Silvino Geremia em em 1996 (topo) e em 2011 com seus Empregados
“PROCURA-SE BRASILEIROS COMO O SR. SILVINO
GEREMIA”
Na semana passada comentei sôbre comentários que
recebi a respeito dos conselhos dados pelo Primeiro Ministro da China para um
Brasil melhor, e disse que êles foram reservados, até apáticos, uma cultura "bichada"
pelo verme do conformismo. "Não adianta fazer nada... políticos são
corruptos mesmo... nada nunca muda..." Aí no fim de semana passado um
amigo me enviou o seguinte texto,
publicado na revista EXAME: "Acabo
de descobrir mais um desses absurdos que só servem para atrasar a vida das
pessoas que tocam e fazem este país: investir em Educação é contra a lei .
Vocês não acreditam? Minha empresa, a GEREMIA, tem 25 anos e fabrica
equipamentos para extração de petróleo, um ramo que exige tecnologia de ponta e
muita pesquisa. Disputamos cada pedacinho do mercado com países fortes, como os
Estados Unidos e o Canadá. Só dá para ser competitivo se eu tiver pessoas
qualificadas trabalhando comigo. Com essa preocupação criei, em 1988, um
programa que custeia a educação em todos os níveis para qualquer funcionário,
seja ele um varredor ou um técnico. Este ano, um fiscal do INSS visitou a nossa
empresa e entendeu que Educação é Salário Indireto. Exigiu o recolhimento da
contribuição social sobre os valores que pagamos aos estabelecimentos de ensino
freqüentados por nossos funcionários, acrescidos de juros de mora e multa pelo
não recolhimento ao INSS. Tenho que pagar 26 mil reais à Previdência por
promover a educação dos meus funcionários? Eu honestamente acho que não. Por
isso recorri à Justiça. Não é pelo valor em si , é porque acho essa tributação
um atentado. Estou revoltado. Vou continuar não recolhendo um centavo ao INSS,
mesmo que eu seja multado 1000 vezes. O Estado brasileiro está completamente
falido. Mais da metade das crianças que iniciam a 1ª série não conclui o ciclo
básico. A Constituição diz que educação é direito do cidadão e um dever do
Estado. E quem é o Estado? Somos todos nós. Se a União não tem recursos e eu
tenho, acho que devo pagar a escola dos meus funcionários. Tudo bem, não estou
cobrando nada do Estado. Mas também não aceito que o Estado me penalize por
fazer o que ele não faz. Se essa moda pega, empresas que proporcionam cada vez
mais benefícios vão recuar. Não temos mais tempo a perder. As leis retrógradas,
ultrapassadas e em total descompasso com a realidade devem ser revogadas. A
legislação e a mentalidade dos nossos homens públicos devem adequar-se aos
novos tempos. Por favor, deixem quem está fazendo alguma coisa trabalhar em
paz. E vão cobrar de quem desvia dinheiro, de quem sonega impostos, de quem
rouba a Previdência, de quem contrata mão-de-obra fria, sem registro algum. Eu
Sou filho de família pobre, de pequenos agricultores, e não tive muito estudo.
Somente consequi completar o 1º grau aos 22 anos e, com dinheiro ganho no meu
primeiro emprego, numa indústria de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, paguei
uma escola técnica de eletromecânica. Cheguei a fazer vestibular e entrar na
faculdade, mas nunca terminei o curso de Engenharia Mecânica por falta de
tempo. Eu precisava fazer minha empresa crescer. Até hoje me emociono quando
vejo alguém se formar. Quis fazer com meus empregados o que gostaria que
tivessem feito comigo. A cada ano cresce o valor que invisto em educação porque
muitos funcionários já estão chegando à Universidade. O fiscal do INSS acredita
que estou sujeito a ações judiciais. Segundo ele, algum empregado que não
receba os valores para educação poderá reclamar uma equiparação salarial com o
colega que recebe. Nunca, desde que existe o programa, um funcionário meu
entrou na Justiça. Todos sabem que estudar é uma opção daqueles que têm vontade
de crescer. E quem tem esse sonho pode realizá-lo porque a empresa oferece essa
oportunidade. O empregado pode estudar o que quiser, mesmo que seja Filosofia,
que não teria qualquer aproveitamento prático na nossa Empresa GEREMIA. No
mínimo, ele trabalhará mais feliz. Meu sonho de consumo sempre foi uma
Mercedes-Benz. Adiei sua realização várias vezes porque, como cidadão
consciente do meu dever social, quis usar meu dinheiro para fazer alguma coisa
pelos meus 280 empregados. Com os valores que gastei no ano passado na educação
deles, eu poderia ter comprado Duas Mercedes. Teria mandado dinheiro para fora
do País e não estaria me incomodando com essas leis absurdas. Mas infelizmente
não consigo fazer isso. Eu sou um teimoso. No momento em que o modelo de Estado
que faz tudo está sendo questionado, cabe uma outra pergunta. Quem vai fazer no
seu lugar? Até agora, tem sido a iniciativa privada. Não conheço, felizmente,
muitas empresas que tenham recebido o mesmo tratamento que a GEREMIA recebeu da
Previdência por fazer o que é dever do Estado. As que foram punidas preferiram
se calar e, simplesmente, abandonar seus programas educacionais. Com esse
alerta temo desestimular os que ainda não pagam os estudos de seus
funcionários. Não é o meu objetivo. Eu, pelo menos, continuarei ousando ser
empresário, a despeito de eventuais crises, e não vou parar de investir no meu
patrimônio mais precioso: as pessoas. Eu sou mesmo teimoso!... Não tem
jeito..." Pesquisando no site da EXAME, descobri que o texto foi, de
fato, publicado na edição 619, em 25 de Setembro de 1996! E causou um impacto
tremendo, inclusive ao então Presidente Fernando Henrique Cardoso (Presidente
com P maiúsculo, que merece o título) que, no ano seguinte de 1997 assinou uma
lei que isentou despesas com educação como as da GEREMIA da tributação. Em 23
de Junho de 2011, em sua edição 995, EXAME publicou
um desfecho da história, e isso causou uma avalanche do assunto na Internet
como se o assunto fôsse recente (o e-mail do meu amigo foi parte disso...). Nos
últimos 15 anos Silvino Geremia continuou sua política de custear a educação
dos seus empregados, fator preponderante no seu sucesso continuado. E hoje
alguns deles passam boa parte do seu tempo respondendo aos mais de MIL
comentários diários no site da GEREMIA elogiando o Sr. Silvino Geremia pela sua
posição e persistência. Talvez haja uma luz no fim do túnel que não seja um trem
vindo... Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor
universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 16/2012 – Jornal da Região
– ANO XVIII, No 971 – 27/04/2012).
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