O retorno negativo é natural... daí a necessidade de promover o retorno positivo para atingir o equilíbrio |
"VOCÊ
É (IN)SUBSTITUÍVEL...?"
Há no mundo
dos negócios uma frase muito usada por chefes, quando querem colocar uma certa
pressão em um funcionário que está trabalhando aquém das expectativas: “NINGUÉM
É INSUBSTITUÍVEL…” A frase é geralmente dita no fim de uma interação, seja ela
uma simples conversa informal, ou uma avaliação de progresso de um ou mais
projetos em que o funcionário esteja envolvido, ou uma avaliação formal de características técnicas e comportamentais
do funcionário, e é preferencialmente dita quando o chefe já está de saida do
ambiente, de costas para o funcionário, para maior impacto. “NINGUÉM É
INSUBSTITUÍVEL…”; o chefe sai, e as palavras ficam pairando no ar, sobre a
cabeça do funcionário como a espada de Damocles.
E essa dinâmica se transporta
também até o ambiente familiar… eu já vi mães que, no calor dos afazeres do
dia, quando o Joãozinho derruba o Toddy no tapete branco, saem-se com a
seguinte “pérola”: “Menino!!! Eu vou matar você e fazer um outro IGUALZINHO a
você!!!”… Hmmmm… será? Será que o Joãozinho é, assim… SUBSTITUÍVEL?!
Essa
introdução nos leva a pensar na importância de um retorno equilibrado às
pessoas quando se tem uma posição de poder sobre elas, como chefe, pai ou mãe,
tio ou tia, avô ou avó, amigo(a) mais idoso(a), professor(a), mentor(a), etc.
Para ilustrar isso, usarei uma situação comum ao ambiente de trabalho, mas
sempre lembrando que o conceito de um “retorno equilibrado” entre o positivo e
o negativo é fundamental a qualquer situação de vida em que nos encontremos em
uma posição de poder sobre outras pessoas. Vamos lá:
Na sala de reuniões de uma
firma multinacional, o Presidente, nervoso, está se dirigindo aos seus
Diretores sobre um projeto que não foi bem sucedido. Agita as mãos, mostra
gráficos, e olhando diretamente nos olhos de cada um, espumando no canto da
boca, ameaça (lá vem ela…) : “NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…”! A frase parece ecoar
nas paredes da sala de reuniões em meio ao silêncio sepulcral que se segue. Os
Diretores se entreolham, alguns abaixam a cabeça, macambúzios. Ninguém ousa
falar nada!
De repente, um braço se ergue pedindo a palavra, e o Presidente já
se prepara para triturar o atrevido: “O Senhor tem alguma pergunta??” – “Tenho
sim”, diz o Diretor que levantou o braço: “E o Beethoven?” – “O que??”,
encara-o o Presidente confuso. O Diretor continua: “O Senhor disse que (lá vem
ela…) NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL…, portanto eu pergunto: Quem substituiu o
Beethoven?” Silêncio total… Aí o Diretor explicou: “Tenho pensado muito sobre a
nossa responsabilidade como gestores de pessoas, e acho o momento muito
pertinente para falar sobre isso. Afinal, as empresas, inclusive a nossa, falam
em descobrir talentos, reter talentos, como valores básicos, mas no fundo,
continuam achando que os profissionais são apenas PEÇAS bem definidas dentro da organização, e que,
quando sai um, é só encontrar outro para colocar em seu lugar. Então, eu volto
a perguntar: Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Gandhi? Frank
Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles?
Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico?...
Etc.?”
O Diretor fez uma pausa para que aqueles nomes calassem fundo na
audiência, e depois continuou: “ Todos esses talentos marcaram a história
fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento
brilhar. E portanto mostraram, sim, que são INSUBSTITUÍVEIS. Que cada ser
humano tem sua contribuição para dar e seu talento direcionado para alguma
coisa. Não estaria na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos
e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe, em focar no
brilho de seus pontos fortes e não utilizar energia sòmente para reparar seus
'erros ou deficiências'? É preciso lembrar que as duas formas de retorno são
importantes, (o que chamamos no início deste texto de ‘retorno equilibrado’),
positivo para os acertos e o uso brilhante do talento, e negativo para os erros
ou deficiências.”
Neste ponto o Diretor fez outra pausa, mas notou que todos em
volta da mesa, agora, inclusive o Presidente, estavam atentos ao que ele estava
falando, e aí continou: - “Ao buscar esse equilíbrio de retorno, é preciso
atentar para o fato de que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN ERA
SURDO , se PICASSO ERA INSTÁVEL , se CAYMMI ERA PREGUIÇOSO, se KENNEDY ERA EGOCÊNTRICO,
se ELVIS ERA PARANÓICO… O que queremos é sentir o prazer produzido pelas SINFONIAS
DE BEETHOVEN, as OBRAS DE ARTE DE PICASSO, os DISCURSOS MEMORÁVEIS DE KENNEDY,
e as MELODIAS INESQUECÍVEIS DE ELVIS, resultados de seus TALENTOS. Portanto
cabe aos líderes de uma organização mudar o olhar sobre a sua equipe e voltar
seus esforços para também descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer BRILHAR
O TALENTO de cada um em prol do sucesso de seu projeto. Se um Gerente, Diretor, ou Presidente, ainda
está focado em apenas 'melhorar as fraquezas' de sua equipe, corre o risco de
ser aquele tipo de ‘técnico de futebol’, que barraria o Garrincha por ter as
pernas tortas; ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola; ou Beethoven
por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos.”
Neste
ponto o Diretor fez uma longa pausa, e olhando a sua a volta, reparou que o Presidente
e os demais Diretores agora olhavam para baixo pensativos, contemplando a
mudança que se fazia aparentemente necessária e urgente nos seus estilos de
gerência. O Diretor, então, continuou dizendo: - “Seguindo o raciocínio dessa
história, caso pudessem mudar o curso natural, os rios seriam retos não haveria
montanhas, nem lagoas nem cavernas, nem homens nem mulheres, nem sexo, nem
chefes nem subordinados… Apenas peças SUBSTITUÍVEIS…” E concluiu com a seguinte
chave de ouro:
“Não esqueço de quando o Zacarias dos Trapalhões 'foi pra outras
moradas'. Ao iniciar o programa seguinte à morte do colega, o Dedé Santana entrou
em cena e falou mais ou menos assim: -"Estamos todos muito tristes com
a 'partida' de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos:…NINGUÉM…Pois
nosso Zaca É INSUBSTITUÍVEL” – O jogo de palavras da última
frase mostra que aquela frase com a qual iniciamos esta coluna passa a fazer um
sentido bem diferente, quando inserimos bem no meio dela o fator individual, o
talento individual, o “nosso Zaca”.
Nos cinco anos que
antecederam a minha aposentadoria em 2003, fui mentor na multinacional da qual
era Vice-Presidente Corporativo de um Programa cujo título era “Já deu um
retorno positivo a alguém da sua equipe hoje?”, em que treinávamos gerentes de
todos os níveis na importância de um ‘retorno equilibrado”. Sabia que o retorno
negativo era natural no curso do trabalho, para manter projetos no trilho, e
promover progresso nas carreiras dos membros da equipe. O objetivo era, então,
atingir aquele ‘retorno equilibrado’ acima mencionado. Fizemos distintivos
significativos que só podiam ser usados no dia em que um retorno positivo
acontecia, tanto pelo gerente que o proporcionara, como pelo funcionário que o
recebera, e o significado dos distintivos era conhecido por TODOS na firma.
Depois do primeiro ano de implementação, um aumento de 30% em média na
produtividade da firma foi observado e atribuido à existência do Programa,
através de mecanismos de análise projetados com base científica de avaliação.
Concluo a coluna com o seguinte PENSAMENTO, bem inserido no contexto: “No mundo
sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é… e outras que vão te
odiar pelo mesmo motivo. A sabedoria da vida está em acostumar-se a isso, com
muita paz-de-espírito e muita auto-confiança”. E para responder à pergunta do
título, pergunte aos seus filhos, esposas/maridos, pais e mães se vocês,
leitores e leitoras, podem ser substituídos… Acho que todos sabemos a resposta,
não é mesmo…? Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da
computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 13/2013 – Jornal da Região – ANO XIX, No 1019 – 05/04/2013).
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