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quarta-feira, 17 de julho de 2013




"AS MANIFESTAÇÕES POPULARES VISTAS DE FORA – Parte I"


No último mes e meio, em que estive fora do Brasil, andando por vários outros países do mundo, e em “férias” deste meu encontro semanal com voces, leitores e leitoras, muita coisa aconteceu por aqui que foi notícia lá fora.  Em particular, as manifestações populares de rua, incluindo o vandalismo aproveitador das reivindicações legítimas, ocuparam as manchetes mundiais.
 
Durante as minhas andanças, já havia decidido reiniciar o nosso contato, leitores e leitoras, com este tema, pois encontrei várias nuances interessantes nas interpretações do que está ocorrendo aqui por outras culturas, principalmente as européias. Dando tratos à bola em como introduzir o tema, me deparei com um artigo muito bom e completo do jornalista Matthias Matussek para a última edição da revista alemã DER SPIEGEL (a semelhança com meu sobrenome é mera coincidência… na verdade a tradução literal do título para o Português é O ESPELHO) que bate em cima da minha visão sobre o assunto, portanto vou traduzi-lo aqui para vocês nesta e na próxima semana, e no fim adiciono alguns comentários pessoais.
 
A tradução do Alemão para o Inglês foi feita por Christopher Sultan, e a tradução do Inglês para o Português é minha. Vamos lá!:
 
Corrupção e Uso Inescrupuloso do Poder: Brasil Mergulha Fundo na Revolta Popular - O Brasil vem apresentando um despertar econômico em anos recentes, mas a democracia tem sofrido para acompanhá-lo. Com uma corrupção política espalhada por toda a parte, protestos públicos surgiram em todo o país, expondo uma classe média enraivecida! "A democracia Brasileira nasceu nos dias em que o futebol Brasileiro estava morrendo". Esse é um título tentador, mas é somente u'a meia verdade. A Seleção Brasileira, na verdade, jogou melhor que o esperado na Copa das Confederações, uma espécia de ensaio para a Copa do Mundo. Mas o futebol Brasileiro tem um caminho mais fácil do que a democracia. Ele tem regras bem definidas, e os resultados são claros. Democracia, no entanto, apresenta uma série infindável de tentativas e êrros, e as regras mudam constantemente.
 
Exposição - Uma regra se destaca acima de todas as outras neste momento no Leblon-Ipanema, o lugar mais caro do Rio de Janeiro, se não de todo o Brasil.  Manifestantes montaram suas tendas em frente à Mansão do Governador, e estão sendo forçados a obedecer o tempo alocado na agenda para discursos, uma versão bem Brasileira do movimento “Occupy”(Ocupar). “Três minutos!”, diz Bruno, o encarregado do cronômetro. Mas, ato contínuo, ele mesmo ignora a regra. No horizonte, no fim da baía, as luzes da Favela do Vidigal aparentam estrêlas, e uma brisa suave vem do mar. O cheiro intenso de um churrasco vem de uma barraquinha próxima. Em frente às tendas, porém, o povo está engajado em debates acalorados – da mesma maneira como em todo o país. O Brasil acordou, e o povo exige ser escutado! Aqui, em particular, o “povo” consiste em alguns estudantes de artes, umas poucas donas de casa, e alguns aposentados… Luiza, por exemplo, é uma cantora de jazz que mora na vizinhança “nouveau-riche” da Barra; Bárbara escreve poesia, e seus pais são professores; Jair, um Rastafari vindo da Bahia jura que “vai morrer pela causa”! Todos aplaudem entusiasticamente, e ainda assim, nenhum deles sabe exatamente o que eles estão reivindicando. Formular as reivindicações parece ser o objetivo do grupo, o qual eles chamam de “Aquarius”. A todos é dada a chance de falar. Um jovem bombeiro, Álvaro, por exemplo, foi preso por alguns dias durante as manifestações que começaram em meados de Junho na prisão de segurança maxima Bangu 1, junto com outros 13 bombeiros. Ele está reivindicando ser re-contratado pelo Corpo de Bombeiros, e também um salário melhor, e treinamento para a Polícia Militar.
 
“Você não pode educar TODA a Humanidade” – “O que??”os outros perguntam estupefatos. Álvaro explica sua fala, dizendo que mais educação melhora as pessoas. “Mas você não pode educar toda a humanidade. Isso levaria ANOS!”, diz Sylvia, uma das donas de casa. A discussão segue intensa, até que o grupo resolve seguir para o próximo ítem. Rodrigo diz que algo precisa ser feito com respeito aos alagamentos constantes no interior do estado. Lúcio quer que os sem-teto sejam autorizados a retornar aos prédios vazios dos quais eles foram expulsos. O aposentado Renato parece apenas interessado em comer suas bananas; enquanto ele come a terceira, Lourdes, do Vidigal, quer que sua casa seja consertada, desde que uma das paredes externas foi danificada por um vizinho durante uma reforma. Em meio a essa colcha de retalhos, um assunto parece mobilizar a todos: eles querem que o Governador explique finalmente  por que o governo está gastando tanto dinheiro na reforma do Maracanã. Representantes haviam inicialmente prometido que nem UM REAL de fundos arrecadados através de impostos seriam usados. Mas agora o governo já investiu centenas de milhões de reais no projeto. Conforme as reivindicações vão sendo listadas, uma coisa fica bastante clara: Democracia é difícil! Mas o grupo também concorda em um tema central: “Futebol é um ÓPIO para o povo, um sinal de imaturidade! Se a Seleção chegar aqui agora em seu ônibus, não se distraiam com isso!”, diz Bruno de maneira sarcástica. Não é sem ironia que as manifestações populares estão tirando vantagem de um Festival do Futebol Brasileiro. E isso certamente também tem a ver com a arrogância dos oficiais da FIFA, que “se refestelam em torno da piscina chique do Copacabana Palace”… É o suficiente para lembrar a todos os presentes de tudo que é ruim sobre o futebol: “corrupção, desperdício, e cinismo”!
 
Vasto e Raivoso – Mas… gastar bilhões em estádios que ninguém precisa, só para fazer uma bela figura na Copa? Por exemplo, a construção de um estádio em Manaus, no coração da Floresta Amazônica, uma cidade que nem tem um time de primeira divisão, e que é tão quente que até o asfalto derrete?? A administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que todos os estados Brasileiros deveriam ter seu próprio estádio, e o governo federal proporcionou recursos generosos para esse projeto – ao invés de investir em escolas, estradas, e hospitáis. Os protestos atuais, vastos e raivosos, são o paralelo Brasileiro da Primavera Árabe de 2011. É um movimento ACÉFALO, organizado através das redes sociais, as quais se constituem em sua força maior. É possível que ele não consiga definir a Política, mas certamente consegue exercer pressão! E mobiliza o povo nas ruas. Começou em São Paulo em 6 de Junho com uma marcha de somente 500 pessoas, protestando contra um aumento nas tarifas de transporte público. Desde então, no entanto, o movimento explodiu em uma conflagração de descontentamento. Em 17 de Junho, 200 mil pessoas marcharam no Rio de Janeiro, em Belém, e outras 20 cidades, e até 20 de Junho em torno de 1 milhão e 400 mil pessoas sairam às ruas em protesto em mais de 120 cidades. Manifestantes dançaram no teto da câmara do Congresso Nacional na capital federal, Brasília, gerando imagens que foram divulgadas em todo o mundo. Elas formam as manchetes de um levante popular que os jornais apresentam com o mesmo orgulho com o qual publicam as vitórias da Seleção! O povo está agitado, e o estabelecimento politico está com medo. A Presidente Dilma Rousseff sentiu na pele a ira do povo: ela foi VAIADA durante o jogo de abertura da Copa das Confederações em meados de Junho, e a sua taxa de aprovação popular caiu 27 pontos desde aquele evento. Em um discurso transmitido pela TV preparado às pressas, ela prometeu reformas profundas, e acenou ao povo com a perspectiva de um referendo (nota do tradutor: na verdade foi um plebiscito… ). Os aumentos nas tarifas de transporte público foram cancelados, assim como foi engavetado um projeto de lei escandaloso que visava dar a legisladores corruptos imunidade judicial. Uma verba nova de 19 Bilhões de Euros (26 Bilhões de Dólares ou ~60 Bilhões de Reais) para o transporte público foi supreendementemente aprovada. E agora, o primeiro legislador corrupto que havia conseguido adiar o seu julgamento por 3 anos, acaba de ser preso. O governo vem literalmente tropeçando em seus próprios passos na pressa de responder à pressão das manifestações…”
 
Vocês já devem estar imaginando para onde o texto está enveredando, mas hoje precisamos parar por aqui… não percam a conclusão na coluna da próxima semana. É bom estar aqui de volta em contato com vocês, leitores e leitoras. Espero que vocês também sintam o mesmo. Boa semana a todos!

O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 22/2013 – Jornal da Região – ANO XX, No 1034 – 19/07/2013).

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