"GO BLUE!!"
Está um frio danado em New York... -10 graus Celsius, quando saí de manhã para levar meu neto Sebastian à escola. Estávamos todos, porém, ainda com os corações aquecidos pela brilhante vitória do nosso time de futebol universitário da Universidade de "Michigan" na "Sugar Bowl". A esta altura a grande maioria de vocês, leitores, estão pensando: "o que será que deu no Spiguel... enlouqueceu?" Não... estou falando de Futebol Americano, um esporte que ainda tem muito pouca penetração no Brasil, mas que está ganhando mais e mais audiência através da televisão por satélite. Nesta época de fim-de-ano, esse esporte atinge um ápice incrível nos Estados Unidos: os times profissionais aproximam-se das chamadas "playoffs" em Janeiro, ou seja, os melhores times das várias Conferências Profissionais enfrentam-se para determinar os dois melhores times do ano que se enfrentarão na famosa "SUPER BOWL" no início de Fevereiro. E o Futebol Universitário, berço de alimentação do Futebol Profissional, atinge o seu ápice nas duas semanas que envolvem o Primeiro do Ano, chamadas de "Bowl Weeks", ou seja, Semanas das "Bowls", onde os melhores times das Conferências Regionais se enfrentam determinando os melhores times do país, e um Campeão Nacional, e esses resultados influenciam significativamente o atrativo dos vários programas esportivos das Universidades no recrutamento dos jogadores que se destacaram no esporte no nível do colegial, e os recursos gerados para as Universidades durante os campeonatos que ocorrem no Outono e início do Inverno de cada ano. É u'a máquina extremamente bem-azeitada de real inclusão social, como veremos mais adiante. Mas primeiro é preciso entender o jogo em si, no contexto da cultura americana. Em conversa recente com aquele meu amigo eletrônico... é, aquele mesmo que eu mencionei há alguns meses atrás, quando falei dos nossos patrícios Portugueses ("ORA, POIS...", Jornal da Região – ANO XVIII, No 946 – 28/10/2011), ele declarou achar o jogo "uma estupidez", mas admitiu não entendê-lo. De fato, sem saber o que está acontecendo, não há como considerar o jogo mais do que uma estupidez, portanto prometi a êle que eu tentaria explicar o jogo a êle até Fevereiro próximo, quando estamos programados para nos encontrarmos em Belo Horizonte, e aí êle não será mais meu amigo apenas eletrônico... a função começa aqui: Primeiro vamos esclarecer que história é essa de "BOWL" pra lá, "BOWL" pra cá... a palavra "bowl" significa TIGELA em Inglês, e vem da forma (de tigela...) dos estádios universitários tradicionais. O campo de futebol americano é um retângulo de 100 jardas ou 300 pés de comprimento por 53,33 jardas ou 160 pés de largura (1 jarda = 0,9144 metros), portanto em unidades métricas, 91,44 metros de comprimento por 48,77 metros de largura. O campo em seu comprimento tem duas linhas que o dividem em 3 faixas iguais, e essas linhas são marcadas jarda a jarda. Nas duas "pontas" do retângulo, 10 jardas extras são marcadas ao longo de toda a largura, portanto o retângulo completo tem 120 jardas de comprimento (100 do campo de jogo mais as 10 jardas extras de cada lado). Isso é suficiente para definir o objetivo principal do jogo: cada time de 11 jogadores ataca para um lado do campo (como o nosso futebol...) e o objetivo é levar a bola em forma oval completamente sob contrôle de um dos jogadores do time atacante até a "casa" do outro time, que é a faixa definida pelas 10 jardas extras ao fim do campo de ataque. Para fazer isso, o time que tem a posse da bola tem 4 tentativas para mover a bola pelo menos 10 jardas na direção da "casa" do adversário. Uma vez conseguidas as 10 jardas, o time ganha 4 novas tentativas para mais 10 jardas, e assim por diante. O outro time, é claro, tenta impedir que isso aconteça, e isso significa derrubar o jogador que carrega a bola oval, a tentativa seguinte se iniciando com a bola no ponto onde o joelho, e/ou o cotovelo daquele jogador tocaram o solo. Se, em algum conjunto de 4 tentativas, a bola não é avançada 10 jardas, a posse de bola muda para o outro time, que passa a atacar na direção contrária. A chegada na "casa" do adversário vale 6 pontos. Mais uma coisa: no centro dos lados menores do retângulo completo há um pilar de 10 pés (3,05 metros) de altura que sustenta uma forquilha em forma de U centrada em relação ao campo. Para premiar o time que chega próximo da "casa" do adversário mas está ameaçado de ter de ceder a posse de bola ao outro time, há a possibilidade de um jogador chutar a bola oval e se ela passar por dentro da forquilha, o time ganha 3 pontos. Finalmente, quando um time chega à "casa" do adversário e marca 6 pontos, êle pode ampliar sua vantagem chutando a bola da jarda 3 e se a bola passar pela forquilha, um ponto extra é adicionado para um total de 7 pontos. Êsse é o básico - Lição 1. Nós temos um amigo comum que diz o seguinte: o manual de táticas de ataque do futebol americano tem 500 páginas, e o de táticas de defesa tem 600 páginas. Êle está subestimando... :-)... eu adiciono que o manual de regras do jogo, penalidades, e "otras cositas más" tem 700 páginas. É claro que não descreverei mais do que o básico nesta coluna, e a melhor Lição 2 (e posteriores) será assistir a um jogo comigo ou com qualquer outra pessoa que conheça o jogo a fundo. Deixarei para a semana que vem para descrever com mais espaço como o futebol americano reflete a cultura americana e também o prometido acima do esquema esportivo usado com inclusão social. Mas vou pelo menos iniciar nesta conclusão mencionando o futebol americano universitário como um dos mecanismos que mantêm alunos, formandos, e suas famílias em contato PARA SEMPRE com a instituição que os preparou com conhecimento e treinamento, cérebros e músculos, para a carreira que escolheram. Mencionei há algumas semanas a verdadeira veneração que americanos têm pelas suas Universidades de origem, suas "Alma Matter" ("CRISES E OPORTUNIDADES" - Jornal da Região – ANO XVIII, No 953 – 16/12/2011). O meu relacionamento com a Universidade de Michigan é desse tipo, como ex-aluno de pós-graduação, formando, e professor por tantos anos, reforçado pelo fato dela ser também a "Alma Matter" da minha esposa e filhos. O estádio (em forma de tigela) de futebol da Universidade de Michigan é o maior do país, com 110.000 lugares. Nos últimos 20 anos, TODOS os jogos em casa LOTARAM o estádio. As cores da Universidade são Amarelo e Azul ("Maize and Blue"). A frase "GO BLUE", com a qual o estádio lotado em uníssono motiva o time em dias de jogo é famosa e reconhecida mundialmente. Uma vez usando uma camiseta da Universidade em um metrô de Tokyo, no Japão, um ex-aluno japonês usando o boné da Universidade olhou para mim e com bastante sotaque disse "GO BLUE". Ganhamos a "Sugar Bowl" este ano, um jogo importante... "GO BLUE". Não percam a continuação na próxima semana, e uma boa semana a todos!
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com). (PENSAMENTOS No 01/2012 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 956 – 06/01/2012).
Nenhum comentário:
Postar um comentário