"RODRIGO
CONSTANTINO – DE VOLTA AO FUTURO"
Rodrigo
Constantino é um economista, e colunista do Jornal O GLOBO. Na era da
informação, obviamente ele também tem o seu blog, onde publica suas colunas (www.rodrigoconstantino.blogspot.com.br).
Sou seu leitor assíduo há já algum tempo, e ele, via de regra, publica textos
sérios e tecnicamente sólidos na sua área de economia, e demonstra uma posição
política consistente em oposição às tendências esquerdistas da atual
administração federal brasileira.
No dia 02 de Abril próximo passado, Rodrigo
Constantino publicou um texto em estilo humorístico, mas de conteúdo bastante
sério. Entrelaçando os enredos da famosa série de filmes “Back to the Future”
(De Volta ao Futuro, título do artigo), dirigida por Robert Zemeckis, e
estrelada por Michael J. Fox e Christopher Lloyd, na qual um carro DeLorean
movido a plutônio se torna u’a máquina do tempo que transporta Fox ao passado,
e… DE VOLTA AO FUTURO; com o do livro 1984 (publicado em 1949) de George
Orwell, no qual uma sociedade no então futuro 1984 é descrita vivendo sob um
governo totalitário e extremista que tudo vê, e tudo decide, deixando nada por
conta dos indivíduos, Rodrigo Constantino proporciona um alerta à população
brasileira sobre os riscos associados às tendências acima mencionadas de uma
maneira inteligente, e perspicaz. Leiam, meus caros leitores e leitoras, e
julguem por vocês mesmo:
De Volta ao Futuro - O ano é 2030. Cheguei aqui
com minha DeLorean, na esperança de encontrar um país mais próspero e livre.
Qual não foi minha surpresa quando dei logo de cara com uma enorme estátua de
Lula! Curioso, perguntei a um transeunte do que se tratava. Um tanto incrédulo
com minha ignorância, o rapaz explicou que era a homenagem ao São Lula,
ex-presidente e “pai dos pobres”. Havia uma estátua dessas em cada cidade
grande do país. Afinal, tínhamos a obrigação de celebrar os 150 milhões de
brasileiros incluídos no Bolsa Família. Após o susto inicial, eu quis saber
quem pagava por tanta esmola, e se isso não gerava uma nefasta dependência do
Estado. O rapaz parece não ter compreendido minha pergunta. Disse que estava
com pressa para entrar na fila do pão, e que seu cartão de racionamento ainda
dava direito a uns bons cem gramas.
Em seguida, vi na televisão de uma loja um
rosto conhecido, ainda que envelhecido. Era o ministro Guido Mantega! E pelo
visto ele ainda era o ministro. Ele estava explicando o motivo pelo qual sua
previsão de crescimento de 5% não se concretizou. A queda de 3% do PIB havia
sido culpa da crise em Madagascar. Mas tudo iria melhorar no próximo ano. Notei
então o preço do aparelho de TV: 100 mil bolívares. Assustado, perguntei ao
vendedor do que se tratava, explicando que eu era de fora. O homem disse que,
em 2022, após a inflação chegar em 20% ao mês, o governo cortou três zeros da
moeda. Pensei logo no bigodudo. Como isso não funcionou, o governo decidiu
adotar o bolívar, moeda comum do Mercosul. Descobri que os países
“bolivarianos” chegaram a adotar o escambo, depois que suas respectivas moedas
perderam quase todo o valor frente ao dólar. A moeda comum foi uma medida
urgente, pois estava difícil efetuar as trocas. O criador de gado argentino
precisava encontrar um produtor de soja brasileiro disposto a trocar o mesmo
valor de gado por soja. Era um caos!
Levantei ainda alguns dados no jornal
“Granma Brasil” (parece que o “controle democrático” da imprensa havia
finalmente passado, e o governo se tornou o dono do único jornal no país). A
inflação oficial era de “apenas” 30%, mas todos sabiam nas ruas que ela era ao
menos o triplo disso. Um centenário Delfim Netto desqualificava os críticos do
Banco Central como “ortodoxos fanáticos”. Não havia mais miserável no Brasil,
pois a linha de pobreza era calculada com base no mesmo valor nominal de 2010.
Mas havia mendigos para todo lado. Um desses mendigos me pareceu familiar. Eu
poderia jurar que era o Mr. X! Mas não poderia ser. Afinal, ele era um dos
homens mais ricos do país, e tinha ótimo relacionamento com o governo. O BNDES
era um grande parceiro seu.
Foi quando decidi ver que fim tinha levado o banco
estatal. Soube que, após o décimo aumento de capital na Petrobras (que agora
importava toda a gasolina vendida), e vários calotes dos “campeões nacionais”,
o BNDES tinha se unido ao Banco do Brasil e à Caixa, esta falida nos escombros
do Minha Casa Minha Vida, para formar o Banco do Povo. O símbolo era uma
estrela vermelha. O Tesouro já tinha injetado mais de US$ 2 trilhões no banco,
para tampar os rombos criados na época da farra creditícia. Especialistas
gregos foram chamados para prestar consultoria.
Com fome, procurei um
restaurante. Todos eram muito parecidos, e tinham a mesma estrela vermelha na
entrada. Soube então que era o resultado de um decreto do governo Mercadante em
2018. Em nome da igualdade, todos os restaurantes teriam que fornecer o mesmo
cardápio pelo mesmo preço. Frango era item de luxo, e custava muito caro.
Continuei faminto.
Veio em minha direção uma multidão de mulheres desesperadas protestando.
Quis saber o que era aquilo, e me explicaram que, em 2014, quase todas as
empregadas domésticas perderam seus empregos por causa de mudanças nas leis.
Havia ficado proibitivo contratá-las. Desde então, elas vagam pelas ruas
protestando e mendigando, sem oportunidades de emprego. “O inferno está cheio
de boas intenções”, pensei. Um rebuliço começou perto de mim, e uma tropa de
choque surgiu do nada e arrastou um sujeito até a cadeia. Descobri que ele foi
acusado de homofobia e enquadrado na Lei Jean Wyllys, pegando 10 anos de prisão
por ter dito abertamente que preferia um filho heterossexual a um filho gay. A
pena foi acrescida de 2 anos pelo uso do termo gay, em vez de “homoafetivo”.
Desesperado com tudo, eu ajustei minha máquina de volta para 2013, decidido a
fazer o que estivesse ao meu limitado alcance para impedir um futuro tão
maldito do meu país.
O estilo humorístico e a qualidade do autor talvez
arrefeçam o impacto da realidade que o texto encerra, mas não deixem, leitores
e leitoras, que eles a mascarem. Essa realidade não é apenas uma questão de
interpretação, ou da opinião de alguns. Não é necessário acreditar no
Constantino, ou no Orwell, ou em mim para vivenciá-la. Basta observar a
história das sociedades de Cuba, e da extinta União Soviética.
No início da
década de 90, a última década do século passado, na esteira dos processos de
“Perestroika” (reestruturação) e “Glasnost” (abertura) lançados por Mikhail
Gorbatchev, e seguidos por Boris Yeltsin, várias famílias russas imigraram para
os Estados Unidos, para juntarem-se a familiares que haviam escapado do jugo
soviético e se radicado na América. Vários centros de recebimento, e orientação
para adaptação desses imigrantes foram montados em vários estados Americanos.
Anos mais tarde, uma porcentagem esmagadora dessas famílias resolveu voltar
para a Russia. Inconformadas e curiosas, autoridades americanas de imigração montaram
um processo de entrevistas de saída para aqueles que retornavam ao país de
origem. A grande maioria dessas pessoas mencionou na entrevista que o fator
principal que os levavam a empreender o retorno à Russia era a existência de
MUITA ESCOLHA na sociedade Americana. Acostumados durante toda a sua vida com
um governo que tomava TODAS as decisões por eles, não haviam conseguido se
adaptar a uma sociedade onde era esperado que eles tomassem suas decisões
individualmente.
Lembremo-nos que se não nós, nossos filhos e netos poderão
estar acordando no Brasil de 2030 descrito pelo Rodrigo Constantino… Boa semana
a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da
computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 15/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1021
– 19/04/2013).
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