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quarta-feira, 3 de abril de 2013

VOCÊ É (IN)SUBSTITUÍVEL...?



O retorno negativo é natural... daí a necessidade de promover o retorno positivo para atingir o equilíbrio

"VOCÊ É (IN)SUBSTITUÍVEL...?"

Há no mundo dos negócios uma frase muito usada por chefes, quando querem colocar uma certa pressão em um funcionário que está trabalhando aquém das expectativas: “NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…” A frase é geralmente dita no fim de uma interação, seja ela uma simples conversa informal, ou uma avaliação de progresso de um ou mais projetos em que o funcionário esteja envolvido, ou uma avaliação formal  de características técnicas e comportamentais do funcionário, e é preferencialmente dita quando o chefe já está de saida do ambiente, de costas para o funcionário, para maior impacto. “NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…”; o chefe sai, e as palavras ficam pairando no ar, sobre a cabeça do funcionário como a espada de Damocles.
E essa dinâmica se transporta também até o ambiente familiar… eu já vi mães que, no calor dos afazeres do dia, quando o Joãozinho derruba o Toddy no tapete branco, saem-se com a seguinte “pérola”: “Menino!!! Eu vou matar você e fazer um outro IGUALZINHO a você!!!”… Hmmmm… será? Será que o Joãozinho é, assim… SUBSTITUÍVEL?!
Essa introdução nos leva a pensar na importância de um retorno equilibrado às pessoas quando se tem uma posição de poder sobre elas, como chefe, pai ou mãe, tio ou tia, avô ou avó, amigo(a) mais idoso(a), professor(a), mentor(a), etc. Para ilustrar isso, usarei uma situação comum ao ambiente de trabalho, mas sempre lembrando que o conceito de um “retorno equilibrado” entre o positivo e o negativo é fundamental a qualquer situação de vida em que nos encontremos em uma posição de poder sobre outras pessoas. Vamos lá:
Na sala de reuniões de uma firma multinacional, o Presidente, nervoso, está se dirigindo aos seus Diretores sobre um projeto que não foi bem sucedido. Agita as mãos, mostra gráficos, e olhando diretamente nos olhos de cada um, espumando no canto da boca, ameaça (lá vem ela…) : “NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…”! A frase parece ecoar nas paredes da sala de reuniões em meio ao silêncio sepulcral que se segue. Os Diretores se entreolham, alguns abaixam a cabeça, macambúzios. Ninguém ousa falar nada!
De repente, um braço se ergue pedindo a palavra, e o Presidente já se prepara para triturar o atrevido: “O Senhor tem alguma pergunta??” – “Tenho sim”, diz o Diretor que levantou o braço: “E o Beethoven?” – “O que??”, encara-o o Presidente confuso. O Diretor continua: “O Senhor disse que (lá vem ela…) NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…, portanto eu pergunto: Quem substituiu o Beethoven?” Silêncio total… Aí o Diretor explicou: “Tenho pensado muito sobre a nossa responsabilidade como gestores de pessoas, e acho o momento muito pertinente para falar sobre isso. Afinal, as empresas, inclusive a nossa, falam em descobrir talentos, reter talentos, como valores básicos, mas no fundo, continuam achando que os profissionais são apenas PEÇAS  bem definidas dentro da organização, e que, quando sai um, é só encontrar outro para colocar em seu lugar. Então, eu volto a perguntar: Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Gandhi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico?... Etc.?”
O Diretor fez uma pausa para que aqueles nomes calassem fundo na audiência, e depois continuou: “ Todos esses talentos marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E portanto mostraram, sim, que são INSUBSTITUÍVEIS. Que cada ser humano tem sua contribuição para dar e seu talento direcionado para alguma coisa. Não estaria na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe, em focar no brilho de seus pontos fortes e não utilizar energia sòmente para reparar seus 'erros ou deficiências'? É preciso lembrar que as duas formas de retorno são importantes, (o que chamamos no início deste texto de ‘retorno equilibrado’), positivo para os acertos e o uso brilhante do talento, e negativo para os erros ou deficiências.”
Neste ponto o Diretor fez outra pausa, mas notou que todos em volta da mesa, agora, inclusive o Presidente, estavam atentos ao que ele estava falando, e aí continou: - “Ao buscar esse equilíbrio de retorno, é preciso atentar para o fato de que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN ERA SURDO , se PICASSO ERA INSTÁVEL , se CAYMMI ERA PREGUIÇOSO, se KENNEDY ERA EGOCÊNTRICO, se ELVIS ERA PARANÓICO… O que queremos é sentir o prazer produzido pelas SINFONIAS DE BEETHOVEN, as OBRAS DE ARTE DE PICASSO, os DISCURSOS MEMORÁVEIS DE KENNEDY, e as MELODIAS INESQUECÍVEIS DE ELVIS, resultados de seus TALENTOS. Portanto cabe aos líderes de uma organização mudar o olhar sobre a sua equipe e voltar seus esforços para também descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer BRILHAR O TALENTO de cada um em prol do sucesso de seu projeto.  Se um Gerente, Diretor, ou Presidente, ainda está focado em apenas 'melhorar as fraquezas' de sua equipe, corre o risco de ser aquele tipo de ‘técnico de futebol’, que barraria o Garrincha por ter as pernas tortas; ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola; ou Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos.”
Neste ponto o Diretor fez uma longa pausa, e olhando a sua a volta, reparou que o Presidente e os demais Diretores agora olhavam para baixo pensativos, contemplando a mudança que se fazia aparentemente necessária e urgente nos seus estilos de gerência. O Diretor, então, continuou dizendo: - “Seguindo o raciocínio dessa história, caso pudessem mudar o curso natural, os rios seriam retos não haveria montanhas, nem lagoas nem cavernas, nem homens nem mulheres, nem sexo, nem chefes nem subordinados… Apenas peças SUBSTITUÍVEIS…” E concluiu com a seguinte chave de ouro:
“Não esqueço de quando o Zacarias dos Trapalhões 'foi pra outras moradas'. Ao iniciar o programa seguinte à morte do colega, o Dedé Santana entrou em cena e falou mais ou menos assim: -"Estamos todos muito tristes com a 'partida' de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos:…NINGUÉM…Pois nosso Zaca É INSUBSTITUÍVEL – O jogo de palavras da última frase mostra que aquela frase com a qual iniciamos esta coluna passa a fazer um sentido bem diferente, quando inserimos bem no meio dela o fator individual, o talento individual, o “nosso Zaca”.
Nos cinco anos que antecederam a minha aposentadoria em 2003, fui mentor na multinacional da qual era Vice-Presidente Corporativo de um Programa cujo título era “Já deu um retorno positivo a alguém da sua equipe hoje?”, em que treinávamos gerentes de todos os níveis na importância de um ‘retorno equilibrado”. Sabia que o retorno negativo era natural no curso do trabalho, para manter projetos no trilho, e promover progresso nas carreiras dos membros da equipe. O objetivo era, então, atingir aquele ‘retorno equilibrado’ acima mencionado. Fizemos distintivos significativos que só podiam ser usados no dia em que um retorno positivo acontecia, tanto pelo gerente que o proporcionara, como pelo funcionário que o recebera, e o significado dos distintivos era conhecido por TODOS na firma. Depois do primeiro ano de implementação, um aumento de 30% em média na produtividade da firma foi observado e atribuido à existência do Programa, através de mecanismos de análise projetados com base científica de avaliação.
Concluo a coluna com o seguinte PENSAMENTO, bem inserido no contexto: “No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é… e outras que vão te odiar pelo mesmo motivo. A sabedoria da vida está em acostumar-se a isso, com muita paz-de-espírito e muita auto-confiança”. E para responder à pergunta do título, pergunte aos seus filhos, esposas/maridos, pais e mães se vocês, leitores e leitoras, podem ser substituídos… Acho que todos sabemos a resposta, não é mesmo…? Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 13/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1019 05/04/2013).

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