Total de visualizações de página

quarta-feira, 13 de junho de 2012

J.U.C.A. TAMBÉM ERA O APELIDO DO MEU SOGRO...


AS "ACOMODAÇÕES" DO J.U.C.A.

Dr. JOSÉ RIBEIRO DO VALLE - O VOVÔ JUCA




“J.U.C.A. TAMBÉM ERA O APELIDO DO MEU SOGRO..."

Neste  último fim-de-semana ocorreu em Guaxupé um espetáculo deprimente intitulado J.U.C.A. - Jogos Universitários de Comunicação e Artes. A idéia, me parece, é reunir jovens universitários de vários locais, ou várias cidades e suas Universidades para competir em várias modalidades de esporte. Tomei conhecimento que Guaxupé iria ser o anfitrião de tal encontro este ano de u'a maneira assaz sui-generis; estava trabalhando em assuntos Rotários com um amigo e companheiro do Rotary Club de Guaxupé que milita na área de seguros, e êle me contou a seguinte historinha: havia êle recebido dias atrás um telefonema de um amigo pedindo se êle intermediaria com uma compania de seguros a execução de uma apólice para um certo prédio local de sua propriedade. Achando o pedido meio estranho, o meu amigo indagou mais detalhes, e acabou ouvindo a seguinte locução: "ah, esse é um prédio meu que já está fechado há algum tempo, onde funcionava uma loja que fechou, e eu vou alugar para essa tropa de moleques que vem aí para o J.U.C.A. e como êles vem aqui para beber, aprontar, e detonar tudo que tem pela frente êles provàvelmente vão quebrar várias coisas do prédio e a gente aproveita para ganhar uns cobres da compania de seguros"... !!!!!!... Como é que é?? "... "beber, aprontar, e detonar tudo que tem pela frente???" O J.U.C.A. não é uma competição de... esportes, pensei eu ingenuamente? É claro que o meu amigo não caiu naquela esparrela do tal de seguro de última hora, o que até causou um certo estremecimento na amizade com o requerente, mas sua reputação com as companias de seguro e sua integridade falaram mais alto. Ficou dessa interação um sentimento esquisito... será verdade? Mas classifiquei-o como um provável exagêro, afinal jovens que vinham competir em um evento de esportes não se comportariam mal na cidade que os estava anfitrionando. E aí chegou o feriado de Corpus Christi, e notei que vários ônibus circulavam pela cidade repletos de jovens, e também carros com chapas de fora trafegando com escapamentos abertos e tocando buzinas altas e pouco convencionais em horário estranho para qualquer tipo de buzina. Mas até aí tudo bem, pensei eu... coisas da juventude, mas o esporte é saudável, e êles estão aqui para competir nos esportes... sejamos pacientes. Aí na tarde do feriado eu inadvertidamente tentei chegar à Avenida Dna. Floriana pela rua do Polo Esportivo, e me deparei com a rua fechada, apinhada de jovens na rua, em frente ao Centro de Esportes do SESI. Ah... o J.U.C.A... vamos dar uma olhada, pensei, e caminhei um pouco entre os jovens, e aí notei que pràticamente todos... TODOS... estavam com uma latinha de cerveja na mãos... estranho, pensei... como a ingestão de bebidas alcoólicas combina com competir, buscar a excelência em uma modalidade de esporte? Mas, pensei, sejamos pacientes... é provàvelmente só durante a abertura dos jogos... um pouco de descontração... sejamos pacientes. Mas aí amigos e vizinhos começaram a reportar que os jovens, alguns alcoolizados , estavam batendo às suas portas para usarem o banheiro, e tomar banho nas casas, pois estavam acampados... !?!?!?! e os tais carros com o escapamento aberto e as buzinas estridentes se tornaram mais frequentes, não respeitando as leis de trânsito da cidade, como por exemplo seguindo contra-mão pela Alameda dos Miosótis em direção à Avenida das Orquídeas sem dar a volta na Praça das Orquídeas, em alta velocidade, com o stereo ligado à toda, colocando em risco transeuntes e outros carros circulando pelo local. Ouvi de amigos que shows no Parque da Exposição para os participantes do J.U.C.A. estavam programados para todas as noites, e deviam durar a noite inteira! Como é que é?? Esse povo não vai competir em modalidades esportivas?? Outros amigos notaram que todos os jovens usavam uma espécie de faixa colorida em volta do pescoço, e indagaram se aquelas eram as cores da Universidade ou da Cidade que representavam... só para descobrir pasmados que aquelas faixas eram na verdade porta-latinhas de cerveja, distribuidos pelas distribuidoras de cerveja que não faltavam com seus caminhões para abastecer aonde os jovens estivessem aglomerados. Depois de duas noites de barulhos ensurdecedores das festas noturnas, no Sábado de manhã cedo, lá pelas 8 da manhã, desci a Rua Agenor Alves de Araujo, a rua do Clube Operário, e passei naquela escola que fica no quarteirão de baixo do Clube, e me deparei com um dos tais acampamentos no galpão recém coberto sôbre a quadra de esportes da escola. Uma cena deprimente com aquelas barracas amontoadas umas sôbre as outras, roupas penduradas para secar ao longo da cerca da escola, e jovens, meninas e meninos, pràticamente semi-nus, perambulando entre as barracas e pelas ruas que circundam a escola com ... o que nas mãos? Vocês adivinharam, latinhas de cerveja! Às 8 da manhã!! E esses jovens vão competir em algum esporte?? Minha gente, que mensagem estamos dando aos nossos jovens, sendo coniventes com esse estado de coisas? Para completar esse quadro patético, conversando com uma amigo médico na Segunda-feira de manhã, soube que durante o fim-de-semana do J.U.C.A. o Pronto-Socorro da Santa Casa de Misericórdia foi lotado com casos envolvendo jovens alcoolizados, drogados, machucados durante a depredação de algo na cidade, ou envolvidos em acidentes de carro. Eu repito, que mensagem estamos dando aos nossos jovens sendo coniventes com esse estado de coisas? Sr. Prefeito, se não temos a infraestrutura necessária para acomodar esses jovens com um mínimo de decência e dignidade, por que submetemos a nossa cidade à vergonha de anfitrionar esse evento? O que temos a ganhar? Pior, o que têm esses jovens participantes a ganhar? A prática dos esportes é tradicionalmente um ambiente nobre, onde se aprende a ganhar, a perder, a fazer parte de um time, a buscar a excelência. Visitei recentemente as ruinas da cidade de Olympia na Grécia, berço dos Jogos Olímpicos que agora se aproximam em Londres, e em 2016 aqui no nosso Rio de Janeiro, onde os atletas que buscavam excelência em suas modalides e as venciam eram tratados como semi-deuses! No caso do J.U.C.A. aqui, excelência em que? Em levantamento de latinhas de cerveja e promiscuidade?? Como diz o título, JUCA foi, de fato, o apelido do meu sogro, carinhosamente chamado de Dr. Juquita, ou como o conheceram os meus filhos, o Vovô Juca, pesquisador e cientista mundialmente renomado, educador emérito, filho importante de Guaxupé. Ainda bem que êle não viveu para ver a sua Guaxupé transformada nesse antro que foi o fim-de-semana do outro J.U.C.A. Boa semana a todos.                           
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 22/2012 – Jornal da Região – ANO XIX, No 978 - 15/06/2012).

Nenhum comentário:

Postar um comentário