AS "ACOMODAÇÕES" DO J.U.C.A. |
Dr. JOSÉ RIBEIRO DO VALLE - O VOVÔ JUCA |
“J.U.C.A. TAMBÉM ERA O APELIDO DO MEU
SOGRO..."
Neste
último fim-de-semana ocorreu em Guaxupé um espetáculo deprimente
intitulado J.U.C.A. - Jogos Universitários de Comunicação e Artes. A idéia, me parece, é reunir jovens
universitários de vários locais, ou várias cidades e suas Universidades para
competir em várias modalidades de esporte. Tomei conhecimento que Guaxupé iria
ser o anfitrião de tal encontro este ano de u'a maneira assaz sui-generis;
estava trabalhando em assuntos Rotários com um amigo e companheiro do Rotary
Club de Guaxupé que milita na área de seguros, e êle me contou a seguinte
historinha: havia êle recebido dias atrás um telefonema de um amigo pedindo se
êle intermediaria com uma compania de seguros a execução de uma apólice para um certo prédio local de sua propriedade.
Achando o pedido meio estranho, o meu amigo indagou mais detalhes, e acabou
ouvindo a seguinte locução: "ah, esse é um prédio meu que já está fechado
há algum tempo, onde funcionava uma loja que fechou, e eu vou alugar para essa
tropa de moleques que vem aí para o J.U.C.A. e como êles vem aqui para beber,
aprontar, e detonar tudo que tem pela frente êles provàvelmente vão quebrar
várias coisas do prédio e a gente aproveita para ganhar uns cobres da compania
de seguros"... !!!!!!... Como é que é?? "... "beber, aprontar, e
detonar tudo que tem pela frente???" O J.U.C.A. não é uma competição de...
esportes, pensei eu ingenuamente? É claro que o meu amigo não caiu naquela
esparrela do tal de seguro de última hora, o que até causou um certo
estremecimento na amizade com o requerente, mas sua reputação com as companias
de seguro e sua integridade falaram mais alto. Ficou dessa interação um
sentimento esquisito... será verdade? Mas classifiquei-o como um provável
exagêro, afinal jovens que vinham competir em um evento de esportes não se
comportariam mal na cidade que os estava anfitrionando. E aí chegou o feriado
de Corpus Christi, e notei que vários ônibus circulavam pela cidade repletos de
jovens, e também carros com chapas de fora trafegando com escapamentos abertos
e tocando buzinas altas e pouco convencionais em horário estranho para qualquer
tipo de buzina. Mas até aí tudo bem, pensei eu... coisas da juventude, mas o
esporte é saudável, e êles estão aqui para competir nos esportes... sejamos
pacientes. Aí na tarde do feriado eu inadvertidamente tentei chegar à Avenida
Dna. Floriana pela rua do Polo Esportivo, e me deparei com a rua fechada,
apinhada de jovens na rua, em frente ao Centro de Esportes do SESI. Ah... o
J.U.C.A... vamos dar uma olhada, pensei, e caminhei um pouco entre os jovens, e
aí notei que pràticamente todos... TODOS... estavam com uma latinha de cerveja
na mãos... estranho, pensei... como a ingestão de bebidas alcoólicas combina
com competir, buscar a excelência em uma modalidade de esporte? Mas, pensei,
sejamos pacientes... é provàvelmente só durante a abertura dos jogos... um
pouco de descontração... sejamos pacientes. Mas aí amigos e vizinhos começaram
a reportar que os jovens, alguns alcoolizados , estavam batendo às suas portas
para usarem o banheiro, e tomar banho nas casas, pois estavam acampados...
!?!?!?! e os tais carros com o escapamento aberto e as buzinas estridentes se
tornaram mais frequentes, não respeitando as leis de trânsito da cidade, como
por exemplo seguindo contra-mão pela Alameda dos Miosótis em direção à Avenida
das Orquídeas sem dar a volta na Praça das Orquídeas, em alta velocidade, com o
stereo ligado à toda, colocando em risco transeuntes e outros carros circulando
pelo local. Ouvi de amigos que shows no Parque da Exposição para os
participantes do J.U.C.A. estavam programados para todas as noites, e deviam
durar a noite inteira! Como é que é?? Esse povo não vai competir em modalidades
esportivas?? Outros amigos notaram que todos os jovens usavam uma espécie de
faixa colorida em volta do pescoço, e indagaram se aquelas eram as cores da
Universidade ou da Cidade que representavam... só para descobrir pasmados que
aquelas faixas eram na verdade porta-latinhas de cerveja, distribuidos pelas
distribuidoras de cerveja que não faltavam com seus caminhões para abastecer
aonde os jovens estivessem aglomerados. Depois de duas noites de barulhos
ensurdecedores das festas noturnas, no Sábado de manhã cedo, lá pelas 8 da
manhã, desci a Rua Agenor Alves de Araujo, a rua do Clube Operário, e passei
naquela escola que fica no quarteirão de baixo do Clube, e me deparei com um
dos tais acampamentos no galpão recém coberto sôbre a quadra de esportes da
escola. Uma cena deprimente com aquelas barracas amontoadas umas sôbre as
outras, roupas penduradas para secar ao longo da cerca da escola, e jovens,
meninas e meninos, pràticamente semi-nus, perambulando entre as barracas e
pelas ruas que circundam a escola com ... o que nas mãos? Vocês adivinharam,
latinhas de cerveja! Às 8 da manhã!! E esses jovens vão competir em algum
esporte?? Minha gente, que mensagem estamos dando aos nossos jovens, sendo
coniventes com esse estado de coisas? Para completar esse quadro patético, conversando
com uma amigo médico na Segunda-feira de manhã, soube que durante o
fim-de-semana do J.U.C.A. o Pronto-Socorro da Santa Casa de Misericórdia foi
lotado com casos envolvendo jovens alcoolizados, drogados, machucados durante a
depredação de algo na cidade, ou envolvidos em acidentes de carro. Eu repito,
que mensagem estamos dando aos nossos jovens sendo coniventes com esse estado
de coisas? Sr. Prefeito, se não temos a infraestrutura necessária para acomodar
esses jovens com um mínimo de decência e dignidade, por que submetemos a nossa
cidade à vergonha de anfitrionar esse evento? O que temos a ganhar? Pior, o que
têm esses jovens participantes a ganhar? A prática dos esportes é
tradicionalmente um ambiente nobre, onde se aprende a ganhar, a perder, a fazer
parte de um time, a buscar a excelência. Visitei recentemente as ruinas da
cidade de Olympia na Grécia, berço dos Jogos Olímpicos que agora se aproximam
em Londres, e em 2016 aqui no nosso Rio de Janeiro, onde os atletas que
buscavam excelência em suas modalides e as venciam eram tratados como
semi-deuses! No caso do J.U.C.A. aqui, excelência em que? Em levantamento de
latinhas de cerveja e promiscuidade?? Como diz o título, JUCA foi, de fato, o
apelido do meu sogro, carinhosamente chamado de Dr. Juquita, ou como o
conheceram os meus filhos, o Vovô Juca, pesquisador e cientista mundialmente
renomado, educador emérito, filho importante de Guaxupé. Ainda bem que êle não
viveu para ver a sua Guaxupé transformada nesse antro que foi o fim-de-semana do
outro J.U.C.A. Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor
universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 22/2012 – Jornal da Região – ANO XIX, No 978 -
15/06/2012).
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