? Com êle mesmo? Sim... Com o filho? Claro... Alguma preocupação com a avó? Aí está o princípio das aparências, gostamos de ver os idosos nas festas, onde êles aparecem com sua higiene feita, todos arrumadinhos, nem sequer nos preocupamos se foi difícil para êles se locomoverem até a festa. Quando acaba a festa, viramos as costas... e aí? Quem vai trocar-lhes as fraldas? Fazer sua higiene? Garantir que êles se viram na cama para evitar escaras? Garantir que tomem a quantitade necessária de água? Que tomem os remédios certos na hora certa? Nada disso acontece nas festas... tudo fora das festas... e aí? Isso sem contar as vicissitudes e dificuldades de trato decorrentes de doenças comuns na idade avançada, como por exemplo a Doença de Alzheimer’s. Eu sou brasileiro, e minha mãe, com seus 86 anos, foi acometida pela Doença de Alzheimer’s e está internada no Lar de Idosos AKASA, em Mococa. Por coincidência, o mesmo Lar de Idosos onde está internada a avó do nosso jovem da matéria paga. Eu a visito toda a semana, e desde a internação ela mostra ser tratada de maneira impecável na AKASA. Minha mãe é uma pessoa de personalidade forte, e apesar da doença tem um nível razoável de lucidez; ela simplesmente ama as pessoas que tratam dela, as enfermeiras, as administradoras. Minhas visitas ocorrem sem aviso prévio, em dias diferentes e horas diferentes... ela está sempre impecável, me recebe com um sorriso nos lábios e passamos algumas horas agradáveis juntos. Eu descrevo com frequência os netos e bisnetos dela, dos quais ela já não lembra muito bem. Eu faço do bem estar dela o termômetro constante da decisão de interná-la, uma decisão inerentemente difícil, também porque eu vivo na mesma sociedade a que o Edson se refere. Mas não tenho a menor dúvida que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito PARA A MINHA MÃE, não para mim. Na AKASA, ela recebe um tratamento que eu nunca poderia dispensar a ela, independentemente de quanto eu a amo como minha mãe, porque lá ela é tratada por pessoas principalmente TREINADAS, e competentes no que fazem. A AKASA é uma bênção na nossa região. Nas minhas visitas eu noto que carros com chapas de vários estados brasileiros estão lá estacionados para visitas. Mais de uma vez interagindo com pessoas cujos pais estão internados lá, ouço a mesma história: “pesquisamos o Brasil inteiro, e não achamos NENHUM lugar que se compara a este”. A Diretora Administrativa tem um escritório aberto no meio do salão principal, de onde ela observa todas as interações entre a equipe de enfermeiras e os idosos quando não estão em seus quartos. O proprietário, um médico, provê cuidados clínicos rotineiros e monitora constantemente todos os idosos, encaminhando para especialistas quando necessário. Mais uma vez, a AKASA é uma bênção que nós temos a sorte de ter localizada há apenas meia hora daqui. É claro que não há certos ou errados absolutos nas decisões de internação, cada caso é um caso. Mas o critério não pode nem deve ter nada a ver com princípios, formação ou cultura de quem toma a decisão. A única coisa que realmente conta é o bem estar do idoso, a provisão do melhor cuidado possível dentro das possibilidades financeiras da família.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 39/2011 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 945 – 21/10/2011).
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