Thomaz Srougi, diretor geral do Dr. Consulta, e Dr. Cesar Camara, urologista |
“MEDICINA IDEALISTA”
Próximo
à minha casa no Parque das Orquídeas há um Posto Pediátrico de Saúde. Todas as
manhãs, quando saio para a minha caminhada diária, passo por êle. A cena, vista
da rua, normalmente é deprimente... o espaço que dá para ver da rua fica lotado
de mães e pais, quase todos parecendo muito jovens para o serem, com suas
crianças doentes. Na frente do prédio as mães, os pais, e as crianças também se
acumulam... algumas dessas últimas estão lá só porque o irmãozinho ou a
irmãzinha está doente, e portanto correm perigosamente na calçada de uma rua cujo
tráfego pode ser intenso e rápido, sem a supervisão de pais preocupados com o
irmãozinho ou a irmãzinha. Vários carros velhos e judiados estão sempre
estacionados em torno do Postinho... dentro de alguns deles pais dormem
mal-acomodados, tentando se recuperar da viagem que provavelmente começou na
madrugada, para que chegassem cedo o suficiente para ter alguma chance de serem
atendidos. Dentro de outros, mães amamentam, e ainda em outros, avós embalam...
isso tudo lhe parece, leitor, algo justo para uma família que começou a sua
madrugada com uma criança doente em casa? Conversando com a nossa ajudante no
serviço doméstico, proveniente, como tantas dessa mesma classe trabalhadora, de
famílias que se originam no trabalho rural, fica-se sabendo dos muitos meses de
espera por consultas, exames, anos de espera por cirurgias, para quem procura
assistência médica no serviço público. Via de regra, não há alternativa para
essas pessoas, dado aonde chegou o custo atual das consultas, dos serviços, e
dos seguros-saúde aos quais elas não têm condições financeiras de participar.
Aí, conversa-se com alguns médicos da cidade, e fica-se sabendo que um
subconjunto deles se recusa a atender nos Postos de Saúde... outro subconjunto
recusa-se a atender pacientes conveniados em seguros-saúde. Será que os membros
desses subconjuntos estão esquecendo um certo Juramento Socrático inerente à
profissão escolhida? Pensando nisso tudo, lembrei de matéria que vi publicada
no jornal O Estado de São Paulo de 22 de Julho de 2012 sob o título “Médicos do Sírio (Hospital Sírio-Libanês) e do Einstein (Hospital
Albert Einstein) abrem Clínica Particular em Heliópolis (uma favela da Cidade
de São Paulo) : Bem na entrada da favela de Heliópolis,
entre uma agência bancária e uma loja de departamentos, desponta uma clínica
médica que só realiza consultas particulares. Não vale convênio, tampouco
cartão do SUS. Quem passa ali, estranha.
Muitos moradores custam a ter coragem de entrar. Só perdem o medo na medida em
que o boca a boca se espalha ou quando leem um cartaz bem à frente do portão
que informa, em linguagem clara e direta, o valor das consultas: R$ 40 para
clínico-geral e R$60 para qualquer uma das dez especialidades oferecidas, que
pode ser dividido em duas parcelas. "Quem disse que essa população não
pode ir ao médico particular?", questiona o criador do Dr. Consulta,
Thomaz Srougi. Ele se refere ao seu público-alvo: gente sem plano de saúde e
cansada das filas dos postos públicos. O perfil exato dos moradores da maior
favela da cidade. Para atendê-los, a estrutura é simples, porém bem equipada.
Nos consultórios - separados por divisórias de fórmica e com cadeiras de
plástico -, há equipamentos caros, como o usado em exames oftalmológicos e o de
ultrassonografia, além do eletrocardiograma. Em casos mais sérios, em que seja
necessária a internação, os pacientes são encaminhados ao hospital público. O
atendimento é feito por uma dúzia de médicos, todos formados em universidades
conceituadas e integrantes do corpo clínico de hospitais de ponta, como o
Sírio-Libanês e o Albert Einstein. O diretor da clínica, por exemplo, é Cesar
Camara, indicado por Miguel Srougi, um dos urologistas mais conceituados da
cidade e pai de Thomaz. Na quarta-feira passada, Cesar saiu de Heliópolis e
tomou o metro Sacomã em direção ao Sírio, para atender um dos seus pacientes.
Em seu consultório, a consulta custa R$ 450, sete vez o que pagou cada um dos
dez pacientes atendidos naquela tarde. "Engajei-me no projeto porque
consigo garantir um atendimento humanizado. Tem consultas em que levo 40
minutos, mesmo tempo que pratico no consultório particular, o que seria
impossível na realidade dos convênios." Todos os médicos dali já haviam
atendido por planos privados e recebem em Heliópolis o mesmo que ganhariam em
um convênio: cerca de R$ 40 por hora. A diferença é que estão livres das
conhecidas metas de atendimento que encurtam as consultas a cada dia.
"Selecionamos os médicos por esse perfil humanizado. É importante serem
egressos das melhores universidades, mas isso não basta", diz Cesar. De
longe Mesmo que a maioria do
público não se atente ao nome do Sírio-Libanês costurado no jaleco do
urologista - "a população daqui nunca ouviu falar do hospital",
brinca Cesar -, já começa a pipocar por ali um ou outro paciente vindo de
longe. Dia desses, Cesar atendeu um homem que havia se locomovido do Paraíso
(bairro de classe média alta e a pelo menos meia hora de distância, de carro).
Se a pessoa tinha ou não dinheiro para pagar mais pelo atendimento, não
interessa, diz Thomaz. "Essa procura é boa. Sinaliza que há muito espaço
de crescimento." Desde sua inauguração, em agosto de 2011, a clínica tem
crescido 40% por mês e hoje realiza 600 procedimentos a cada 30 dias. A conta
ainda não fecha porque houve investimento de cerca de R$ 1 milhão em estrutura,
mas a receita tem aumentado à medida que a população descobre o local. Dos 300
mil habitantes da microrregião, só 10% conhecem a clínica, segundo pesquisa
encomendada por Thomaz. Nos sonhos do administrador, ele vê uma clínica em cada
um dos 96 distritos da capital. Só para garantir o público, as próximas
unidades devem ser instadas em bairros periféricos, como Itaquera e São Miguel
Paulista, na zona leste. "Inspirei-me em projetos parecidos em países como
Guatemala e México. Testei, adaptei e agora quero crescer, sempre seguindo essa
lógica simples, de gerar renda ao mesmo tempo em que agrego um valor muito
importante à população." Se a moda pega, legal ....e danem-se os convênios
protegidos por políticos ganânciosos .... e o atendimento do SUS.” Aí vai combustível para o
pensamento do nosso futuro Vice-Prefeito, ex-Prefeito Municipal, que sabe bem
das condições sofríveis descritas no texto desta coluna pela população de baixa
renda, êle mesmo um Médico Pediatra. Talvez o modelo da Clínica Dr. Consulta
descrito no Estado de São Paulo atendendo uma das favelas da maior cidade da
América do Sul não funcione exatamente da
mesma forma em uma pequena cidade das Minas Gerais. Mas se servir para colocar
de volta um pouco de “IDEAL” na comunidade médica local, de modo a prover na
nossa cidade uma “MEDICINA (mais) IDEALISTA”, já terá valido a pena. Boa sorte,
Vice-Prefeito Dr. Heber, na orientação e influência sôbre a assistência médica
disponível em nossa cidade… saiba que pode contar com nossa ajuda. Boa semana a
todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor
universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 42/2012 – Jornal da Região
– ANO XIX, No 998 - 02/11/2012).
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