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segunda-feira, 14 de maio de 2012

AS ANTILHAS HOLANDESAS

NO CENTRO DE ORANJESTAD...


ÁGUAS TURQUESAS NAS ROCHAS VULCÂNICAS


PÔR DO SOL EM ARUBA



“AS ANTILHAS HOLANDESAS"

Tive recentemente a oportunidade de visitar uma das três ilhas conhecidas como As Antilhas Holandesas, no Mar do Caribe, bem ao Norte da costa Atlântica da Venezuela. As três ilhas são: Aruba, Bonaire, e Curaçao, e eu estive em Aruba. Com a economia hoje pràticamente movida pela indústria do turismo, foi interessante conhecer um pouco da história desse belo e prazeiroso lugar. Fiquei hospedado bem em frente a uma praia chamada "Eagle Beach" (Praia das Águias), onde ficam os hotéis mais antigos, conhecidos como Hotéis Baixos (até 4 andares), na capital da ilha, a cidade de Oranjestad. Essa praia é conhecida como uma das melhores praias de todo o Caribe, e eu tenho de concordar com essa fama. Situada na costa Oeste da ilha, portanto protegida do Atlântico aberto e também pela forma geográfica da "Paardenbaal" (Baía dos Cavalos - explico o nome mais tarde), a praia de areia fininha e bege bem clarinho apresenta um mar que é pràticamente uma piscina turquesa de água salgada cristalina (dá para ver os pés mesmo quando o fundo não dá mais pé...). Realmente uma beleza! Bem, não para a prática do "surf", mas ótima para o sexagenário aqui! Do outro lado da ilha, o lado Leste (não se impressionem... a iha só tem ~10 Km. de largura, sentido L-O), a costa não inclue praias, mas sim penhascos baixos de rochas vulcânicas castigadas constantemente por um mar turquesa, formando vários golfos pequenos de uma beleza ímpar. Nessa costa, ao longo da parte Sul da ilha (não se impressionem... a ilha só tem ~32 Km. de comprimento, sentido N-S), situa-se o Parque Nacional de ARIKOK, que cobre ~20% da área da ilha, bem ao norte da cidade de San Nicolas na ponta Sul, a segunda cidade em população da ilha. O Parque ARIKOK é bem rústico, e mostra a vegetação original local, parecida com a do nosso cerrado, com árvores de tronco e galhos tortuosos chamadas DIVI, cujos galhos sempre apontam para o Oeste, que é a direção constante dos ventos fortes que assolam a ilha, mas apresentando também florestas de cactus. Na costa, o Parque mostra cavernas interessantes formadas pelas marés antigas durante a formação vulcânica da ilha, e no extremo Sul há uma usina de energia eólica com 10 moinhos geradores ENORMES, aproveitando inteligentemente aqueles ventos acima mencionados. Desse extremo Sul, em dias claros, avista-se a olho nu a costa da Venezuela e também a ilha vizinha de Curaçao. Quanto à fauna, muitos pássaros endêmicos agradam a vista e os ouvidos não só no Parque, como também em um Santuário para observação de pássaros que fica em Oranjestad. No Parque vê-se gaviões carcará em abundância. Há também na ilha u'a manada de burricos selvagens, u'a manada de bodes, e lagartos de todos os tamanhos perambulando por tudo que é lugar. A lei de trânsito de Aruba reza ser CRIME atropelar qualquer desses animais, e, como segundo pensamento, a lei diz que TAMBÉM é crime atropelar pedestres... portanto, se você fôr guiar por lá, cuidado! No centro de Oranjestad, o prédio mais antigo ainda existente é um antigo forte chamado Forte Zoutman, construido pelos Holandeses no século XVIII. Nesse forte há um pequeno museu que conta de maneira simples e bem organizada a história da ilha, um sumário da qual passo a compartilhar com vocês, pois a acho interessante por vários aspectos. Os restos mortais humanos mais antigos encontrados na ilha datam de ~2000 AC, e mostram características morfológicas e anatômicas de índios sul-americanos que devem ter-se transportado para a ilha da costa da Venezuela (apenas ~40 Km. de distância), um grupo pequeno (est. 50) cujos descendentes habitaram a ilha por milênios. Em volta de ~900 DC há evidência de uma imigração maior de índios CAQUETIO (tribo e linguagem ARAWOK), também sul-americanos, que iniciaram a agricultura e a criação de equinos, bovinos, e caprinos. O primeiro encontro com os Europeus data de 1499, apenas um ano antes da chegada de Cabral às nossas praias. Foram os Espanhóis que lá chegaram, e apelidaram as três ilhas de "Ilhas Inúteis" por não acharem, de imediato, sinais que indicassem a presença de metais preciosos. Não tiveram dificuldade, porém, em escravizar os nativos, forçá-los a migrar entre as ilhas, ou para outros lugares em apôio aos seus negócios, e proibiram a colonização da ilha pelos sul-americanos (gente fina os Espanhóis...). Isso durou até o início do século XVII, quando a Holanda formou a Compania das "West Indies" para explorar as colônias européias, e essa Compania passou então a gerir as ilhas, abrindo a imigração para quem quisesse se aventurar. Dizem os arquivos que mais de 40 raças, línguas, e culturas diferentes se aventuraram, e a miscigenação entre esses povos deu origem à população "crioula" de hoje da ilha (~100.000), e a evolução do dialeto local chamado PAPIAMENTO, uma mistura de espanhol e português com inserções de inglês, falado com sotaque holandês! Muito interessante, mas o mais interessante é que eu conseguia entender o sentido principal das frases! A língua oficial da ilha ainda  é o Holandês. Mas continuando a história, no início do século XVIII houve uma guerra entre os Holandeses e os Ingleses, e estes últimos ganharam. O Forte Zoutman é uma relíquia dessa época (Johan Arnold Zoutman foi um Contra-Almirante Holandês que enfrentou os Ingleses na ilha), mas com a derrota dos Holandeses, os Ingleses tomaram conta da ilha por +/- 10 anos. Como aquelas eram as "Ilhas Inúteis", êles a abandonaram, e os Holandeses voltaram e re-estabeleceram o seu govêrno na ilha, que na época dispunha de uma atividade razoável de criação de equinos, tanto que o Fort Zoutman foi, na realidade, mais usado na defesa contra piratas que aportavam para roubar os cavalos, e tudo o mais que consideravam de valor. Daí o nome de Baía dos Cavalos. No século XIX, ouro e fosfato foram descobertos na ilha, e o prospecto da mineração trouxe a esperança de mais negócios e mais trabalho, porém o baixo volume, a pirataria, e a exploração amadora e financialmente irresponsável criaram poucos anos bons, e muitos anos de incerteza. Ainda assim, uma das companias de mineração de ouro operou por quase cem anos, até o fim do século XVIII e o arquivo diz que durante o período de operação foram extraidas 1.500 toneladas de ouro. Essas atividades se esvaneceram no início do século XIX, quando a indústria do petróleo chegou à ilha para processar o petróleo do Mar do Caribe próximo à Venezuela. A compania européia Shell estabeleceu refinarias na ilha trazendo outra vez esperanças de negócios e trabalho, mas os negócios entre os Europeus e os Venezuelanos deixaram a desejar e novamente poucos anos esperançosos foram seguidos de incertezas até que com a 1a Guerra Mundial no início do século XX a Shell cessou suas atividades locais, trazendo uma crise financeira à ilha. A compania refinadora de petróleo Americana Valero opera hoje uma refinaria ativa no Sul da ilha. Finalmente com a beleza natural do lugar, a indústria do turismo desabrochou, e em 1985 Aruba conseguiu sua independência fiscal da Holanda, e vem se mantendo desde então com a economia movida pelos condomínios de propriedade compartilhada, o setor de hotelaria, e os navios de cruzeiro que incluiram a ilha nos seus roteiros caribenhos. Uma história interessante de um povo que sofreu séculos e séculos na mão de exploradores, até que resolveu, com parcerias certas e justas, assumir a responsabilidade sôbre o seu próprio destino; um testemunho patente à diferença entre exploradores e parceiros! Se vocês tiverem a oportunidade, visitem Aruba. Eu a recomendo, e espero que o conteúdo deste texto lhes seja útil, quando o fizerem. Boa semana a todos!
    
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 18/2012 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 973 - 18/05/2012).

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