NO CENTRO DE ORANJESTAD... |
ÁGUAS TURQUESAS NAS ROCHAS VULCÂNICAS |
PÔR DO SOL EM ARUBA |
“AS ANTILHAS HOLANDESAS"
Tive recentemente a oportunidade de
visitar uma das três ilhas conhecidas como As Antilhas Holandesas, no Mar do
Caribe, bem ao Norte da costa Atlântica da Venezuela. As três ilhas são: Aruba,
Bonaire, e Curaçao, e eu estive em Aruba. Com a economia hoje pràticamente
movida pela indústria do turismo, foi interessante conhecer um pouco da
história desse belo e prazeiroso lugar. Fiquei hospedado bem em frente a uma
praia chamada "Eagle Beach" (Praia das Águias), onde ficam os hotéis mais
antigos, conhecidos como Hotéis Baixos (até 4 andares), na capital da ilha, a
cidade de Oranjestad. Essa praia é conhecida como uma das melhores praias de
todo o Caribe, e eu tenho de concordar com essa fama. Situada na costa Oeste da
ilha, portanto protegida do Atlântico aberto e também pela forma geográfica da
"Paardenbaal" (Baía dos Cavalos - explico o nome mais tarde), a praia
de areia fininha e bege bem clarinho apresenta um mar que é pràticamente uma
piscina turquesa de água salgada cristalina (dá para ver os pés mesmo quando o
fundo não dá mais pé...). Realmente uma beleza! Bem, não para a prática do
"surf", mas ótima para o sexagenário aqui! Do outro lado da ilha, o
lado Leste (não se impressionem... a iha só tem ~10 Km. de largura, sentido
L-O), a costa não inclue praias, mas sim penhascos baixos de rochas vulcânicas
castigadas constantemente por um mar turquesa, formando vários golfos pequenos
de uma beleza ímpar. Nessa costa, ao longo da parte Sul da ilha (não se
impressionem... a ilha só tem ~32 Km. de comprimento, sentido N-S), situa-se o
Parque Nacional de ARIKOK, que cobre ~20% da área da ilha, bem ao norte da
cidade de San Nicolas na ponta Sul, a segunda cidade em população da ilha. O
Parque ARIKOK é bem rústico, e mostra a vegetação original local, parecida com
a do nosso cerrado, com árvores de tronco e galhos tortuosos chamadas DIVI,
cujos galhos sempre apontam para o Oeste, que é a direção constante dos ventos
fortes que assolam a ilha, mas apresentando também florestas de cactus. Na costa,
o Parque mostra cavernas interessantes formadas pelas marés antigas durante a
formação vulcânica da ilha, e no extremo Sul há uma usina de energia eólica com
10 moinhos geradores ENORMES, aproveitando inteligentemente aqueles ventos
acima mencionados. Desse extremo Sul, em dias claros, avista-se a olho nu a
costa da Venezuela e também a ilha vizinha de Curaçao. Quanto à fauna, muitos
pássaros endêmicos agradam a vista e os ouvidos não só no Parque, como também
em um Santuário para observação de pássaros que fica em Oranjestad. No Parque
vê-se gaviões carcará em abundância. Há também na ilha u'a manada de burricos
selvagens, u'a manada de bodes, e lagartos de todos os tamanhos perambulando
por tudo que é lugar. A lei de trânsito de Aruba reza ser CRIME atropelar
qualquer desses animais, e, como segundo pensamento, a lei diz que TAMBÉM é
crime atropelar pedestres... portanto, se você fôr guiar por lá, cuidado! No
centro de Oranjestad, o prédio mais antigo ainda existente é um antigo forte
chamado Forte Zoutman, construido pelos Holandeses no século XVIII. Nesse forte
há um pequeno museu que conta de maneira simples e bem organizada a história da
ilha, um sumário da qual passo a compartilhar com vocês, pois a acho
interessante por vários aspectos. Os restos mortais humanos mais antigos
encontrados na ilha datam de ~2000 AC, e mostram características morfológicas e
anatômicas de índios sul-americanos que devem ter-se transportado para a ilha
da costa da Venezuela (apenas ~40 Km. de distância), um grupo pequeno (est. 50)
cujos descendentes habitaram a ilha por milênios. Em volta de ~900 DC há
evidência de uma imigração maior de índios CAQUETIO (tribo e linguagem ARAWOK),
também sul-americanos, que iniciaram a agricultura e a criação de equinos,
bovinos, e caprinos. O primeiro encontro com os Europeus data de 1499, apenas
um ano antes da chegada de Cabral às nossas praias. Foram os Espanhóis que lá
chegaram, e apelidaram as três ilhas de "Ilhas Inúteis" por não
acharem, de imediato, sinais que indicassem a presença de metais preciosos. Não
tiveram dificuldade, porém, em escravizar os nativos, forçá-los a migrar entre
as ilhas, ou para outros lugares em apôio aos seus negócios, e proibiram a
colonização da ilha pelos sul-americanos (gente fina os Espanhóis...). Isso
durou até o início do século XVII, quando a Holanda formou a Compania das
"West Indies" para explorar as colônias européias, e essa Compania
passou então a gerir as ilhas, abrindo a imigração para quem quisesse se
aventurar. Dizem os arquivos que mais de 40 raças, línguas, e culturas
diferentes se aventuraram, e a miscigenação entre esses povos deu origem à
população "crioula" de hoje da ilha (~100.000), e a evolução do
dialeto local chamado PAPIAMENTO, uma mistura de espanhol e português com inserções
de inglês, falado com sotaque holandês! Muito interessante, mas o mais
interessante é que eu conseguia entender o sentido principal das frases! A
língua oficial da ilha ainda é o
Holandês. Mas continuando a história, no início do século XVIII houve uma guerra
entre os Holandeses e os Ingleses, e estes últimos ganharam. O Forte Zoutman é
uma relíquia dessa época (Johan Arnold Zoutman foi um Contra-Almirante Holandês
que enfrentou os Ingleses na ilha), mas com a derrota dos Holandeses, os
Ingleses tomaram conta da ilha por +/- 10 anos. Como aquelas eram as
"Ilhas Inúteis", êles a abandonaram, e os Holandeses voltaram e
re-estabeleceram o seu govêrno na ilha, que na época dispunha de uma atividade
razoável de criação de equinos, tanto que o Fort Zoutman foi, na realidade,
mais usado na defesa contra piratas que aportavam para roubar os cavalos, e
tudo o mais que consideravam de valor. Daí o nome de Baía dos Cavalos. No
século XIX, ouro e fosfato foram descobertos na ilha, e o prospecto da
mineração trouxe a esperança de mais negócios e mais trabalho, porém o baixo
volume, a pirataria, e a exploração amadora e financialmente irresponsável
criaram poucos anos bons, e muitos anos de incerteza. Ainda assim, uma das
companias de mineração de ouro operou por quase cem anos, até o fim do século
XVIII e o arquivo diz que durante o período de operação foram extraidas 1.500
toneladas de ouro. Essas atividades se esvaneceram no início do século XIX,
quando a indústria do petróleo chegou à ilha para processar o petróleo do Mar do
Caribe próximo à Venezuela. A compania européia Shell estabeleceu refinarias na
ilha trazendo outra vez esperanças de negócios e trabalho, mas os negócios
entre os Europeus e os Venezuelanos deixaram a desejar e novamente poucos anos
esperançosos foram seguidos de incertezas até que com a 1a Guerra Mundial no
início do século XX a Shell cessou suas atividades locais, trazendo uma crise
financeira à ilha. A compania refinadora de petróleo Americana Valero opera
hoje uma refinaria ativa no Sul da ilha. Finalmente com a beleza natural do
lugar, a indústria do turismo desabrochou, e em 1985 Aruba conseguiu sua
independência fiscal da Holanda, e vem se mantendo desde então com a economia
movida pelos condomínios de propriedade compartilhada, o setor de hotelaria, e
os navios de cruzeiro que incluiram a ilha nos seus roteiros caribenhos. Uma
história interessante de um povo que sofreu séculos e séculos na mão de
exploradores, até que resolveu, com parcerias certas e justas, assumir a
responsabilidade sôbre o seu próprio destino; um testemunho patente à diferença
entre exploradores e parceiros! Se vocês tiverem a oportunidade, visitem Aruba.
Eu a recomendo, e espero que o conteúdo deste texto lhes seja útil, quando o
fizerem. Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor
universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 18/2012 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 973
- 18/05/2012).
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