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quarta-feira, 17 de abril de 2013

RODRIGO CONSTANTINO – DE VOLTA AO FUTURO







"RODRIGO CONSTANTINO – DE VOLTA AO FUTURO"

Rodrigo Constantino é um economista, e colunista do Jornal O GLOBO. Na era da informação, obviamente ele também tem o seu blog, onde publica suas colunas (www.rodrigoconstantino.blogspot.com.br). Sou seu leitor assíduo há já algum tempo, e ele, via de regra, publica textos sérios e tecnicamente sólidos na sua área de economia, e demonstra uma posição política consistente em oposição às tendências esquerdistas da atual administração federal brasileira.
No dia 02 de Abril próximo passado, Rodrigo Constantino publicou um texto em estilo humorístico, mas de conteúdo bastante sério. Entrelaçando os enredos da famosa série de filmes “Back to the Future” (De Volta ao Futuro, título do artigo), dirigida por Robert Zemeckis, e estrelada por Michael J. Fox e Christopher Lloyd, na qual um carro DeLorean movido a plutônio se torna u’a máquina do tempo que transporta Fox ao passado, e… DE VOLTA AO FUTURO; com o do livro 1984 (publicado em 1949) de George Orwell, no qual uma sociedade no então futuro 1984 é descrita vivendo sob um governo totalitário e extremista que tudo vê, e tudo decide, deixando nada por conta dos indivíduos, Rodrigo Constantino proporciona um alerta à população brasileira sobre os riscos associados às tendências acima mencionadas de uma maneira inteligente, e perspicaz. Leiam, meus caros leitores e leitoras, e julguem por vocês mesmo:
De Volta ao Futuro - O ano é 2030. Cheguei aqui com minha DeLorean, na esperança de encontrar um país mais próspero e livre. Qual não foi minha surpresa quando dei logo de cara com uma enorme estátua de Lula! Curioso, perguntei a um transeunte do que se tratava. Um tanto incrédulo com minha ignorância, o rapaz explicou que era a homenagem ao São Lula, ex-presidente e “pai dos pobres”. Havia uma estátua dessas em cada cidade grande do país. Afinal, tínhamos a obrigação de celebrar os 150 milhões de brasileiros incluídos no Bolsa Família. Após o susto inicial, eu quis saber quem pagava por tanta esmola, e se isso não gerava uma nefasta dependência do Estado. O rapaz parece não ter compreendido minha pergunta. Disse que estava com pressa para entrar na fila do pão, e que seu cartão de racionamento ainda dava direito a uns bons cem gramas.
Em seguida, vi na televisão de uma loja um rosto conhecido, ainda que envelhecido. Era o ministro Guido Mantega! E pelo visto ele ainda era o ministro. Ele estava explicando o motivo pelo qual sua previsão de crescimento de 5% não se concretizou. A queda de 3% do PIB havia sido culpa da crise em Madagascar. Mas tudo iria melhorar no próximo ano. Notei então o preço do aparelho de TV: 100 mil bolívares. Assustado, perguntei ao vendedor do que se tratava, explicando que eu era de fora. O homem disse que, em 2022, após a inflação chegar em 20% ao mês, o governo cortou três zeros da moeda. Pensei logo no bigodudo. Como isso não funcionou, o governo decidiu adotar o bolívar, moeda comum do Mercosul. Descobri que os países “bolivarianos” chegaram a adotar o escambo, depois que suas respectivas moedas perderam quase todo o valor frente ao dólar. A moeda comum foi uma medida urgente, pois estava difícil efetuar as trocas. O criador de gado argentino precisava encontrar um produtor de soja brasileiro disposto a trocar o mesmo valor de gado por soja. Era um caos!
Levantei ainda alguns dados no jornal “Granma Brasil” (parece que o “controle democrático” da imprensa havia finalmente passado, e o governo se tornou o dono do único jornal no país). A inflação oficial era de “apenas” 30%, mas todos sabiam nas ruas que ela era ao menos o triplo disso. Um centenário Delfim Netto desqualificava os críticos do Banco Central como “ortodoxos fanáticos”. Não havia mais miserável no Brasil, pois a linha de pobreza era calculada com base no mesmo valor nominal de 2010. Mas havia mendigos para todo lado. Um desses mendigos me pareceu familiar. Eu poderia jurar que era o Mr. X! Mas não poderia ser. Afinal, ele era um dos homens mais ricos do país, e tinha ótimo relacionamento com o governo. O BNDES era um grande parceiro seu.
Foi quando decidi ver que fim tinha levado o banco estatal. Soube que, após o décimo aumento de capital na Petrobras (que agora importava toda a gasolina vendida), e vários calotes dos “campeões nacionais”, o BNDES tinha se unido ao Banco do Brasil e à Caixa, esta falida nos escombros do Minha Casa Minha Vida, para formar o Banco do Povo. O símbolo era uma estrela vermelha. O Tesouro já tinha injetado mais de US$ 2 trilhões no banco, para tampar os rombos criados na época da farra creditícia. Especialistas gregos foram chamados para prestar consultoria.
Com fome, procurei um restaurante. Todos eram muito parecidos, e tinham a mesma estrela vermelha na entrada. Soube então que era o resultado de um decreto do governo Mercadante em 2018. Em nome da igualdade, todos os restaurantes teriam que fornecer o mesmo cardápio pelo mesmo preço. Frango era item de luxo, e custava muito caro. Continuei faminto.
Veio em minha direção uma multidão de mulheres desesperadas protestando. Quis saber o que era aquilo, e me explicaram que, em 2014, quase todas as empregadas domésticas perderam seus empregos por causa de mudanças nas leis. Havia ficado proibitivo contratá-las. Desde então, elas vagam pelas ruas protestando e mendigando, sem oportunidades de emprego. “O inferno está cheio de boas intenções”, pensei. Um rebuliço começou perto de mim, e uma tropa de choque surgiu do nada e arrastou um sujeito até a cadeia. Descobri que ele foi acusado de homofobia e enquadrado na Lei Jean Wyllys, pegando 10 anos de prisão por ter dito abertamente que preferia um filho heterossexual a um filho gay. A pena foi acrescida de 2 anos pelo uso do termo gay, em vez de “homoafetivo”. Desesperado com tudo, eu ajustei minha máquina de volta para 2013, decidido a fazer o que estivesse ao meu limitado alcance para impedir um futuro tão maldito do meu país.
 O estilo humorístico e a qualidade do autor talvez arrefeçam o impacto da realidade que o texto encerra, mas não deixem, leitores e leitoras, que eles a mascarem. Essa realidade não é apenas uma questão de interpretação, ou da opinião de alguns. Não é necessário acreditar no Constantino, ou no Orwell, ou em mim para vivenciá-la. Basta observar a história das sociedades de Cuba, e da extinta União Soviética.
No início da década de 90, a última década do século passado, na esteira dos processos de “Perestroika” (reestruturação) e “Glasnost” (abertura) lançados por Mikhail Gorbatchev, e seguidos por Boris Yeltsin, várias famílias russas imigraram para os Estados Unidos, para juntarem-se a familiares que haviam escapado do jugo soviético e se radicado na América. Vários centros de recebimento, e orientação para adaptação desses imigrantes foram montados em vários estados Americanos. Anos mais tarde, uma porcentagem esmagadora dessas famílias resolveu voltar para a Russia. Inconformadas e curiosas, autoridades americanas de imigração montaram um processo de entrevistas de saída para aqueles que retornavam ao país de origem. A grande maioria dessas pessoas mencionou na entrevista que o fator principal que os levavam a empreender o retorno à Russia era a existência de MUITA ESCOLHA na sociedade Americana. Acostumados durante toda a sua vida com um governo que tomava TODAS as decisões por eles, não haviam conseguido se adaptar a uma sociedade onde era esperado que eles tomassem suas decisões individualmente.
 Lembremo-nos que se não nós, nossos filhos e netos poderão estar acordando no Brasil de 2030 descrito pelo Rodrigo Constantino… Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 15/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1021 19/04/2013).

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