Ann, Barack e Maya de volta aos EUA com os Dunhams |
Barack, o único estudante negro da classe, no Hawaii |
O Bhagavad Gita, o Alcoorão e a Bíblia, lado a lado...
Barack adolescente, com o Avô Stanley e a Avó Madelyne |
Aos 74 anos, Stanley vem a falecer... |
O Sorriso Cativante de Barack e Maya... sempre envoltos pelo AMOR |
"A HISTÓRIA DE BARACK OBAMA – Parte II"
Damos continuidade nesta semana ao tema da semana passada, transcrevendo
um texto contido em um show de
audiovisuais que relata A História de Barack Obama de u’a maneira tão sublime e
singela que resolvi reproduzi-lo nesta
coluna. Esse texto, cujo autor não é identificado nos audiovisuais, aponta bem
de onde vêm os princípios que regem a vida do homem que ocupa agora pelo quinto
ano o cargo mais importante e influente do mundo. Apenas um endereço eletrônico
de um responsável pela formatação é incluido, e eu o cito aqui (um_peregrino@hotmail.com) no afã de
dar crédito onde crédito é devido.
Paramos na semana passada no ponto em que a
mãe de Barack Obama, Ann Dunham casa-se em segundas núpcias com Lolo
Soetoro, um homem de nacionalidade
Indonésia, que se torna então padrasto de Barack, e o menino ganha também uma meia-irmã, Maya, desse segundo casamento.
Quando o menino completa seis anos a família decide mudar-se do Hawaii para
Jacarta, capital da Indonésia, onde passam a residir em um bairro humilde na periferia da cidade,
sendo os primeiros estrangeiros a morar naquela vizinhança. O menino Barack,
então, desde cedo vê-se desafiado a construir amizades em uma cultura
diferente. Vamos à continuação:
Pela primeira vez Ann tem contato com a
dura realidade das famílias que vivem à margem da sociedade, e a miséria deixa
de ser para ela uma vaga abstração para se tornar algo palpável. Inicialmente,
Ann fornece ajuda a todo pedinte que bate à sua porta, e não tarda para que uma
“caravana de miséria” se forme em frente à
sua casa, obrigando-a a se tornar mais seletiva na sua caridade. Lolo
Soetoro consegue emprego na filial de uma empresa petroquímica norte-americana
e logo é promovido a um posto de chefia. A família muda-se para um bairro
melhor e passam a freqüentar o círculo da alta-sociedade. Enquanto Ann se
integra à realidade do país, intrigada
pela miséria, seu marido torna-se cada vez mais ocidentalizado, freqüenta
campos de golfe e sonha com
mansões, e o consumismo o seduz.
Embora o casal raramente discuta, a cada
momento tem menos assuntos em comum. O silêncio começa a vigorar. Num relacionamento
há dois tipos de silêncio: O primeiro é o silêncio da comunhão, que representa
o encontro do essencial, onde o dois se torna um. Um silêncio que dispensa e
transcende as palavras. E existe um segundo silêncio, que é o silêncio das
palavras não-ditas. O silêncio onde cada parte habita uma ilha própria,
isolada. Um silêncio onde nem as aspirações íntimas, nem os suaves movimentos
da alma são compartilhados. Obama relataria anos mais tarde que sua mãe não
estava preparada para a solidão, e que a solidão constante para ela era como
falta de ar. Mal vai o amor, se não diz tudo. E após seis anos de casamento,
Ann decide se separar.
Conforme Maya anos mais tarde recordaria, sua
mãe, apesar dos dois casamentos desfeitos, em nenhum momento queixava-se da
trajetória de sua vida. Ela sempre procurou poupar os filhos das suas
desilusões amorosas ou possíveis
ressentimentos afetivos. Sabia que o AMOR é maior do que dois
amores fracassados... Nunca na frente dos filhos se queixou do amor ou do
casamento. Longe de lamentar os
relacionamentos desfeitos, agradecia constantemente pelos belos filhos que a Vida lhe concedera. Pequenos
detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que fazem tamanha
diferença... O nosso mal é julgarmos que só as grandes coisas são importantes, quando
é nos detalhes sutis da existência que o
verdadeiro caráter se manifesta. Há quem diga que viver é dançar na corda
oscilante do inesperado.
E o que hão de fazer uma jovem mãe e seus dois pequenos
rebentos numa terra estrangeira? Talvez o melhor a fazer seja retornar ao
primeiro ninho. E Ann compra três passagens de regresso aos Estados Unidos. O
casal Dunham recebe de volta a filha e os dois netos de braços abertos. Pais amorosos
são e sempre serão o porto mais seguro. Mãos
que se tocam, o sorriso fácil e acolhedor, próprio daqueles
que sabem valorizar da vida o essencial... Há momentos de felicidade profunda,
sem motivo, apenas pela gratidão de respirar. A pureza das crianças pequenas, aqueles
que amamos, o sol, a grama, a brisa, o mar... Pai e filha, Mãe e filhos, Avó e
netos, Irmãos... Todas as famílias são iguais, o que muda são as histórias... Certa
vez, escreveu alguém que a verdadeira felicidade reside no seio da família,...
quando há afinidade de sensibilidade e espírito. Em verdade, há momentos felizes.
E a vida continua. Barack Obama, agora com dez anos de idade, é
matriculado numa escola do Hawaii. Ainda tão novo em idade, e tantas mudanças, tantas andanças... É o único estudante negro na
turma de trinta alunos. Enquanto sua mãe, com Maya ao colo, continua empenhada em
projetos sociais pelo mundo, o pequeno Obama passa a morar com os avós e estudar nos EUA. Ao
menos duas vezes ao ano, nas férias de verão e nas festividades de
fim-de-ano, a família toda se reúne. O tempo passa e transforma as crianças em
adolescentes e jovens adultos. Uma família
multirracial, multiétnica, multinacional. Obama, sendo nove anos mais velho, procura auxiliar na educação de sua irmã. Chama sua atenção, toda vez que ela passa tempo demais na frente da televisão. Indica bons livros,
discos, filmes, como todo bom irmão costuma fazer.
Ann, embora passe boa parte
do tempo envolvida em projetos sociais, faz
questão de acompanhar de perto a rotina dos filhos, e cobri-los com todo o seu amor e carinho. Num mundo onde o diferente é olhado com frieza
e desconfiança, ela busca dotar os
filhos de um olhar que acolhe e que é
capaz de enxergar a beleza da variedade. Recorda Barack: “Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam lado a
lado na prateleira...” E escreveu Joseph
Campbell, um dos escritores favoritos de Ann: “Todas
as religiões foram verdadeiras, para o
seu tempo, Quem for capaz de reconhecer o aspecto não perecível da sua verdade
e separá-lo do que é circunstancial, terá apreendido isso.”
Com sua mãe e irmã constantemente viajando, o
porto seguro de Obama são os avós, Sr. Stanley e Sra. Madelyn. Para se entender
um pouco do espírito do casal Dunham, é
preciso recordar a serenidade com que receberam o fato de que sua única filha,
Ann, resolvera se casar com um estudante africano. É preciso lembrar que no início dos anos 1960
o casamento inter-racial era considerado crime em metade dos estados
norte-americanos, e mesmo nos demais
estados, onde era tolerado em lei, como no estado do Hawaii, o casamento entre pessoas brancas e negras não
era visto com bons olhos pela sociedade vigente. No entanto, eles, confiantes na educação que haviam
transmitido, apoiavam sua filha nas suas escolhas pelos caminhos da vida.
E com
pleno amor criaram e acolheram o seu amado neto no modesto apartamento de dois quartos
onde moravam. É nos detalhes sutis da
existência que o verdadeiro caráter se manifesta. O tempo passa, e todos um dia
haveremos de partir... Em fevereiro de 1992,
o Sr. Stanley Dunham morre aos 74 anos de idade. Um pai e um esposo
amoroso. Um avô e “pai” que amou na sua plena capacidade os seus amados netos. A vida não se
mede pela quantidade de anos que se vive..., A vida se mede pela
quantidade de alegria que se distribui, escreveu certa vez um poeta.
Continuamos essa história
na semana que vem. Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da
computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 05/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1011
– 01/02/2013).
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