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quarta-feira, 20 de março de 2013

SAUDOSISMOS E MEDOS NEM SEMPRE SÃO SAUDÁVEIS


Hiper-Conectividade Global


"SAUDOSISMOS E MEDOS NEM SEMPRE SÃO SAUDÁVEIS"

Na semana passada discorri um pouco aqui nesta coluna sobre o poder da INTERNET como agente principal de uma hiper-conectividade entre pessoas, povos, e culturas, e portanto consequente agente promotor de GRANDES mudanças sociais. Falei também sobre o impacto da INTERNET no mundo dos negócios, e a visível correlação entre o seu uso mais intenso, consequência óbvia de um investimento tecnológico mais intenso, e economias fortíssimas existentes e emergentes no espaço global. Sempre que abordo esse tema de avanço tecnológico, exemplificado na coluna da semana passada pela INTERNET, seja como naquele texto, ou em palestras, ou aulas, é inevitável gerar uma certa resistência na audiência. Na minha experiência, essa resistência se origina basicamente em uma única fonte comportamental e de pensamento: a aversão natural a mudanças que permeia a sociedade humana.
Há, no entanto, DUAS formas principais através das quais essa resistência se mostra: a primeira faz com que seus protagonistas se concentrem nos CUSTOS do avanço tecnológico (de todas as espécies, entre eles o financeiro…), esquecendo-se completamente, ou quase completamente, dos BENEFÍCIOS que ele traz, e projetem MEDOS das consequências advindas do avanço tecnológico em questão que supostamente deveriam coibi-lo. A segunda, faz com que seus protagonistas se concentrem em como era o ambiente antes do avanço tecnológico, e projetem SAUDOSISMOS do status-quo, que também sugerem  mudanças “negativas” que supostamente deveriam coibi-lo.
Os tais MEDOS acima citados se manifestam de várias maneiras, e sempre ou quase sempre têm um lado dramático associado a eles. A coluna da semana passada, intitulada “O MUNDO DIGITAL, HIPER-CONECTADO DA INTERNET”, por exemplo, gerou reação quanto ao tempo de exposição à Internet que crianças têm hoje em dia, e vem acompanhado de estudos científicos onde supostamente poderia haver um atraso no desenvolvimento cerebral se aquele tempo de exposição é ilimitado. Eu imagino que esse é um MEDO similar aos que há um tempo atrás temiam consequências nefastas  de um tempo ilimitado ouvindo o rádio, e um pouco depois, assitindo a televisão. Desde que o mundo é mundo, TUDO que é feito sem moderação, TUDO que é exagerado e extremista, e TUDO que não tem supervisão no que diz respeito à educação e formação das crianças, acaba sendo prejudicial. A INTERNET INCLUSIVE!
Quanto aos SAUDOSISMOS mencionados acima, a própria Internet está repleta de coleções de áudio-visuais deles, e alguns são bastante curiosos. Perguntam, por exemplo, como nós, “sessentões”, sobrevivemos sem essa “chatice” do uso obrigatório de cinto de segurança nos automóveis, ou essa “despesa desnecessária” das cadeirinhas de segurança especiais para as crianças pequenas nos automóveis. “Chatice”??... “Despesa desnecessária”???... Não se esqueçam de consultar as estatísticas sobre mortes no trânsito e mortalidade infantil no trânsito antes e depois dos avanços tecnológicos representados pelos cintos de três pontos e as cadeirinhas, quando receberem esses áudio-visuais. Mais relacionados com o nosso tema de base aqui, há os SAUDOSISMOS que falam sobre os brinquedos de madeira ao invés dos computadores, iPods, iPads, e iPhones, e a própria Internet. Aviso aos navegantes: observando as novas gerações eu não vejo nenhuma atrofia cerebral... muito pelo contrário, e eu incluo aí os meus netos, que são expostos a todo esse avanço tecnológico sob o BOM SENSO e MODERAÇÃO de seus pais.
Agora, assumir posições pseudo-científicas antagônicas com respeito ao avanço tecnológico dá IBOPE com os medrosos e saudosistas, e há muitos que as assumem no nosso meio; essas posições podem gerar entrevistas com publicações que predam no controverso, podem facilitar publicações no meio acadêmico do "Publicar ou Morrer"... Mas e dai? Vamos nos privar do avanço tecnológico por medo do "lado obscuro da medalha" que todas as novas tecnologias apresentam?
Como exemplo, pensemos no automóvel, e no avião... No início do século passado, se quiséssemos ir ao Japão, estaríamos pensando em uma viagem que se mediria em ANOS, cheia de perigos de saúde, riscos de eventos naturais como tempestades marítimas e até ataques potenciais de piratas mal-intencionados, tudo isso pondo em dúvida se chegariamos lá, e também, principalmente, se um dia chegaríamos de volta à casa!... Hoje, sentamos em um automóvel (com o cinto de segurança afivelado…) até o aeroporto mais proximo, e aí sentamos em um avião, talvez uma sequência de dois ou três aviões, e em um período que se mede em HORAS (menos de um dia) no qual comemos, assistimos filmes, lemos, dormimos, chegamos a Tokyo! Mas o número de mortes por acidente de automóvel só perde para aquele causado por problemas cardíacos, e os aviões podem ter usos espúrios, como provou o ataque às Torres Gêmeas em New York. Vamos abolir o uso do automóvel e do avião como meios de transporte...?
Quanto à INTERNET, hoje praticamente de TODOS os lugares (inclusive do banheiro, se eu quiser…), eu posso me comunicar COM O MUNDO INTEIRO através de um tablete como um iPad, ou um “telefone esperto” como um iPhone,  conectados à INTERNET através de redes públicas ou privadas, inclusive a rede padrão de telefonia. Eu VEJO meus  filhos e netos que residem no exterior com frequência, através da INTERNET, com sistemas como o Skype ou o FaceTime (a alternativa seria NÃO VÊ-LOS!!).  Apelo novamente para os leitores “sessentões”, como eu; vocês certamente se lembram quando, já adultos, nós todos tinhamos que ir fisicamente  a uma agência da Companhia Telefônica para fazer uma ligação interurbana com uma cidade vizinha, e às vezes até para ligações locais com bairros mais afastados... E ai? Vamos abolir o uso da INTERNET como meio de comunicação...? E como fonte de informação...? Boa e ruim, eu sei, mas mesmo assim, é como eu escrevi na coluna da semana passada... "PÕE NO GOOGLE!!"
Tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim... a sabedoria da vida consiste em aproveitar o que há de bom, e gerenciar o que há de ruim. Atitudes extremistas tanto do lado bom como do lado ruim são perniciosas... "IN MEDIO VIRTUS" (no meio é que está a virtude…),  já dizia o poeta... Em conclusão, não há nada de errado em  sentir saudades do que já passou, mas como algo que já passou... dá até um calorzinho confortável por dentro... E há medos que são úteis, como aquele que se instala quando encontramos um urso, ou um leão, ou uma onça pintada bem brasileira, durante um passeio na floresta.  
Mas quando o MEDO e o SAUDOSISMO nos colocam na contra-mão do avanço tecnológico, é preciso ter cuidado, pois isso não é um bom sinal de adaptabilidade, e o avanço é inexorável. E como disse Darwin : "Não é o mais bonito, nem o mais forte, nem o mais inteligente… mas o mais ADAPTADO que sobrevive!"  Boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 11/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1017 22/03/2013).

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