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quarta-feira, 27 de abril de 2011

ADEUS, SYLVIO E HERVÉ...



Vou adiar por uma semana a minha cruzada sobre a (falta de) Educação no Brasil para compartilhar com vocês um pouco desta semaninha danada que não está nem na metade (estou escrevendo na Quarta-feira) e já me custou dois grandes amigos. O primeiro se foi no Domingo, seu nome era Hervé Louis Henry Nouailhetas, e fomos colegas na Escola Politécnica da USP onde concluimos nos idos de 1971 o curso de Engenharia. Hervé, como o nome já deve ter indicado a vocês, era Francês, família européia radicada em São Paulo; eu frequentava a casa dele com uma certa frequência, pois estudávamos juntos algumas das matérias mais avançadas, cujo nível de dificuldade fazia com que lucrássemos mùtuamente de um nível de competição salutar que introduzíamos no método de estudo, fazendo com que aguçássemos nosso conhecimento para suplantar um ao outro, e assim melhor preparar-nos para as provas. Por coincidência uma das irmãs do Hervé, a Yannik, era colega da minha então noiva Maria Cristina Ribeiro do Valle na Biologia da USP. Confiávamos um no outro quanto ao critério de estudo, até demais, como ilustra a seguinte historinha: no quarto ano da EPUSP cursávamos a temida Resistência dos Materiais II; no fim do ano, o exame oral com o Prof. Fusco caiu em uma Segunda-feira, e passamos o fim de semana anterior na casa do Hervé revendo toda a matéria do ano. No Domingo à noite, faltava apenas um ponto a ser coberto: Flambagem de Placas. Eu disse ao Hervé: “Chega!... Estou cansado... e a noiva Cristina está me esperando para jantarmos juntos. Depois, vamos pensar positivamente... não vamos sortear justamente esse ponto. Nós já revimos todo o resto da matéria, e é melhor descansarmos a cabeça para garantir uma boa performance amanhã!” Êle concordou, e assim fizemos; paramos de estudar e eu fui embora. No dia seguinte, no exame, eu (Claudio) fui chamado antes dele (Hervé), sorteei o meu ponto (nem me lembro o que foi...), discorri sobre êle, e passei. Quando chegou a vez do Hervé, êle sorteou o seu ponto: Flambagem de Placas!... e êle ficou de segunda época. Êle nunca me perdoou... até em anos recentes, quando nos encontrávamos no encontro anual da turma êle falava da Flambagem das Placas... Há pouco mais de um ano Hervé foi diagnosticado com um câncer. Êle lutou bravamente contra a doença até o Domingo passado quando ela o levou... quem sabe lá de cima, em um lugar melhor, êle venha a me perdoar. Já baqueado pela perda e essas lembranças, entrei então na Segunda-feira brava, na qual se foi o outro amigo, Sylvio Ribeiro do Valle. Amigo de outra época, de outra fase de vida, mas outro amigo que, como diz o poeta, “é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”. Conheci Sylvio no início do meu relacionamento com Cristina, e consequente vindas a Guaxupé. Havia um respeito mútuo entre o Dr. Sylvio, como ele era conhecido, e o meu sogro, o Dr. José Ribeiro do Valle, conhecido carinhosamente na cidade como Dr. Juquita. Além de um parentesco meio distante, havia um respeito profissional entre os dois médicos, e também algo a ver com uma intervenção médica fundamental, coisa de vida ou morte, do meu sogro por ocasião do nascimento da Cristiane, filha do Sylvio e da Selma. Quando me aposentei e vim residir em Guaxupé, Sylvio cuidava dos meus pais idosos com o carinho e competência com que Sylvio brindava todos que o procuravam, pessoal ou profissionalmente. O Maé, filho do Sylvio e da Selma, trouxe a família mais perto casando com a Cristina, filha da Maria Alice, prima irmã da minha Cristina, e do Celsinho que, com a mesma idade do Sylvio, também nos deixou há poucos meses. O carinho e atenção do Maé, certamente aprendidos dos pais, para conosco, e principalmente com o nosso Caio, foram sempre notáveis e significativos. Aí em 2005 a então Secretária Municipal de Cultura Marta Ferreira me convidou para presidir o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, do qual Sylvio era um dos Conselheiros. Tive então a oportunidade de conhecer melhor o Dr. Sylvio. Homem extremamente sério quanto às suas responsabilidades, e PROFUNDO conhecedor da história de Guaxupé e de sua gente, êle era um verdadeiro facho de luz na escuridão que é o respeito da comunidade Guaxupeana pelo seu patrimônio histórico. Aprendi MUITO com êle, e era até emocionante ver o comprometimento dele com a nossa luta maior para estabelecer um Museu Histórico e Geográfico decente em Guaxupé, algo que pertencia indelèvelmente à memória do meu sogro, como bem documentaram os historiadores Prof. Moacyr Ferreira e Venerando Vieira Ribeiro na sua edição do livro “Guaxupé, Memória Histórica: A Terra e a Gente”, escrito originalmente pelo Dr. Juquita. Lembro-me de um jantar na casa do Sylvio e da Selma onde eu brincava com êle, dizendo que o Museu deveria ser estabelecido na casa dele, tão impressionante era o modo respeitoso e profissional com que ele exibia na casa os artefatos antigos que marcavam a história de sua família. Muitas vezes as reuniões do Conselho precisavam ser em horário comercial, e eu nunca me esqueço do Sylvio chegando correndo, todo vestido de branco, pedindo para que eu movesse os ítens de agenda mais importantes e de decisão para o topo da lista, para que êle pudesse voltar aos seus pacientes; sempre com pressa, mas sempre presente! Adeus, Sylvio e Hervé. O mundo hoje é mais pobre pela sua ausência. Arrumem as coisas lá em cima para quando chegar a nossa hora...
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 16/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 920 – 29/04/2011).

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