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quinta-feira, 5 de maio de 2011

A MORTE DE BIN LADEN


Há duas semanas eu prometi a vocês, leitores, responder certas questões referentes à derrocada da educação pública no Brasil. Na semana passada compartilhei com vocês um pouco da minha tristeza pela perda “fora de hora” de amigos queridos, e prometi outra vez que esta semana eu cumpriria aquela primeira promessa. Porém esta semana ocorreu uma outra morte que ocupou todos os meios de comunicação mundiais: a morte do líder da organização terrorista internacional conhecida como Al Qaeda, o infamemente famoso Osama Bin Laden, pelo seu envolvimento no ataque terrorista que derrubou as torres gêmeas do “World Trade Center” na cidade de New York em 11 de Setembro de 2001, há quase 10 anos atrás. Há no Brasil um velado anti-americanismo que aparece onde se menos espera, e quando se menos espera, algo que se baseia em hipóteses totalmente infundadas sôbre a cultura americana, teorias baratas de conspiração que atraem os ingênuos e os ignorantes. Voltando à tona o assunto do ataque terrorista nesta semana, òbviamente, não faltaram os comentários infelizes daqueles que sem conhecimento de causa acham que o Governo Americano teve algo a ver com aquele atentado terrorista, e outros que jogam no time do “eles mereceram o que tiveram”, gente que nunca conviveu com a cultura americana, mas se julga no direito de achincalhá-la e desrespeitá-la com seu veneninho ignorante. Eu estive mais próximo dos acontecimentos daquele 11 de Setembro de 2001 do que eu gostaria de ter estado, e por isso decidi compartilhar nesta coluna com vocês, leitores, aquele dia e os meses que se seguiram vistos através das minhas lentes. De modo que terei de prometer outra vez retomar o assunto da educação pública no Brasil na semana que vem. Peço desculpas, mas... nao percam! Naquele já longínquo 2001 eu era Professor Titular de Gerência Estratégica de Informação na Faculdade de Administração de Empresas e Economia da Universidade de Delaware; morava na cidade de Wilmington, há 30 km do campus da Universidade na cidade de Newark, ambas no estado de Delaware. A região se localiza na rota da estrada interestadual I-95 que se estende praticamente por toda a costa leste americana, e que naquela regiao liga principalmente a cidade de New York à capital federal dos Estados Unidos, a cidade de Washington, no Distrito de Columbia, que é “incrustado” nos estados americanos de Maryland e Virginia, como o nosso Distrito Federal é “incrustado” no nosso estado de Goiás. A Universidade de Delaware é uma renomada instituição de ensino superior de tamanho médio para os padrões americanos (~20.000 alunos), e atrai estudantes de todos os estados que envolvem aquela região, começando ao Norte pelos estados de New York, New Jersey, e o leste do estado da Pennsylvania, o próprio estado de Delaware, e os estados ao Sul de Maryland e Virginia, além òbviamente da capital federal. A Faculdade onde eu ensinava atraía principalmente estudantes da cidade de New York, dada a forte presença de firmas da indústria financeira naquela cidade. Naquela manhã fatídica de Terça-feira, 11 de Setembro de 2001, eu ensinava uma aula de pós-graduação em Análise de Sistemas das 8 às 10 horas da manhã. Vocês talvez lembrem que o primeiro avião bateu em uma das torres logo após as 8 horas, portanto meus estudantes e eu ficamos totalmente alheios ao que estava ocorrendo até o término da aula às 10 horas. Quando saímos da sala de aula, ficou imediatamente aparente que algo estava errado. O prédio, o campus estavam desertos! Começamos a caminhar, eu e os estudantes, como se estivéssemos em uma cidade-fantasma. Ao longe ouvia-se o som de uma TV que eu sabia ser localizada na sala dos professores. Fomos para lá, a sala estava apinhada de gente, um silêncio sepulcral, todos como que hipnotizados pelas cenas que se repetiam na tela, dos aviões batendo nas torres, e do desabamento das torres que naquela hora já havia ocorrido. Duas das minhas alunas eram de New York, uma perdeu um irmão, e outra um tio e um primo na tragédia. Três outros alunos da classe eram estudantes estrangeiros, todos os três islamitas. Algum de vocês pode imaginar o que ocorreu na minha aula seguinte, na Quinta-feira dia 13? Pois é, para o restante daquele ano viramos mentores, psicólogos improvisados, tentando ajudar aqueles que perderam entes queridos na tragédia, a conviver com a dura realidade do ocorrido, e a continuar a conviver com seus colegas islamitas. Foram horas duras, emocionais. Para trazer o evento um pouco mais próximo ao coração, meu caçula já morava e trabalhava em New York, e o faz até hoje, agora com sua família. Ele, graças a Deus, não trabalhava nas torres, mas trabalhava próximo a elas, e as horas que se passaram até que ele pudesse nos informar que estava bem foram quase insuportáveis. O então senador democrata por Delaware Joseph Biden, hoje Vice Presidente dos Estados Unidos, graduou pela Universidade de Delaware, e veio pessoalmente conduzir uma vigília no campus em respeito aos que pereceram, e os membros de suas famílias que pertenciam aos corpos dicente e docente da Universidade; ele era visitante frequente no campus e honrava muito sua ligação com a Universidade (é, o senado americano é sério, não é o circo que se vê aqui quando se liga a TV Senado...).  Adeus, Bin Laden, você já foi tarde. Acho que as 4 mil almas que pereceram no ataque terrorista e suas famílias hoje descansam mais em paz. O que se faz aqui, paga-se aqui mesmo!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 17/2011 – Jornal da Região – ANO XVII, No 921 – 06/05/2011).

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