Nos dois últimos meses, um dos baluartes do esporte Americano, os programas de esporte das Universidades Americanas, berço dos grandes atletas profissionais (realmente a máquina de infusão de atletas no esporte profissional) e amadores (vejam a performance nas Olimpíadas) dos Estados Unidos, está sofrendo uma crise sem precedentes na sua história. Ocorre que, em paralelo ao que vem ocorrendo na Igreja Católica nos últimos anos, onde vários padres estão sendo acusados de molestar sexualmente meninos aos quais êles têm acesso como figuras autoritárias nos seminários e nas igrejas sôbre os "coroinhas", um Técnico Assistente em um dos mais respeitados programas de futebol americano universitário em uma das mais respeitadas Universidades do centro-oeste americano, a Universidade de "Penn State" (Estado da Pennsylvania) localizada próxima à cidade de Pittsburgh no oeste do estado da Pennsylvania, foi acusado do mesmo crime hediondo. E pior. o tal Técnico Assistente formou ao longo dos anos uma organização para recrutamento de talentos jovens para futuros jogadores, sob o pretexto de ajudar famílias em risco social onde esses talentos fossem presentes, e dessa maneira usou tal mecanismo para ter acesso a jovens para praticar sua perversão. Acuados pela necessidade e pela "ajuda", as vítimas nunca acusaram o perpetrante. O crime aconteceu ao longo de alguns anos, e há 20 anos atrás, e só agora veio à tona porque um ex-jogador que, depois de graduado, passou a fazer parte do grupo de técnicos do time de futebol da Universidade não aguentou mais esconder a verdade, tendo flagrado o perpetrante no ato de molestação sexual de um jovem menor de idade no vestiário masculino. Na época, esse ex-jogador relatou o que viu ao Técnico Chefe, que apenas seguiu relatando o que estava sendo alegado para o Diretor de Esportes e daí para cima até o Presidente e a Diretoria da Universidade. Mas como o perpetrante era visto como um benfeitor da comunidade, e não havia acusação de vítimas, nada foi feito e o caso foi acobertado. Agora, com o relato desse ex-jogador às autoridades, as vítimas, hoje homens feitos, e suas famílias, começaram a aparecer e corroborar a acusação. Nos Estados Unidos, quando escândalos afloram, as coisas não acontecem como no Brasil, onde tudo acaba em "pizza" e ninguém é punido. Lá a justiça é rápida, e incisiva. Imediatamente os Curadores da Universidade se reuniram, e foram as seguintes as consequências imediatas: 1. O perpetrante, hoje já aposentado, foi destituído de sua aposentadoria e FOI PRESO!!, estando aguardando julgamento; 2. O Presidente da Universidade, o mesmo da época do crime, e o Presidente de maior mandato ativo entre TODAS as Universidades Americanas, foi sumàriamente demitido e escoltado para fora do campus; 3. O Diretor de Esportes da época, ainda na ativa mas em outra função dentro da Universidade foi sumàriamente demitido, e escoltado para fora do campus; 4. E o maior golpe de visibilidade pública, o Técnico Chefe do time de futebol americano, um homem que era uma LENDA no meio esportivo universitário americano, de nome Joseph Paterno, conhecido carinhosamente por todo o país como "Joe Pa", um homem de 85 anos, 60 dos quais envolvidos com o time de futebol americano da Universidade, os últimos 42 dos quais como Técnico Chefe (desde 1969...), foi sumàriamente demitido, e impedido de atuar nos últimos 3 jogos ainda por ocorrer no campeonato deste ano de 2011. Portanto, em suma, o perpetrante foi PRESO, e a cadeia de comando que acobertou o crime foi extirpada! É difícil para a cultura Brasileira entender o alcance do que eu estou aqui narrando, pois no Brasil não há respeito pelo conhecimento, e pelas instituições que o ministram e avançam, as Universidades. Nos Estados Unidos, as Universidades são pràticamente VENERADAS pelos seus alunos e ex-alunos, são chamadas de "Alma Matter", diretamente do Latim a "Alma Mãe"! dos seus formandos. Meu genro (como diz minha esposa, o "nosso genro preferido"... nós só temos UMA filha... :-) formou-se pela Universidade de Penn State, e eu nunca o vi tão abalado como pelo desenrolar desses acontecimentos. No Brasil também é costume se tentar reescrever a história para acobertar fatos vergonhosos que o poder vigente não quer que venham a público. Mas qualquer curso de Gerência de Crises reza que essa é a pior coisa que se pode fazer em tais situações, e que uma vez comprovadas a existência e as causas de uma crise, a melhor postura é a admissão da culpa (história não se reescreve...), a extirpação imediata das causas (como fez a Universidade de Penn State), o apôio e ressarcimento, se possível, de perdas para as vítimas (a Universidade de Penn State estabeleceu um fundo de apôio às vítimas e suas famílias) e a comunicação aberta e reforçada ao público em geral dos valores nobres da instituição. Assim (bem e honestamente) gerenciadas, CRISES que são fatos e que portanto não podem ser escondidas ou simplesmente ignoradas, podem se tornar OPORTUNIDADES para que instituições emerjam mais fortes e reforçadas após o baque inevitável. Lembro-me nos poucos anos em que trabalhei na firma J&J da famosa crise em que cápsulas de Tylenol por ela fabricadas foram criminosamente injetadas com cianureto, e causaram a morte de sete pessoas na cidade de Chicago. A admissão de uma culpa não existente fez com que o valor das ações da firma na bolsa de valores se esvaísse imediatamente, mas ainda assim TODO ESSE MEDICAMENTO, uma das maiores fontes de receita da firma, foi retirado da venda pública, e uma comunicação aberta e honesta com o público consumidor fez com que a J&J emergisse ainda mais forte no mercado, e esse caso ainda é até hoje mencionado nas Faculdades de Administração de Empresas como uma Gerência EXEMPLAR de uma crise. Se nós no Brasil soubéssemos (ou quiséssemos) gerenciar nossas crises exemplarmente, aberta e honestamente, há uma crise inegável instalada pelas duas últimas administrações federais do ex-Presidente Lula. A oficialização da falcatrua, da roubalheira, da corrupção; a ridicularização completa do conhecimento, do mérito e do estudo sério; a falácia da inclusão social promovida de modo não sustentável pelo aumento do acesso ao crédito e de bolsas-esmolas, ao invés de pela educação e treinamento de competências que permitam um progresso social sustentável. A Presidente Dilma entrou extirpando causas de corrupção a torto e a direito. Em uma entrevista à revista "The New Yorker" (05 de Dezembro de 2011) ela disse que seu livro de cabeceira preferido é "A Educação de Henry Adams" e se disse fascinada pelo papel dos Adams (John e Henry) na formação da nação americana, a super-potência que ela veio a ser. Disse ela que "... os invejava, por reconhecer que uma super-potência só pode ser construida com base na educação". Lula foi a CRISE. Será que Dilma é a OPORTUNIDADE de um Brasil emergir mais forte? Esperemos que sim...
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 47/2011 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 953 – 16/12/2011).
Nenhum comentário:
Postar um comentário