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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MEDICINA IDEALISTA



Thomaz Srougi, diretor geral do Dr. Consulta, e Dr. Cesar Camara, urologista

“MEDICINA IDEALISTA”

 

Próximo à minha casa no Parque das Orquídeas há um Posto Pediátrico de Saúde. Todas as manhãs, quando saio para a minha caminhada diária, passo por êle. A cena, vista da rua, normalmente é deprimente... o espaço que dá para ver da rua fica lotado de mães e pais, quase todos parecendo muito jovens para o serem, com suas crianças doentes. Na frente do prédio as mães, os pais, e as crianças também se acumulam... algumas dessas últimas estão lá só porque o irmãozinho ou a irmãzinha está doente, e portanto correm perigosamente na calçada de uma rua cujo tráfego pode ser intenso e rápido, sem a supervisão de pais preocupados com o irmãozinho ou a irmãzinha. Vários carros velhos e judiados estão sempre estacionados em torno do Postinho... dentro de alguns deles pais dormem mal-acomodados, tentando se recuperar da viagem que provavelmente começou na madrugada, para que chegassem cedo o suficiente para ter alguma chance de serem atendidos. Dentro de outros, mães amamentam, e ainda em outros, avós embalam... isso tudo lhe parece, leitor, algo justo para uma família que começou a sua madrugada com uma criança doente em casa? Conversando com a nossa ajudante no serviço doméstico, proveniente, como tantas dessa mesma classe trabalhadora, de famílias que se originam no trabalho rural, fica-se sabendo dos muitos meses de espera por consultas, exames, anos de espera por cirurgias, para quem procura assistência médica no serviço público. Via de regra, não há alternativa para essas pessoas, dado aonde chegou o custo atual das consultas, dos serviços, e dos seguros-saúde aos quais elas não têm condições financeiras de participar. Aí, conversa-se com alguns médicos da cidade, e fica-se sabendo que um subconjunto deles se recusa a atender nos Postos de Saúde... outro subconjunto recusa-se a atender pacientes conveniados em seguros-saúde. Será que os membros desses subconjuntos estão esquecendo um certo Juramento Socrático inerente à profissão escolhida? Pensando nisso tudo, lembrei de matéria que vi publicada no jornal O Estado de São Paulo de 22 de Julho de  2012 sob o título “Médicos do Sírio (Hospital Sírio-Libanês) e do Einstein (Hospital Albert Einstein) abrem Clínica Particular em Heliópolis (uma favela da Cidade de São Paulo) : Bem na entrada da favela de Heliópolis, entre uma agência bancária e uma loja de departamentos, desponta uma clínica médica que só realiza consultas particulares. Não vale convênio, tampouco cartão do SUS.  Quem passa ali, estranha. Muitos moradores custam a ter coragem de entrar. Só perdem o medo na medida em que o boca a boca se espalha ou quando leem um cartaz bem à frente do portão que informa, em linguagem clara e direta, o valor das consultas: R$ 40 para clínico-geral e R$60 para qualquer uma das dez especialidades oferecidas, que pode ser dividido em duas parcelas. "Quem disse que essa população não pode ir ao médico particular?", questiona o criador do Dr. Consulta, Thomaz Srougi. Ele se refere ao seu público-alvo: gente sem plano de saúde e cansada das filas dos postos públicos. O perfil exato dos moradores da maior favela da cidade. Para atendê-los, a estrutura é simples, porém bem equipada. Nos consultórios - separados por divisórias de fórmica e com cadeiras de plástico -, há equipamentos caros, como o usado em exames oftalmológicos e o de ultrassonografia, além do eletrocardiograma. Em casos mais sérios, em que seja necessária a internação, os pacientes são encaminhados ao hospital público. O atendimento é feito por uma dúzia de médicos, todos formados em universidades conceituadas e integrantes do corpo clínico de hospitais de ponta, como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein. O diretor da clínica, por exemplo, é Cesar Camara, indicado por Miguel Srougi, um dos urologistas mais conceituados da cidade e pai de Thomaz. Na quarta-feira passada, Cesar saiu de Heliópolis e tomou o metro Sacomã em direção ao Sírio, para atender um dos seus pacientes. Em seu consultório, a consulta custa R$ 450, sete vez o que pagou cada um dos dez pacientes atendidos naquela tarde. "Engajei-me no projeto porque consigo garantir um atendimento humanizado. Tem consultas em que levo 40 minutos, mesmo tempo que pratico no consultório particular, o que seria impossível na realidade dos convênios." Todos os médicos dali já haviam atendido por planos privados e recebem em Heliópolis o mesmo que ganhariam em um convênio: cerca de R$ 40 por hora. A diferença é que estão livres das conhecidas metas de atendimento que encurtam as consultas a cada dia. "Selecionamos os médicos por esse perfil humanizado. É importante serem egressos das melhores universidades, mas isso não basta", diz Cesar. De longe  Mesmo que a maioria do público não se atente ao nome do Sírio-Libanês costurado no jaleco do urologista - "a população daqui nunca ouviu falar do hospital", brinca Cesar -, já começa a pipocar por ali um ou outro paciente vindo de longe. Dia desses, Cesar atendeu um homem que havia se locomovido do Paraíso (bairro de classe média alta e a pelo menos meia hora de distância, de carro). Se a pessoa tinha ou não dinheiro para pagar mais pelo atendimento, não interessa, diz Thomaz. "Essa procura é boa. Sinaliza que há muito espaço de crescimento." Desde sua inauguração, em agosto de 2011, a clínica tem crescido 40% por mês e hoje realiza 600 procedimentos a cada 30 dias. A conta ainda não fecha porque houve investimento de cerca de R$ 1 milhão em estrutura, mas a receita tem aumentado à medida que a população descobre o local. Dos 300 mil habitantes da microrregião, só 10% conhecem a clínica, segundo pesquisa encomendada por Thomaz. Nos sonhos do administrador, ele vê uma clínica em cada um dos 96 distritos da capital. Só para garantir o público, as próximas unidades devem ser instadas em bairros periféricos, como Itaquera e São Miguel Paulista, na zona leste. "Inspirei-me em projetos parecidos em países como Guatemala e México. Testei, adaptei e agora quero crescer, sempre seguindo essa lógica simples, de gerar renda ao mesmo tempo em que agrego um valor muito importante à população." Se a moda pega, legal ....e danem-se os convênios protegidos por políticos ganânciosos .... e o atendimento do SUS.” Aí vai combustível para o pensamento do nosso futuro Vice-Prefeito, ex-Prefeito Municipal, que sabe bem das condições sofríveis descritas no texto desta coluna pela população de baixa renda, êle mesmo um Médico Pediatra. Talvez o modelo da Clínica Dr. Consulta descrito no Estado de São Paulo atendendo uma das favelas da maior cidade da América do Sul  não funcione exatamente da mesma forma em uma pequena cidade das Minas Gerais. Mas se servir para colocar de volta um pouco de “IDEAL” na comunidade médica local, de modo a prover na nossa cidade uma “MEDICINA (mais) IDEALISTA”, já terá valido a pena. Boa sorte, Vice-Prefeito Dr. Heber, na orientação e influência sôbre a assistência médica disponível em nossa cidade… saiba que pode contar com nossa ajuda. Boa semana a todos.

O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 42/2012 – Jornal da Região – ANO XIX, No 998 - 02/11/2012).

 

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