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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

INFRAESTRUTURA E EDUCAÇÃO





"INFRAESTRUTURA E EDUCAÇÃO”
Na semana passada falei um pouco nesta coluna sôbre o estado DEPLORÁVEL em que se encontra a infraestrutura no Brasil, consequência do pouco caso dos servidores públicos brasileiros em retornar em serviços a ENORME carga tributária que incide sobre o cidadão brasileiro. Dei como exemplo descalabros nas áreas profissionais e de transportes, deixando de fora os serviços públicos mais óbvios e mais carentes no nosso país, ou seja, a SAÚDE, a SEGURANÇA, e a EDUCAÇÃO. Talvez subconscientemente eu as tenha deixado de fora para que pudesse comentar sôbre elas mais profundamente em colunas futuras. Esses serviços são os mais básicos de responsabilidade do governo frente à população do país, e são aqueles que em contraste recebem o maior pouco caso dos servidores públicos que os regem. Vou deixar a saúde e a segurança para uma outra oportunidade, sendo que basta abrir os jornais todo dia para sentir a inadequação desses serviços prestados ao povo brasileiro em geral. E também porque no fundo êsses, e todos os outros, se remontam à (falta de) EDUCAÇÃO. Vocês, meus leitores, devem notar que vira e mexe eu retorno a esse tema nesta coluna; meus PENSAMENTOS voam em várias direções, mas acabam voltando à EDUCAÇÃO, não só pelo que ela representa na minha carreira profissional, mas por ter certeza que nela reside a chave, o pré-requisito necessário (mas não suficiente) para a solução de todos os outros problemas nacionais. Já escrevi várias colunas passadas no tema (veja no meu blog: www.pensamentoscs.blogspot.com) e não vou me repetir aqui, mas lembro-me de um desabafo feito por um professor no Rio Grande do Sul há mais ou menos seis meses atrás, que voltou a circular novamente na Internet recentemente, e que retrata bem os absurdos que hoje definem o ambiente educacional no Brasil. Não creio que isso tenha mudado nos últimos seis meses, e se mudou, foi para pior, desde que o investimento é insuficiente, quando não ausente, e por isso o compartilho com vocês. O professor de ensino colegial Maurício Girardi escreve ao colunista Juremir Machado da Silva do Correio do Povo de Porto Alegre (RS) em 16 de Julho de 2011: “Caro Juremir, meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre , onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos. Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos. Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela. Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola. Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo!... tive que comparecer no dia 13/07/11, na 8.ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“???”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil. Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''. Fica cristalina a visão de que, neste país:
1) NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES;
2) NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO;
3) AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM?
Alguns exemplos atuais:
1) Ronaldinho Gaúcho: R$ 1.400.000,00 por mês. Homenageado pela “Academia Brasileira de
Letras"...
2) Tiririca: R$ 36.000,00 por mês. Membro da “Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...
TRADUZINDO: SÓ O SALÁRIO DO PALHAÇO, PAGA 30 PROFESSORES. PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É IMPORTANTE: CONTRATE O TIRIRICA PARA DAR AULAS PARA SEU FILHO.
Um funcionário iniciante de empresa ganha hoje o mesmo salário de um “ACT” ou um professor iniciante, levando em consideração que, para trabalhar na empresa você precisa ter só o fundamental, ou seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado? Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00… Moral da história: Os professores ganham pouco, porque “só servem para nos ensinar coisas inúteis” como: ler, escrever, pensar,formar cidadãos produtivos.”
Vocês leram com carinho essa última frase, a conclusão do Professor Girardi? Voltem lá e leiam outra vez… pausadamente… assimilem o significado de cada palavra. Não há país que sobreviva esse estado de coisas, pois a história do mundo nos mostra que a geração, a evolução, e o domínio do conhecimento estão intimamente ligados à adaptabilidade e à sobrevivência de um povo, formando a mais básica das infraestruturas. O ensino hoje no Brasil, exemplificado pelo desabafo do Professor Girardi, forma em sua grande maioria profissionais incompetentes, e a política assistencialista do governo alia à essa incompetência a preguiça. Professores que estão lendo: contribuir para a formação de profissionais incompetentes e preguiçosos, além de criminoso, tem um custo altíssimo. Sim, porque profissionais incompetentes e preguiçosos matam, pelo mau e irresponsável exercício de suas profissões. Meus exemplos na coluna da semana passada são exemplos claros disso, e vêm acontecendo em todas as áreas com uma frequência assustadora. Como disse Derek Curtis Bok, Presidente da Universidade de Harvard no período de 1971 a 1991, “Se você acha que educação é caro, experimente a ignorância!” Boa semana a todos.
O autor é engenheiro, doutor em ciência da computaçao, professor universitário, e pode ser contactado através do e-mail claudio.spiguel@gmail.com).
(PENSAMENTOS No 06/2012 – Jornal da Região – ANO XVIII, No 961 – 10/02/2012).

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