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quarta-feira, 2 de maio de 2012

O PROGRAMA ESPACIAL AMERICANO... E EU...

NEIL ARMSTRONG NA LUA
NEIL ARMSTRONG


COLUMBIA DECOLANDO - STS1
COLUMBIA ATERRISANDO - STS1



                              
                                COMANDANTE JOHN YOUNG E PILOTO ROBERT CRIPPEN
      
ENTERPRISE CHEGA A NEW YORK


ENTERPRISE VOA SOBRE A ESTATUA DA LIBERDADE




“O PROGRAMA ESPACIAL AMERICANO... E EU..."

Como todo bom engenheiro, projetos ambiciosos e desafiantes sempre me fascinaram... Lembro-me como se fosse hoje, nos idos de 1969, quando o astronauta Americano Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na Lua, como Comandante da APOLLO 11. Dizem que a gente sempre se lembra onde estava durante eventos que mudam a história do mundo... pois bem, nesse dia eu me encontrava em Guaxupé, e assisti o evento em uma TV branco e preto na casa da Vó Tana, a Dna. Sebastiana, avó daquela que era então minha noiva, e que é hoje minha esposa e companheira por 44 anos. Presentes estavam também vários primos dela, além da Vó Tana que dizia a todos que aquilo não podia ser verdade, que era tudo uma armação, um filme feito pelos Americanos para enganar o mundo. Isso enquanto Neil Armstrong transmitia da Lua, ao descer o último degrau da escada do módulo lunar para a superfície da Lua, sua frase que ficou famosa: "A small step for me, a giant  leap for mankind..." (Um pequeno passo para mim, um salto gigante para a humanidade...). Anos mais tarde, em 1976, quando visitei a Universidade de Michigan pela primeira vez representando o Governo Federal Brasileiro, fiquei hospedado no campus central da Universidade, em um prédio chamado Michigan Union, o qual acomodava em suas dependências um pequeno hotel para professores visitantes. Na escadaria de entrada do prédio, uma placa comemorativa me chamou a atenção; nela estão inscritas as seguintes palavras: "Nestes degraus em 1960 o Presidente John F. Kennedy proferiu o famoso discurso desafiando o estabelecimento científico Americano a colocar um homem na Lua antes do fim daquela década." E êles conseguiram! Alguns anos mais tarde, como aluno de pós-graduação daquela Universidade e depois como membro de seu corpo docente, vim a entender bem por que êles conseguiram; se eu tivesse de resumir em algumas palavras esse porquê, eu diria: Seriedade, Investimento em Educação, Respeito pelo Conhecimento, Reconhecimento de Mérito, além de uma disciplina ferrenha em Gerência de Projetos. Mas nada como ver "in loco" o local onde tudo aconteceu, e foi assim que anos mais tarde, em 1981, quando visitei o estado Americano da Flórida com minha família pela primeira vez, tive a oportunidade de visitar o então "Cape Canaveral", hoje "Cape Kennedy", de onde foram lançados os foguetes Saturno V do Projeto APOLLO, inclusive o APOLLO 11 que levou Armstrong à Lua. Lá o Projeto APOLLO é relatado e demonstrado com uma apresentação impressionante ao público visitante, de uma maneira extremamente didática como um verdadeiro museu de ciência, visando passar aos jovens que visitam, como meus filhos, o (bom) orgulho e o sentimento do dever cumprido, respondendo ao desafio do então Presidente Kennedy, daqueles que contribuiram para aquela conquista. Mas outro encontro fascinante estava à minha espera naquela visita. A semana em que estive no "Cape Canaveral" foi a semana que antecedeu o primeiro vôo do Ônibus Espacial Americano, e o conjunto contendo a nave COLUMBIA, o gigantesco tanque de combustível líquido, e os dois foguetes laterais de combustível sólido já estava fazendo o percurso do prédio de montagem para a plataforma de lançamento, e pudemos vê-la de perto, em toda a sua glória. Quem assistiu aos famosos filmes "The Right Stuff" sôbre o treinamento dos primeiros astronautas, e "Apollo 13", sôbre o quase-desastre da missão do título, sabe que um dos pontos de contenção do Projeto Apollo, pelos seus próprios astronautas, era a forma em que as cápsulas Apollo retornavam à Terra, suspensas por pára-quedas e mergulhando no oceano, onde eram recuperadas por navios porta-aviões da Marinha Americana. Os astronautas Americanos, todos pilotos renomados da Marinha e da Aeronáutica, queriam voltar "pilotando" suas naves, e não da forma descrita. O famoso piloto Americano Chuck Yeager, o primeiro homem a quebrar a barreira do som em um jato, declinou a oferta de tornar-se um astronauta do Projeto Apollo por causa dessa questão. E aí a nova fase da conquista espacial estava para acontecer... o Ônibus Espacial, uma nave que decolava como os foguetes, e retornava como os aviões, aterrisando como um planador gigante. O vôo inaugural da semana seguinte foi emocionante; acompanhei-o passo-a-passo da nossa casa em Michigan. Planejada para uma tripulação de 7 astronautas, a COLUMBIA foi ao espaço com apenas dois, escolhidos a dedo: o Comandante John Young, um dos mais graduados pilotos astronautas da equipe, que dada sua idade já um pouco avançada para a missão teve suas lentes de correção visual especialmente adaptadas em seu capacete de astronauta; e o piloto Robert Crippen, o piloto julgado mais capacitado nos testes de aterrisagem executados com o modêlo do Ônibus Espacial ENTERPRISE na fase de preparação dos vôos espaciais. Esses testes consistiam em pilotar a ENTERPRISE depois de se soltar do topo de um Boeing 747 em vôo, e aterrisá-lo, simulando assim a última parte do vôo espacial, após a reentrada na atmosfera terrestre. A imagem da COLUMBIA aterrisando no vôo inaugural, e de John Young e Bob Crippen saindo da nave e correndo sob ela para examiná-la quanto a possíveis estragos nos ladrilhos especiais que cobriam sua "barriga" e a defenderam da reentrada escorchante na atmosfera terrestre, contrariando os membros da equipe de recepção que os queriam isolados para exame médico de quaisquer consequências da exposição dos seus corpos ao vôo espacial, ficou marcada para sempre na minha memória. Nem tudo, é claro, em projetos de tamanha envergadura é sucesso. Três desastres com perda de vida humana também marcaram fundo o programa espacial Americano, um incêndio de uma cápsula Apollo durante uma simulação na plataforma de lançamento matou os astronautas Gus Grisson, James McDivitt e Roger Schaffee no início do Projeto Apollo, e dois Ônibus Espaciais se desintegraram matando suas tripulações: a CHALLENGER explodiu durante a decolagem, e a própria COLUMBIA se desintegrou durante a reentrada na atmosfera terrestre. Porém são inúmeros os benefícios conseguidos pelos vôos espaciais, muitos certamente para listá-los aqui, mas talvez em uma coluna futura eu decida enumerá-los. E as 17 vidas perdidas no processo são veneradas como heróis e heroinas que as deram em prol do bem maior. Depois de 30 anos ativos, o Programa dos Ônibus Espaciais Americanos chegou ao fim, e foi aposentado no ano passado. As 4 naves restantes (ENTERPRISE, ATLANTIS, DISCOVERY, e ENDEAVOR) foram doadas pela NASA a 4 Museus: o "Johnson Space Center" em Houston no Texas, o "Kennedy Space Center" na Flórida, o "Air and Space Museum" do Smithsonian Institution na Capital Washington e o "Intrepid" na cidade de New York, onde serão expostas para continuar ensinando, motivando, maravilhando a juventude Americana a liderar novas conquistas. Na Sexta-feira da semana passada tive a felicidade de levar um dos meus netos para presenciarmos a chegada da ENTERPRISE a New York, no topo do Boeing 747 que a transportou desde os primeiros testes acima descritos, fazendo um vôo rasante sôbre o Rio Hudson, e sôbre o convés de vôo do Intrepid, onde ela ficará exposta ao público para sempre. O Intrepid é um porta-aviões da época da 2a Guerra Mundial que participou de recuperações de cápsulas espaciais Mercury, Gemini, e Apollo nos primórdios dos vôos espaciais tripulados, e hoje é um museu ancorado eternamente ao longo da costa oeste de Manhattan, no Rio Hudson. Foi um outro momento muito especial e emocionante para mim, e os olhos do meu netinho brilharam... A NASA já fala da próxima fase, com naves que nos levarão a Marte e além. Meus netos certamente presenciarão isso. Será que eu presenciarei...? Mal posso esperar...            

O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 17/2012 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 972 – 04/05/2012).

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