Campeões |
Às vezes mudanças radicais fazem bem à gente, inclusive de temas, portanto esta semana vamos de Steve Jobs (três últimas semanas) ao Sport Club CORINTHIANS Paulista. Não tenho medo de divulgar: sou CORINTHIANO, e com muito orgulho! Alguns dos meus amigos Palmeirenses, SãoPaulinos, Santistas, os mineiros Atleticanos e Cruzeirenses (olha a “segundona” aí, uai...), e até alguns que dirigem suas preferências futebolísticas para o Rio de Janeiro, Flamenguistas, Fluminenses, Vascaínos, Botafoguenses, falam comigo como se o fato de eu ser Corinthiano fosse uma falha no meu carácter. “O que será que aconteceu com o Cláudio para êle virar Corinthiano?”, dizem êles... não entendem que ser Corinthiano é algo diferente das preferências futebolísticas listadas acima... é um estado de espírito, realmente uma bênção. Talvez muitos desses meus amigos, e também muitos de vocês, leitores, não saibam as origens do Glorioso Alvinegro do Parque São Jorge... Eu sou neto de Italianos, do lado da minha mãe; meus avós maternos são ambos Napolitanos que imigraram para o Brasil no fim do século XIX. No comêço do século XX, o time no Brasil que satisfazia as ansiedades futebolísticas dos imigrantes Italianos se chamava Palestra Itália... não existia o Palmeiras... e nem o Corinthians. A cisão que criou esses dois últimos clubes a partir daquele primeiro se deu por um fator importante: a miscigenação com os negros, mais fácil no Brasil do que na Europa, começou a mostrar a inegável superioridade da raça negra no atleticismo, e começou uma pressão nos times de futebol para incluir jogadores negros no plantel. No velho Palestra Itália havia duas facções: uma discriminatória que não aceitava a inclusão dos negros, e outra mais visionária que apoiava a inclusão dos negros, melhores jogadores. Hoje olhando para trás é fácil entender por que estou chamando essa segunda facção de visionária... vocês se lembram da côr da pele do Pelé? Pois bem, as facções conflitantes provocaram a cisão do Palestra Itália em dois times: a facção discriminatória deu origem ao Palmeiras... e a facção visionária deu origem ao Corinthians. É claro que essa diferença foi diluida ao longo dos anos, e hoje vê-se jogadores brancos, negros e mulatos em todos os times, portanto não estou acusando nenhum amigo ou leitor Palmeirense de discriminação, mas naqueles primórdios, esses eram os fatos. O nome Corinthians teve origem em um time de futebol de estudantes ingleses das Universidades de Cambridge e Oxford (a elite inglesa...) que viajou pelo Brasil nos anos 10 chamado “Corinthian Football Club”, em homenagem à cidade grega de Corinto. As apresentações desse time encantaram muita gente por aqui, principalmente em alguns jogos que disputou com equipes locais no Estádio do Velódromo, que já não existe mais, na região do bairro da Consolação, em São Paulo. Na mesma época discutia-se entre os fundadores do novo club o nome que lhe seria dado, e outros nomes candidatos eram: Santos Dumont, em homenagem ao pai da aviação, e Carlos Gomes, em homenagem aos Italianos fundadores, desde que o maestro escrevia suas óperas em italiano. Porém a perspectiva de que um dia o time viesse a ter a qualidade recém demonstrada localmente do Corinthian inglês falou mais alto, e assim nasceu o Sport Club Corinthians Paulista. Minha mãe é a mais nova de dez irmãos, sete dos quais homens. O pai dela, meu avô Savério Police, o qual eu não cheguei a conhecer, fazia parte do grupo de fundadores, e no time que foi Campeão Paulista pela primeira vez em 1914, havia um POLICE no meio de campo, um irmão mais novo do meu avô, ou seja, meu tio-avô. Para minha mãe êle era o Tio Ciccilo. Ah... esqueci de dizer, POLICE, o sobrenome de solteira da minha mãe, é o meu nome do meio. Nos meus tempos de menino, os Domingos de jogo eram eventos familiares inesquecíveis. O dia começava cedo com a matriarca, minha avó Tereza Police dirigindo as filhas (minha mãe e duas tias) na preparação de suculenta macarronada que começava com a confecção caseira do macarrão e do molho. Lá pelo meio da manhã chegavam meus tios e suas famílias, e logo ligávamos o rádio bem alto para que pudesse ser ouvido por toda a casa. E todos acompanhávamos rigorosamente as rezenhas, os comentários, o histórico dos jogos anteriores da partida do dia, etc., etc. Durante o jogo meus tios usavam uma palheta branca, a exemplo do que fazia o meu avô; se o Corinthians ganhava, êles saiam à rua e faziam as palhetas girar pelo ar, e elas eram então cuidadosamente guardadas para o próximo jogo. Se o Corinthians perdia, também a exemplo do que fazia o meu avô, êles davam um soco pelo meio da palheta e a destruiam. No jogo seguinte, apareciam com palhetas novas. O objetivo, claro, é que as palhetas durassem o maior número possível de jogos. Meu tio José Police, já falecido, chegou a ser Diretor do clube; seu filho, meu primo José Police Júnior, também já falecido precocemente, jogou bola-ao-cesto no Corinthians. Enfim, ser Corinthiano para mim é mais do que uma simples preferência futebolística; é algo que tem história, está no sangue. Não que eu deva alguma explicação aos meus amigos e leitores... afinal o Corinthians é o time que mais títulos tem no Campeonato Paulista (26), 4 a mais que o Palmeiras (22), 5 a mais do que o São Paulo (21) e 7 a mais do que o Santos (19). E estamos à beira de ganhar o Brasileirão pela quinta vez. Eu não gosto de “contar com o pintinho antes do ovo chocar”, e até já pensei em reavivar o costume das palhetas... mas torço para que não precisasse socá-las nas próximas semanas...
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 44/2011 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 950 – 25/11/2011).
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